Terceiro maior produtor leiteiro mundial, o Brasil tem chances de subir ao topo do ranking. A afirmação é do coordenador do centro Insper Agro Global, Marcos Jank. Segundo ele, o país tem uma combinação de recursos naturais, tecnologia e gente que faz com que o agronegócio cresça cerca de 3% ao ano, além de possuir poucos concorrentes externos à vista. “O Brasil tem potencial para ser o maior produtor de leite do mundo”, afirmou, durante palestra que integrou a programação do segundo e último dia do 1º Fórum Nacional do Leite, iniciativa realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite).
Professor sênior de agronegócio no Insper, Jank traçou as principais perspectivas globais para o setor produtivo leiteiro. De acordo com o especialista, os recentes aumentos nos preços do leite são decorrentes da inflação sobre grãos que servem de alimento para o gado. “Particularmente falando da soja e do milho, o aumento desses insumos impacta fortemente o valor do leite. A alta da inflação, dos juros e das taxas de desocupação também são preocupantes. Esses são os fatores de risco que merecem nossa atenção”, indicou.
De acordo com ele, o preço do leite também está sendo afetado por fatores que antes eram desconhecidos ou não aconteciam, como guerras, pandemia e questões climáticas. “Há muitos fatores que antes eram desconhecidos e agora causam impacto. Precisamos atingir padrões internacionais que ofereçam mais uniformidade na produção de leite. Ainda há muitas divergências e diferenças entre produtores. Temos que focar na exportação, não pode ser vista como um mercado do que sobra internamente”, recomendou.
Novos modelos de negócios, investimentos e sustentabilidade
O vice-presidente da Abiogás, Gabriel Kropsch, propôs aos produtores leiteiros o reaproveitamento dos resíduos para produzir biogás. “Reduz o custo e ainda gera novas receitas. O biogás contribui de forma extremamente relevante para as metas de descarbonização que são emergentes em todo o mundo. Podemos atacar os gases que prejudicam o efeito estufa gerando um novo negócio”, disse. Segundo Kropsch, o setor leiteiro é o segundo com maior potencial de produção de biogás do Brasil, perdendo apenas para os aterros sanitários. “Tem potencial para gerar 13,7 bi em metros cúbicos de biogás por ano”, destacou.
Os principais produtos de acesso a crédito e investimentos do Banco do Brasil foram apresentados pelo gerente de Soluções da instituição, Giovanni Chaves. Os produtores leiteiros que estavam no Fórum puderam conhecer mais sobre a rede de apoio especializado oferecida pelo banco, que possui mais de 4 mil pontos de atendimentos no país inteiro. Chaves também acrescentou que a meta de empréstimos para a safra 2022/2023 é de R$ 200 bilhões. “Temos linhas de crédito com juros competitivos, tanto para produtores familiares quanto industriais”, afirmou.
O médico veterinário Matheus Balduino, da Rehagro Consultoria, mostrou como os produtores que buscam eficiência estão gerenciando suas propriedades. “Planejamento, ação, monitoramento e ajuste. Quem planeja, às vezes erra, e quem não planeja, às vezes acerta”, afirma. “A fazenda dos sonhos tem negócios lucrativos, caixa estável, busca por tranquilidade e tem estabilidade para sucessão. Tudo isso pode ser alcançado com boas práticas de gestão”, complementou.
Ricardo Nicodemos, da Associação Brasileira do Marketing Rural, explanou sobre as estratégias de comunicação para o leite. “Parece óbvio que o leite de caixinha não brota no mercado, mas ainda precisa ser dito e reforçado que ele vem do trabalho do produtor rural. Essa figura precisa ser valorizada e reconhecida pela sociedade urbana” incentivou, ao recomendar que produtores de leite se comuniquem mostrando tudo que é feito no campo. “Não é só o leite já na caixinha, é interessante mostrar como as vacas vivem, o que comem, por quem são cuidadas”, completa.
O 1º Fórum Nacional do Leite foi realizado em Brasília, nos dias 12 e 13 de julho, reunindo produtores de leite, lideranças do setor, autoridades políticas, pesquisadores, vendedores e compradores de laticínios e derivados. Também houve, paralelamente, a Feira de Queijos Artesanais, com 26 integrantes de associações de produtores, que apresentaram queijos premiados dentro e fora do país.