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Mercado místico usa internet e foca em bem-estar para se renovar

Negócios vão de mapa astral gerado por inteligência artificial a podcast com dicas para signos
Por Com informações da Folha de São Paulo
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“Se na Terra está difícil, na astrologia está melhor. Então, vamos nos iludir todas juntas.” É assim, com humor, que Madama Brona abre o episódio Meu Deus, Meu Senhor, do podcast Horoscopinho Semanal, para o período de 4 a 10 de julho, com as previsões para o signo de sagitário.

A personagem, uma drag astrológica criada pela astróloga e cartomante gaúcha Bruna Paludo, 34, é a cara do misticismo contemporâneo.

Memes, reels no Instagram, dancinhas no TikTok e tweets debochados conquistam uma legião de fãs e fazem girar a roda da fortuna do mercado esotérico. Só nos EUA, são US$ 2,2 bilhões (R$ 11,88 bilhões) movimentados por ano, segundo a consultoria americana IBISWorld.

No Brasil, ainda não existem dados consolidados sobre o setor, mas, também por aqui, o universo conspira a favor dos empresários que trabalham com o misticismo.

Astroinfluencer das mais festejadas, Madama Brona tem quase 400 mil seguidores no Instagram. Advogada de formação, Bruna fez de seu hobby uma profissão em 2017.

Diferentemente das “bruxas” do passado, os atendimentos abertos não são o foco de seu trabalho. Ela tem um grupo de clientes fixos e, de tempos em tempos, consegue espaço na agenda (ou melhor, na fila de espera) para novos consulentes.

Os serviços de Madama Brona se concentram em consultoria, produção de conteúdo, palestras e colaborações com empresas de diversos tamanhos e setores. Ela já foi diretora criativa de uma linha de decoração para casa, ajudou roteiristas na construção de personagens, trabalhou com LinkedIn, Netflix e Gucci.

Mapas personalizados

O interesse das grandes marcas pelas artes ocultas é revelador da efervescência do ecossistema místico. Até os investidores de risco se renderam ao encantamento. No maior aporte já registrado pelo setor, em abril de 2021, o aplicativo americano de horóscopo Co-Star recebeu US$ 15 milhões (R$ 81 milhões) em uma única rodada de investimentos.

Criada em 2017, a startup usa inteligência artificial para produzir mapas personalizados para cerca de 20 milhões de clientes. À frente da empresa está Banu Guler, 34, a quem o mercado apelidou de “Zuckerberg da astrologia”.

Sem informações sobre o setor no Brasil, a evolução do Mercado Místico, um dos maiores maior eventos esotéricos do país, serve de parâmetro para medir os negócios.

O evento, que é comercial, mas também tem apresentações de dança e palestras, foi fundado em 2010, por Márcio Alvarez, 42. Sua última edição, em junho, recebeu 30 mil visitantes. A expectativa é a de que os sete eventos previstos para 2022 movimentem R$ 14 milhões, sete vezes mais do que o faturamento de 2015.

“O público, hoje em dia, está mais espiritualizado e em busca de autoconhecimento e autocuidado”, afirma Wesley Carvalho, 44, produtor do Mercado Místico.

Os dois conceitos são chave para entender a onda esotérica da contemporaneidade. As práticas de hoje têm pouco de adivinhação e previsão do futuro. São instrumentos, defendem os atores do setor, para entender a si próprio, o outro e o mundo. O esoterismo já estava em transformação quando a pandemia lançou a humanidade no caos absoluto, acelerando a ressignificação das crenças.

“O ritual para ganhar dinheiro abriu portas para uma reflexão maior sobre o sentido da vida. Na astrologia, os leitores hoje buscam mais do que um estereótipo de signos, mas entender sua personalidade e padrões de comportamento. A simpatia para atrair amor deu espaço para o autoamor e o empoderamento”, afirma Heloisa von Ah, editora da WeMystic.

Fundada no Porto, em Portugal, em 2015, a plataforma de esoterismo e terapias alternativas hoje está em 21 países. Só no ano passado, no Brasil, a WeMystic registrou cerca de 90 milhões de pageviews.

Esoterismo mais bem-estar

O novo esoterismo mantém relação estreita com a indústria do bem-estar, também hipervalorizada na crise sanitária, lembra o sociólogo Dario Caldas, fundador da consultoria Observatório de Sinais.

Poucos negócios exploram tão bem a convergência entre misticismo, autoconhecimento e bem-estar físico e mental quanto a sextech Climmaxxx, das sócias Larissa Ely, 28, designer, e Marcela Büll, 30, atriz.

Com o slogan “rituais diários de autoamor”, a marca oferece dildos de cristais como ferramentas de conexão da mulher com a própria sexualidade, com promessas que vão muito além do orgasmo.

As peças de quartzo rosa, por exemplo, prometem, segundo a dupla, aumentar a confiança e acabar com vibrações negativas advindas de angústia, raiva, medo, culpa ou ciúmes. Há ainda as de cristal transparente, jaspe vermelha, quartzo verde, cristal de quartzo, entre outras.

Responsáveis por 10% do faturamento mensal de R$150 mil, os sex toys esotéricos custam entre R$ 170 e R$ 480.
Outra área do novo misticismo bastante próspera é a do tarô. Que o diga o designer Henrique Macedo de Oliveira, 33. Há quatro anos, ele deixou a agência de publicidade onde trabalhava para fundar a Pavão Branco, uma das grandes editoras de tarô no país.

O sucesso foi tanto que Henrique passou a vender para o atacado, obteve licença para produzir no Brasil os produtos da gigante californiana Hay House e, em breve, junto com a mulher, Janice, planeja abrir a primeira loja física da Pavão Branco, com espaço para cursos e terapias místicas. No ano passado, a editora faturou R$ 750 mil.

A renovação do esoterismo é liderada por millennials e geração Z. Em movimento global, jovens vêm se afastando de religiões tradicionais, mas não ter uma não significa não acreditar. “Como personalizam listas de músicas no Spotify, customizam a espiritualidade”, diz Caldas.

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