Em um mundo onde as mudanças climáticas cada vez mais se impõem sobre a humanidade, a startup baiana i4sea surge como uma referência em soluções inovadoras para a previsão de condições marítimas. Fundada em 2013 por Bruno Balbi, Mateus Lima e Davi Mignac, a empresa começou de forma modesta, como um projeto pessoal voltado para o lazer e com foco na Baía de Todos os Santos e na região costeira do estado. Na época, a empresa se chamava Preamar, criada logo após o trio se formar em oceanografia na Universidade Federal da Bahia.
“Nós sempre surfamos e mergulhamos, por isso, fazíamos a nossa própria previsão para ter assertividade”, relata Mateus Lima, CEO da startup. Pouco tempo depois, eles perceberam que também existia uma demanda de mercado para dados de qualidade de previsão de ondas, ventos e correntes, servindo como suporte na tomada de decisão e aumento da eficiência e segurança das manobras de navios em portos. Em 2016, já com o software i4cast bem desenvolvido, a empresa passou a se chamar i4sea.
O Sebrae veio no hiato entre a Preamar e a i4sea. Por meio do Sebraetec, a instituição acabou atuando como uma investidora, custeando cerca de 70% do desenvolvimento do nosso primeiro produto viável. A partir de então, começamos a dialogar com o mercado, identificando as suas principais ‘dores’.
Mateus Lima, empreendedor.
Os sócios chegaram à conclusão de que o foco da i4sea não deveria ser um sistema de gestão portuária, mas uma solução voltada para a gestão de riscos climáticos. “Em regiões onde as operações portuárias são arrendadas por 30 a 40 anos, a visão de longo prazo se torna essencial. Os portos enfrentam impactos significativos de ondas e condições adversas, e é fundamental que os operadores se preparem para isso”, assegura Lima.
“Em 2017, lançamos o nosso primeiro produto e, em dezembro daquele ano, fechamos nosso primeiro contrato com a Wilson Sons, empresa bastante tradicional no setor portuário e de navegação no Brasil, que atua com excelência há mais de 100 anos e que tem buscado se renovar”, relembra. “Com esse histórico, fechar esse contrato foi bem importante para a gente.”
De lá para cá, a startup foi evoluindo em números de clientes e de regiões, atualmente com o maior market share do setor portuário do Brasil, atendendo grandes empresas de navegação, como Norsul e o Porto de Santos. O mercado de portos, que cresce cerca de 3% ao mês, é um dos focos principais da i4sea, que busca consolidar sua atuação na América Latina, já tendo expandido para países como Peru e Chile.
A i4sea passou também por outras duas iniciativas do Sebrae, como o Projeto Startup Bahia, logo no início, e, em 2023, do Bahia Tech Experience, evento do Sebrae que conecta startups da Bahia a investidores internacionais via apresentação em estandes, pitchs e palestras.
Novos setores
Desde 2020, a i4sea passou a diversificar sua atuação, expandindo para áreas como engenharia costeira e agronegócio. O empreendedor comenta que é possível usar a mesma tecnologia, com modificações no algoritmo. “É aquela estratégia de startup: focamos na conquista de um mercado de mais afinidade e, com o tempo, vamos expandindo o uso da tecnologia para outros setores”, detalha.
A partir do momento em que crescemos no setor costeiro, conseguimos aplicar nossa tecnologia de previsibilidade com machine learning e técnicas próprias, que se somam às modificações do algoritmo de hiper localização para outros mercados.
Mateus Lima, empreendedor.
A empresa identificou que a produção de soja, por exemplo, é fortemente influenciada pelas mudanças climáticas. “Desenvolvemos uma tecnologia que oferece previsões climáticas de 90 dias a um ano, permitindo aos agricultores se prepararem para safras desafiadoras”, diz.
A abordagem no agronegócio começou em novembro de 2023, após meses de conversas com profissionais do setor. A i4sea percebeu que as soluções climáticas disponíveis muitas vezes não atendiam às demandas reais. “Criamos um sistema de hiper localização que fornece previsões detalhadas em uma escala de 1 km, em vez de depender de uma ou mais estações meteorológicas.”
De acordo com Lima, a tecnologia da i4sea combina dados históricos de produtividade agrícola com previsões climáticas, resultando em uma matriz de risco que ajuda os produtores a tomarem decisões com base em informações de qualidade. “Ao cruzar dados de safra e previsões, conseguimos emular cenários e verificar a probabilidade de eventos climáticos”, complementa.
Rios
A companhia tem também um produto para rios, de previsibilidade de seca e inundação, uma resposta à histórica seca em Manaus em 2023. “Essa solução foi projetada para ajudar a cidade a mitigar os impactos climáticos em 2024”, revela.
A capacidade da i4sea de adaptar suas tecnologias às necessidades específicas dos clientes demonstra seu compromisso com a inovação e a eficiência. A i4sea também está se aventurando no setor de energia eólica offshore, com projetos no Mar do Norte e no Báltico, em parceria com empresas como a Vattenfall, uma das maiores do setor na Europa. “Eles contrataram a gente para operar melhor nessas fazendas eólicas”, conta.