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Pequenos produtores recebem selo que reconhece a qualidade do Mel

Trabalho cooperativo e empreendedorismo feminino ficam com o primeiro lugar na categoria Mel Escuro e Mel Claro da premiação concedida pela CNA
Por Redação
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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 350 mil produtores de mel. Um deles é o biólogo Valdinei Conceição, integrante da Associação dos Apicultores da Agricultura Familiar de Corumbá, que ficou em primeiro lugar no Prêmio CNA Brasil Artesanal 2024 – edição mel, na categoria Mel Escuro, com o produto Mel Pantaneiro. O trabalho cooperativo reúne em rótulo único o doce líquido dourado de 15 associados do Mato Grosso do Sul.

“É uma ferramenta para poder inserir o produto da agricultura familiar dentro do mercado”, diz Valdinei, que esteve em Brasília nessa quarta-feira (11), junto com os outros nove pequenos produtores selecionados, entre os 297 inscritos, para receber o reconhecimento da Confederação Nacional dos Agricultores (CNA). Além dos certificados, os três primeiros lugares de cada categoria – Claro e Escuro – receberam também o Selo de Participação Ouro, Prata e Bronze.

No âmbito da parceria com a CNA/Senar e o Juntos pelo Agro, o Sebrae apoia os produtores de diversas cadeias, dentre elas o mel.

Quando a gente fala da apicultura, a gente está falando dos nossos biomas, da qualidade, das IGs [Indicações Geográficas] que nós possuímos. Então acaba simbolizando a tradição, a cultura e o esforço de cada produtor.

Fábio Krieger, gerente de Competitividade Setorial do Sebrae RS

Fábio Krieger. Foto: Larissa Carvalho

De acordo com Cláudia Alves, coordenadora de Agronegócios do Sebrae Nacional, uma premiação desse é o reconhecimento da qualidade do produto. “Ser premiado agrega valor, abre mercado para esse produto e desperta o interesse do consumidor”, afirma. A analista da instituição Andrea Ramirez complementa que o apoio do Sebrae na divulgação de oportunidades como essa é importante para que esses produtos sejam “expostos, degustados e verificados, para que todos saibam que também têm muita qualidade”.

Apoio no processo

“Estar aqui recebendo esse prêmio é um reconhecimento do nosso trabalho, da nossa valorização, de estar inserido dentro desse segmento, com todas as dificuldades que a gente teve”, diz Valdinei ressaltando a importância de parceiros na trajetória da Associação. Entre eles, o Sebrae, que auxiliou na formalização do processo de Responsabilidade Técnica (RT), do caderno de boas práticas e na execução do rótulo.

Valdinei Conceição. Foto: Larissa Carvalho

Localizada no assentamento Taquaral, em Corumbá/MS, a Associação foi criada em 2011 para fortalecer a agricultura familiar e diversificar os modos de produção das pequenas propriedades. Uma das preocupações do grupo, segundo Valdinei, era com a evasão do jovem do campo e eles viram na apicultura uma atividade capaz de gerar recursos para mantê-los no assentamento.

Atualmente, o mel que a associação envaza é produzido por abelhas africanas, da espécie Apis Melífera, mas a vontade de Valdinei é trabalhar com espécies nativas, como a Jataí e a Mandaguari. Ele afirma que no estado existem 55 classes de abelhas e estima que há, ainda, outras não catalogadas. Nesse contexto, o pesquisador alerta para a catástrofe ambiental que atravessa o Planeta, em especial o Pantanal, bioma predominante no Mato Grosso do Sul.

Imagina o quê esse fogo está destruindo. Pode ter espécie lá capaz de produzir um tipo de mel, um tipo de própolis, que pode ser excelente para tratar várias doenças, que a gente não conhece. Falta política pública voltada para esse segmento, para a gente colocar essa atividade em destaque.

Valdinei Conceição, apicultor

Sem legislação específica, os apicultores ficam rendidos e não conseguem diversificar. “Tem a Manduri do Mato Grosso, que é fantástica, mas não tem comércio. A gente não consegue vender o mel, porque não existe uma legislação específica para regulamentar a sua comercialização”, justifica.

Consultorias para manter o legado

Situada a quase 1,8 mil quilômetros de Corumbá, a primeira agroindústria familiar de Jaquirana/RS venceu o primeiro lugar do Prêmio na categoria Mel Claro. À frente da Apicultura do Máximo, a produtora Adriana de Bortoli da Silva celebrou a conquista. “Saber que o nosso mel foi reconhecido e saboreado por vários júris, que conseguiram descobrir o sabor do mel que é lá da nossa região, é muita emoção.”

Andreia conta que o apiário é um sonho que ela realizou junto com o marido, em 2008, mas que desde 2019, após a morte de Luiz Alberto Pinto Júnior, tem sido tocado com a filha. Ela é atendida em um projeto dentro do Programa Juntos para Competir, além de contar com consultorias técnicas e de gestão pelo Sebrae RS e Senar.

Adriana de Bortoli da Silva. Foto: Larissa Carvalho

Meu marido sempre me incentivou também a aprender, a saber fazer. Nós moramos em um lugar que tem bastante mata nativa e a gente sempre gostou de abelha, por ser um inseto que preserva a natureza, que faz com que a natureza sobreviva também. A gente precisa muito das abelhas, então unimos o útil ao agradável.

Adriana de Bortoli da Silva, apicultora

A Apicultura do Máximo foi reconhecida pelo que chamam de “Mel Branco”, obtido através da árvore carne-de-vaca, nativa da Mata Atlântica. “Ele é um mel mais suave. É um produto bem diferente, de uma flor rara de onde é muito difícil colher esse mel, porque ela é muito sensível à temperatura. Então, depende muito do clima, que alterou bastante a nossa produção. As mudanças climáticas também destroem a flor e, aí, a abelha não consegue trabalhar”, detalha.

Vencedores

MEL CLARO
1º Lugar – Apicultura do Máximo (RS)
2º Lugar – Apiário Sul de Minas (MG)
3º Lugar – Apiário Três Coqueiros (SC)
4º Lugar – Apiário Cambará (RS)
5º Lugar – Apiário ApisBc (BA)

MEL ESCURO
1º Lugar – Mel Pantaneiro (MS)
2º Lugar – Tineli Apicultura (SC)
3º Lugar – Apiário Rainha da Serra (SC)
4º Lugar – Apiário Venturin (PR)
5º Lugar – Apiário São José (CE)

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