Os juros altos, o crescimento da inadimplência e a escassa oferta de crédito estão afetando a confiança do empresário. Sinais do ambiente econômico que Henrique Chirichella, dono da Logay, vem sentindo na pele. Voltado para o público LGBTQIA+, o e-commerce de produtos multimarcas de vestuário, cuidados pessoais e acessórios vive um período difícil nas vendas. Para o empreendedor, o impacto dos juros gera um efeito em cadeia, chegando ao cliente. “A gente é afetado diretamente, mas principalmente como consequência dessa reação em cadeia, pois a taxa de juros está ligada ao poder de compra do próprio consumidor. Acho que o varejo está passando por um momento muito delicado no Brasil.”
Henrique não está sozinho nessa percepção do mercado. O Índice de Confiança das Micros e Pequenas Empresas (IC-MPE) contabilizou leve queda em julho, cedendo 0,8 ponto, após dois meses consecutivos em crescimento. O estudo realizado pelo Sebrae em parceria com Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o recuo foi observado principalmente no Comércio (- 2,1 pontos) e na Indústria de Transformação (-2 pontos), embora Serviços (-0,8 ponto) também tenha registrado um desempenho negativo. O IC-MPE é produzido a partir da análise conjunta do Índice de Situação Atual (ISA) e do Índice de Expectativas (IIE) e é composto dos três principais setores da economia – Comércio, Serviços e Indústria de Transformação.
Apesar da recente melhora de alguns indicadores econômicos, a queda no IC-MPE sinaliza que os donos de pequenas empresas ainda estão operando em um ambiente de negócios com dificuldade e seguindo com cautela, especialmente com relação às expectativas de curto prazo, indica a pesquisa conduzida por Sebrae e FGV.
“Os três setores pesquisados registraram queda, o que pode ser considerado como um ‘sinal amarelo’ para o atual ambiente econômico, que apresenta uma alta carga tributária, crescimento da inadimplência, dificuldade de obtenção de crédito e o juro básico, que ainda se encontra em patamar elevado”, analisa o presidente do Sebrae, Décio Lima.
“Mas as medidas que serão adotadas, principalmente, para que o ambiente de negócios se torne mais digital, e, com isso, mais dinâmico, podem dissipar essas incertezas no decorrer dos próximos meses”, argumenta o dirigente.
Comércio
Amargando pouco mais de 2 pontos, caindo para 92,8 pontos, a confiança dos empreendedores do Comércio reduziu após as percepções positivas de maio e junho. Esse resultado advém da piora tanto da percepção da situação atual quanto das expectativas para os próximos meses. De acordo com o levantamento do Sebrae e da FGV, as dificuldades de alcançar um crescimento sustentado na confiança do setor podem ter relação com o elevado endividamento e a inadimplência das famílias, além de um contexto de crédito caro e de difícil acesso.
“A gente está na esperança que o Desenrola Brasil ajude essas pessoas endividadas a terem poder de compra novamente”, comenta Henrique Chirichella, dono da Logay.
Entre os segmentos com pior Índice de Confiança está o de veículos, motos e peças (lojas de autopeças e pequenas revendedoras). O levantamento compreende que essas quedas estão intrinsicamente ligadas à escassez de peças e componentes automotivos, que também impactaram as montadoras, que deram férias coletivas aos seus colaboradores. Já na percepção por região, não há uma linearidade: enquanto o Sul somou 6,1 pontos, Norte/Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste apresentaram queda de 7,4; 5,9 e 1,6 pontos, respectivamente.
Indústria de Transformação
Depois de grande avanço em junho, o Índice de Confiança das Micros e Pequenas Empresas da Indústria de Transformação (MPE-Indústria) regrediu 2 pontos em julho, caindo para 95,3 pontos. A influência negativa se deu, majoritariamente, pelos indicadores de volume de produção, emprego e situação dos negócios para os próximos seis meses. Alimentos, refino e produtos químicos, metalurgia e produtos de metal contribuíram negativamente para a composição final do índice de confiança do setor. Apenas os negócios de vestuário mantiveram o otimismo.
O Sul foi a única região do país a apresentar queda ao analisar o desempenho do IC-MPE. Nesse sentido, a queda do setor só não foi maior porque a região Sudeste avançou 2,6 pontos e Nordeste e Norte/Centro-Oeste avançaram 0,4 ponto.
Serviços
Após cinco altas seguidas, diminuiu em 0,8 ponto a confiança das micro e pequenas empresas do setor de Serviços, batendo os 93,9 pontos, em julho. A pesquisa Sebrae/FGV aponta que o comportamento por segmento foi heterogêneo. Os serviços prestados às famílias tiveram uma retração puxada, em grande parte, pela piora das perspectivas futuras ligadas à apreensão dos empresários com a situação econômica dos consumidores e das taxas de juros ainda elevadas. A queda do setor não foi maior devido à alta da confiança dos serviços de informação e comunicação e serviços de transporte.
Em termos regionais, a confiança do Nordeste e Sul fechou em alta de 5,0 e 1,4 pontos, respectivamente; já a região Norte/Centro-Oeste recuou 3,2 pontos. O Sudeste foi o único que estabilizou, ao recuar 0,1 ponto no mês