Compras online que não chegavam, serviços que se recusavam a cruzar a linha invisível da periferia. Essa era a realidade de Anderson Marcelo, morador de comunidades no Rio de Janeiro. Para muitos, o problema seria um obstáculo intransponível; para ele, porém, foi essa a ideia que deu origem à ‘Delivery das Favelas’, uma startup que não só entrega produtos, mas também dignidade e reconhecimento a milhares de moradores, provando que a inovação pode nascer da exclusão. “Em quatro anos de atividade, temos 0% de sinistro”, comemora o empreendedor.
No próximo dia 4 de novembro, quando é comemorado o Dia da Favela, histórias como a de Anderson são testemunhos da força e da capacidade de inovação que brotam desses territórios. Longe de serem apenas cenários de desafios, as comunidades periféricas do Brasil pulsam com um empreendedorismo vibrante, que transforma adversidades em oportunidades e impulsiona a economia local de formas surpreendentes.

Superação também é a marca da empreendedora May Tully. Ela teve de enfrentar os 164 degraus da comunidade do Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro (RJ), para colocar seu negócio em movimento. May recolhe maquiagens descartadas e as utiliza como matéria-prima para quadros. As embalagens também são reaproveitadas nas criações.
Eu já pintava e comercializava alguns quadros, mas isso era mais um hobby, um desejo, uma vontade. O empreendedorismo mesmo, pensar nisso como um trabalho, como uma formalização, como um projeto maior, foi a partir do momento em que eu sofri um acidente.
May Tully, empreendedora
May passou pelo processo de usar cadeira de rodas, enfrentar cirurgias, se adaptar com muletas e até ficar fora de casa, por não conseguia subir e descer tantos degraus. Para não ficar sem trabalhar, ela transformou o hobby da pintura em negócio.

“Eu aceitei que o meu caminho realmente não era para ter sido na direção que eu vinha desenvolvendo há pelo menos 15 anos, que era no ramo de hotelaria. Fui guardando essa parte artística, social e ambiental lá no fundinho do coração. Então, foi nesse momento que eu vi, através da minha dificuldade, uma oportunidade de eu abraçar esses meus anseios e começar a empreender”, pontua.
Para May, o apoio do Sebrae foi fundamental. “Eu participei de uma aceleração e a oportunidade de aprendizado com os consultores foi fantástica. O Sebrae não me deu só uma apostila para eu ler, os consultores pegaram na minha mão, fizeram junto comigo e acreditaram na minha proposta. Fazer junto com o Sebrae fez muita diferença para mim”, completa.

Segundo a gestora nacional do Programa Plural, Alessandra Ciuffo, as unidades estaduais da instituição em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Espírito Santo são referências nas ações voltadas para o surgimento e fortalecimento de negócios nas comunidades de periferia.
“O Sebrae atua intensamente no desenvolvimento do empreendedorismo em comunidades e favelas, reconhecendo o grande potencial econômico e social desses territórios. As ações são multifacetadas e buscam adaptar as metodologias e ferramentas às realidades locais”, afirma.
O Sebrae não oferece crédito diretamente, mas orienta os empreendedores sobre as linhas de microcrédito disponíveis em bancos comunitários, cooperativas de crédito e outras instituições financeiras que atuam em favelas, facilitando o acesso a capital de giro ou investimento.
Alessandra Ciuffo, gestora nacional do Programa Plural do Sebrae
Segundo a gestora, em alguns projetos o Sebrae atua também como ponte para que grandes empresas estabeleçam parcerias comerciais com negócios de comunidades. Essa atuação pode acontecer na facilitação da compra de insumos, na contratação de serviços ou no apoio ao desenvolvimento de produtos. Outro ponto de destaque está na formalização e simplificação dos negócios.
“O Sebrae tem incentivado o surgimento de negócios que, além do lucro, geram impacto social positivo nas próprias comunidades, como cooperativas de reciclagem, negócios de economia criativa ou soluções para problemas locais”, completa Alessandra.

