O mel que hoje é apelidado de “ouro negro”, pelo seu preço e cor, uma década atrás não tinha valor algum para os apicultores. O mel de melato de bracatinga – que não vem de flores, mas da seiva de uma árvore – hoje é visto como um produto brasileiro único no mundo e cobiçado no exterior.
O Caminhos da Reportagem foi até a região da Serra, em Santa Catarina e ao município de São Joaquim, para conhecer esse mel que conquistou o selo de indicação geográfica (IG), de denominação de origem, que reconhece que características da região são essenciais para o produto, com o nome IG Planalto Sul. O episódio “Sabores do frio serrano” faz parte da série especial Riquezas da Nossa Terra e é uma parceria com o Sebrae sobre produtos brasileiros com Indicação Geográfica (IG). O programa vai ao ar no próximo domingo (30), às 22h, na TV Brasil.
Neste caso, esse mel só é encontrado numa área de 58.987,1 km², abrangendo 107 municípios de Santa Catarina, 12 do Paraná e 15 do Rio Grande do Sul. Isso porque é a região de uma árvore típica do sul do Brasil, a bracatinga, de onde se origina o mel de melato. A planta é infectada por um inseto, a cochonilha, que se alimenta da seiva da planta. Após a digestão, ela é expelida em forma de secreção doce, o melato colhido pelas abelhas, que, a partir daí, fazem o mel.
Estudos feitos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concluíram que o mel de melato de bracatinga tem uma acidez mais elevada, menos glicose e é rico em minerais, como o potássio e o magnésio, o que o diferencia do mel floral. As cochonilhas só expelem quantidade suficiente para fazer o mel a cada 2 anos, o que o torna também um produto mais escasso no mercado, que respeita os processos naturais.
Outras indicações geográficas
A região não tem apenas o mel como produto com indicação geográfica. Ali também é produzido o queijo artesanal serrano, o vinho de altitude e a maçã fuji – todos produtos que também possuem o selo de indicação geográfica, que valoriza e agrega valor a produtos tradicionais de um local.
O primeiro a conquistar o selo foi o queijo artesanal serrano, que obteve a certificação em 2020, com o nome IG Campos de Cima da Serra, na modalidade denominação de origem. A região produz 1,6 toneladas do produto por ano, com faturamento de R$ 21 milhões.
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Na Queijaria Tropeiro Velho, em Capão Alto, o casal de produtores Waschington Cordova Muniz e Jesabel Machado tira o sustento da produção de queijo. “Um sabor mais forte, mais saboroso, quem costuma comer o queijo curado assim é difícil apreciar de novo o queijo normal”, garante Waschington.
A maçã fuji também é destaque e tem o selo de indicação geográfica desde 2021, com o nome IG Região de São Joaquim, na modalidade denominação de origem. Vinda do Japão, se adaptou bem nos municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel. A fruta desses locais tem coloração mais avermelhada, é mais crocante e com maior suculência que outras variedades. A produtora e dona do Colha e Pague Martins, Lilia Martins, conta o diferencial: “quando ela pega geada, forma o pingo de mel dentro da maçã”, o que dá um sabor mais doce à fruta.
Em uma região de serra e frio, quem se adaptou bem por ali foram os vinhos, que também tem o selo de indicação geográfica, a IG Santa Catarina, na modalidade indicação de procedência, que destaca locais que se tornaram conhecidos pela produção desse tipo de produto. O clima da região favorece a concentração de aromas e sabores dos vinhos de altitude.
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Várias vinícolas já se destacam, como a Villaggio Bassetti, em São Joaquim, que aproveitou também o turismo como fonte de renda. “Quando eu comecei a estudar esse assunto, em 2000, a quantidade de turistas na região era em torno de 60 mil pessoas por ano; há três anos, já passava de 200 mil e esse incremento é devido ao vinho”, afirma Eduardo Bassetti, proprietário da vinícola.
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