ASN Nacional Atualização
Compartilhe

Girl Power: brasileiras, pesquisadoras e empreendedoras são selecionadas para capacitação internacional da OMPI

Após seletiva com mais de 46 candidatas em 4 países, as duas brasileiras foram escolhidas para se aprofundar na proteção de patentes nas áreas de agronomia e indústria de alimentos e bebidas
Por Redação
ASN Nacional Atualização
Compartilhe

Duas pesquisadoras e empreendedoras brasileiras foram selecionadas pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) para participarem da 2ª fase da capacitação em nível internacional para mulheres com formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) potencializarem sua propriedade industrial e, assim, alavancarem seus negócios. Juliana Teramoto e Manuella Ribeiro estarão ao lado de mulheres do Peru, Chile e República Dominicana para as mentorias, que serão realizadas até o dia 20 de março.

As duas são integrantes do Catalisa ICT, iniciativa coordenada pelo Sebrae para alavancar negócios inovadores que tenham conexão entre pesquisas e empreendedorismo. Elas foram escolhidas a partir de um grupo de 46 mulheres da América Latina. Apenas 10 chegaram à fase de mentoria individual, inclusive as duas brasileiras.

A gestora do Catalisa ICT e analista de inovação do Sebrae, Adriana Dantas, explica que o programa se articula com diversas instituições nacionais e internacionais para dar visibilidade ao projeto. “Em parceria com o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e com a OMPI, o Sebrae recomendou diversas mulheres pesquisadoras empreendedoras que integram o Catalisa ICT. Tivemos a grata surpresa em saber que teremos representantes do nosso país nessa ação global de inovação”, comemora.

“A seletiva mostra o potencial de conexão do Catalisa ICT com todos os atores dos ecossistemas de inovação. Quando organismos internacionais nos escolhem, validam as ações que fazemos para fomentar os negócios. A Juliana tem produtos tecnológicos na área de agronomia e a Manuella em indústria de alimentos e bebidas. Ambas já realizam trabalhos de impacto para a economia brasileira e agora poderão expandir seus horizontes”, completa Adriana.

Conheça o perfil de cada uma das pesquisadoras e empreendedoras selecionadas

Manuella Ribeiro

A engenheira agrônoma Manuella Nóbrega Dourado Ribeiro é professora da UNISO – Universidade de Sorocaba. Atualmente, além de lecionar e orientar na pós-graduação, ela também participa de projetos voltados para pesquisadores.

O interesse pela ciência surgiu já no primeiro ano da universidade, quando Manuella teve iniciação aos estudos da área. Ainda como estudante, ela fez estágios na Espanha (em Genética) e na Holanda (com bactérias ambientais de difícil cultivo). Depois de formada, a pesquisadora fez mestrado na USP no programa de Genética e Melhoramento de Plantas; doutorado no Programa Internacional em Biologia Celular e Molecular Vegetal na USP e Ohio State University, e pós-Doutorado no Instituto de Ciências Biomédicas, Departamento de Microbiologia da USP.

A cientista desenvolveu um estudo sobre a produção de um inoculante – produto que contém grande quantidade de bactérias que fazem bem às lavouras – capaz de aumentar a produtividade do tomateiro. A bactéria estudada é a Methylobacterium, isolada e caracterizada por pesquisadores da USP. Segundo Manuella, o projeto tem como objetivo desenvolver um produto capaz de promover o crescimento da planta a base de bactérias visando a diminuição de doenças, aumentando a qualidade do produto, assim como o aumento da produtividade.

O inoculante produzido fornece hormônios vegetais que induzem o crescimento da planta e nutrientes que elevam a resistência sistêmica, aumentando a tolerância a doenças e pragas e ao estresse hídrico e térmico da planta. A consequência é a redução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas.

Com esse projeto, Manuella foi selecionada como pesquisadora, em parceria com as empresas: BIOTA innovations e DSMA, pela iniciativa do Sebrae Catalisa ICT. Ela participou desde a segunda etapa, na qual aprendeu a estruturar a empresa. Seguiu para a terceira e atual fase, que é para desenvolver e testar, e que termina em maio.

A cientista já teve acesso a consultorias e mentorias sobre como fazer da pesquisa um negócio. “Eu fiz o plano de inovação, recebi uma verba de R$ 150 mil para a bolsa dos pesquisadores e alunos e para comprar insumos”, conta.

A próxima etapa do programa Catalisa-ICT que focará em inovar e escalar será com empresas constituídas. Manuella fundou a MicroGene, empresa de base tecnológica, no final do ano passado. Ela pretende desenvolver tecnologias disruptivas usando produtos biológicos de qualidade na agricultura assim como prestação de serviços de análises complexas nas áreas de Genética e Microbiologia.

Juliana Teramoto

Juliana Rolim Salomé Teramoto é formada em Engenharia Agrônoma com concentração em Economia pela ESALQ/USP. Atualmente, ela participa de dois programas do Sebrae voltados para pesquisas, o Catalisa ICT Aprender e Estruturar e o Catalista ICT Planos de Inovação. O interesse pela ciência veio a partir do trabalho feito em diversas áreas do conhecimento.

Ainda na universidade, Juliana fez estágios onde teve a oportunidade de resolver problemas relacionados a áreas distintas como solo, economia, microbiologia e genética, por exemplo. Ela se formou com uma menção honrosa pelo trabalho desenvolvido de plantio direto com feijão.

Juliana fez doutorado em Alimentos e Nutrição pela FEA/Unicamp; mestrado em Fisiologia e Bioquímica de Plantas pela ESALQ/USP, e se especializou em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ/USP.

Na Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, ela é pesquisadora científica no Instituto Agronômico onde atua na área de Fitoquímica de produtos vegetais. Juliana administra e participa de projetos que visam a melhoria nutricional de produtos da agricultura e resíduos agrícolas. “Minha formação me possibilitou ter uma visão do todo, sou multidisciplinar”, justifica.

Foi dessa mistura de conhecimentos que a cientista desenvolveu um projeto para ajudar pessoas que sofrem com a deficiência de ferro no organismo e anemia por deficiência de ferro. Segundo ela, 25% da população mundial sofre de um desses problemas, sendo a anemia por deficiência de ferro responsável por mais de 50% dos casos de anemias. O problema é que nem todos têm acesso ao tratamento. De olho na segurança alimentar das pessoas, Juliana pensou em como poderia biofortificar as folhas da mandioca, já que é um subproduto. “A mandioca é uma cultura nativa, apresenta baixo custo de produção, é resistente à seca e o Brasil é o quinto maior produtor do mundo”, explica.

Para desenvolver o projeto, a pesquisadora acompanhou o ciclo da cultura e viu que poderia aproveitar as folhas antes de fisiologicamente caírem da planta. No entanto, ela tinha alguns desafios: as folhas são tóxicas e têm muitos fatores antinutricionais. A cientista solucionou esses problemas entrelaçando conhecimentos de fisiologia e bioquímica da planta com aspectos da nutrição humana, e o trabalho desenvolvido obteve resultados positivos.

O teor médio de ferro da folha aumentou de 150 mg/Kg para 5.000 mg/kg. A bioacessibilidade de ferro de vegetais no organismo que normalmente é baixa passou de 2% para 22% com a biofortificação, além do aumento de outros fatores positivos.

Foi com esse projeto que Juliana e sua equipe começaram a participar da iniciativa Catalisa ICT, voltado para pesquisadores empreendedores. Ela ampliou o estudo para o feijão carioca bandinha (quebrado) que é geralmente desclassificado e direcionado para alimentação animal e a folha da batata doce. “A ideia é otimizar os processos, produção e colheita dos materiais e produzir em escala maior”, comenta.

No Catalisa ICT, Juliana tem a oportunidade de participar de eventos e feiras de inovação para mostrar as suas pesquisas. Ela explica que a partir do programa de aceleração, a ideia é poder transferir a tecnologia para pequenos negócios e levar também a pesquisa para fora do país. “O objetivo é aplicar em bases alimentares as farinhas biofortificadas para criar bolachas com maior teor nutricional e macarrão que tem baixo custo e pode atingir um número maior de pessoas”, acrescenta.

Juliana ressalta que não é nada fácil ser cientista no Brasil. Para ela, ainda faltam investimentos na área. A pesquisadora, com bolsa de pesquisadora empreendedora do Sebrae, ressalta que por ser cientista e mulher, ela teve que mostrar em vários momentos que é tão boa quantos os homens.

  • Catalisa ICT
  • empreendedoras
  • Inovação
  • pesquisadoras