A agenda desta sexta-feira (4), último dia da missão empresarial do Sebrae em Portugal, foi de diálogo sobre pequenos negócios no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). O evento é fruto de uma parceria entre o Sebrae, a CPLP e o Ministério das Relações Exteriores (MRE). O encontro debateu a realidade do empreendedorismo nos nove países membros e buscou viabilizar acordos e políticas públicas que promovam o crescimento de novos negócios. Atualmente, a CPLP é formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Zacarias da Costa, secretário Executivo da CPLP, destacou que os nove países de língua portuguesa possuem 290 milhões de consumidores e a projeção é chegar aos 500 milhões até o final do século. Juntos, eles representam 8% da superfície continental, mais de 50% dos recursos energéticos do mundo, são o 4º maior produtor de petróleo e concentram 14% das reservas de água doce. “Assistimos uma evolução científica e tecnológica que nos coloca o desafio do desenvolvimento sustentável. A nossa cooperação pode contribuir com a internacionalização de pequenas empresas a fim de geramos mais trabalho, renda e o desenvolvimento social nos países membros”, afirmou Costa.
Os temas e propósitos da presidência angolana foram abordados pelo embaixador Oliveira Encoge, representante Permanente de Angola junto à CPLP. Encoge salientou a importância que as micro, pequenas e médias empresas possuem nas economias dos países membros e a necessidade de aumentar a cooperação multilateral: “Pretendemos contribuir para o desenvolvimento de parcerias empresariais que possam plantar boas sementes em nossos países para que tenhamos um futuro comum de prosperidade”.
Ruy Carlos Pereira, diretor da Agência de Cooperação do MRE, lembrou que há mais de 30 anos, em São Luís do Maranhão, foi pensada a criação da CPLP e, ao longo de três décadas, essa parceria viabilizou diversos projetos voltados para a agricultura, saúde, redução da mortalidade infantil, educação, segurança alimentar e ajuda humanitária. “Nossa força reside na nossa singularidade. Precisamos explorar essas potencialidades para desenvolvermos projetos de economia criativa, fortalecer o diálogo para compartilharmos a governança, o conhecimento e experiências locais. Assim será possível viabilizar o desenvolvimento em cada país.”
Em seu discurso, Carlos Melles, presidente do Sebrae, citou que o Brasil é um dos 10 países mais empreendedores do mundo e relatou o impacto positivo das MPE na economia brasileira e no desenvolvimento social – seja pelo peso no PIB de 30%, pela quantidade de empregos gerados ou pelo marco legal que permite a formalização dos empreendedores, que passam a contribuir para o crescimento econômico. Como exemplo, Melles citou o Programa Brasil Mais, que gerou o aumento de 24% em produtividade e 12% no faturamento das mais de 100 mil empresas integrantes. “O ser humano precisa de uma boa dose de inconformidade. É o inconformismo que nos tira da zona de conforto, nos torna criativo e ajuda a encontrar soluções. Queremos compartilhar o que deu certo no Brasil e contribuir para a melhoria do índice de desenvolvimento humano por meio da concretização de sonhos”, disse Melles.
A última fala do encontro coube a José Roberto Afonso, consultor do Sebrae, resgatando que a revolução digital foi potencializada durante a pandemia de Covid-19. Ele defendeu a necessidade de os pequenos negócios incorporarem a agenda ESG para facilitar a obtenção de investimento estrangeiro, fortalecer a marca em mercados competitivos, e por ser uma condição básica para participar das cadeias produtivas de grandes empresas. “No estágio de maturidade que os empreendedores brasileiros se encontram, a internacionalização é um salto natural. Pelo fato de termos a mesma língua e laços históricos, iniciar esse salto por Portugal e avançar para os países membros da CPLP contribui para estabelecermos parcerias que ajudem a florescer novos negócios e políticas públicas para a promoção do empreendedorismo em toda a região”.
Realidades conectadas
Após a cerimônia da abertura, cada país membro fez uma exposição da realidade local e dos desafios enfrentados pelos empreendedores. Na parte da tarde, uma sessão de trabalho avançou na identificação de possíveis soluções para os problemas apresentados, os entraves para a construção de políticas públicas, a discussão de um projeto de cooperação entre os países membros, além de estratégias para a construção de um fórum das instituições de apoio aos pequenos negócios e de uma agenda positiva de trabalho para os próximos doze meses.
João Martins Dude, diretor na Universidade Federal da Bahia e membro do Conselho Deliberativo do Sebrae na Bahia, fez parte da comitiva do Sebrae e relatou que a produção de conhecimento científico dentro das universidades que não chega ao conhecimento da iniciativa privada e dos empreendedores. Segundo ele, a missão da UFBA é fazer essa aproximação, uma vez que a quantidade de PMEs e profissionais informais no estado é enorme. “Participar da comitiva do Sebrae em Portugal tem sido fundamental para aprendermos com o modelo português e buscarmos nos integrar melhor com os outros países para promover o empreendedorismo”, agradeceu Dude.