O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Segundo dados do governo federal, somente no ano passado, foram exportadas 2,2 milhões de toneladas do produto para 145 países, movimentando cerca de US$ 9,2 bilhões. Apesar do alto valor registrado, esse resultado está abaixo da real capacidade econômica que o café brasileiro pode oferecer. Como uma grande oportunidade para aumentar a renda dos produtores, em especial nas pequenas propriedades rurais, o Sebrae organizou um encontro com as principais lideranças do setor para discutir estratégias de como ampliar a implementação do sistema de Indicação Geográfica, que pode trazer mais valor agregado aos cafeicultores.
O encontro promovido pelo Sebrae aconteceu dentro do 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria, em São Paulo, e marcou o segundo e último dia do evento. Além da participação em painéis e da exibição de cases de ecoinovação, a equipe técnica do Sebrae liderou discussões com parceiros e empresas sobre inovação como instrumento de aumento de produtividade.
A gente acredita que os negócios têm que ter valor. Por isso, nossa agenda aqui tem a ver com a produção de inovação. Se não tiver produtividade, diferenciação e valor, o pequeno negócio enfrentará muitas dificuldades.
Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae.
Competitividade no mercado de café
Para a coordenadora de Negócios de Base Tecnológica e Propriedade Intelectual do Sebrae, Hulda Giesbrecht, um pacto em torno da importância das IGs no mercado de café é fundamental para elevar a competitividade e até o conhecimento a respeito da extensa variedade do café brasileiro no mundo. “Por isso é importante a implementação do sistema e a união dos produtores para que possamos mostrar aos compradores esse café diverso, com qualidade e origem do Brasil”, destaca.
A Indicação Geográfica (IG) é uma espécie de “etiqueta de origem” que garante que alguns produtos, como o café, por exemplo, são produzidos em uma região específica e possuem qualidades e características únicas associadas a essa área, como tradições do cultivo, clima, solo etc. Isso ajuda a destacar esses produtos, enquanto promove o desenvolvimento econômico da região e oferece aos consumidores a confiança de que estão adquirindo produtos autênticos e de alta qualidade ligados àquela localidade.
O sistema chega para operacionalizar, de forma conjunta, todos os critérios que definem as características do café de cada região. O produtor, pelo próprio celular, pode inserir as características e informações de seu café, como área plantada, as práticas de plantio, safra, colheita, entre outros aspectos. A ferramenta possibilita que todos os agricultores façam isso de forma padronizada. Essa metodologia permitirá, entre vários ganhos de qualidade, formalizar ainda mais o setor, obtendo dados importantes sobre a produção em uma escala nacional.
Esse conjunto de dados pode ser uma vitrine para os compradores nacionais e internacionais, facilitando a comercialização.
Hulda Giesbrecht, coordenadora de Negócios de Base Tecnológica e Propriedade Intelectual do Sebrae.
A assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Marina Zimmermann destacou que, durante a reunião, foram discutidas estratégias de fortalecimento das IGs de cafés brasileiros em nível nacional e de marketing internacional. “O fortalecimento da origem dos cafés é condição premente para perpetuação da marca de origem do café brasileiro”, afirma.
Atualmente, existem 15 regiões produtoras de café registradas com Indicação Geográfica, sendo que 14 já fazem parte do sistema. A região do Cerrado Mineiro foi a primeira do Brasil a solicitar e obter a certificação, em 2005, tornando-se uma referência. O Café da Canastra foi a mais recente (reconhecida na semana passada) e, por isso, ainda não ingressou no sistema. Há ainda outras 12 localidades que estão no processo de registro. Mas o potencial brasileiro como produtor de café é significativo, com potencial para chegar a um total de 50 regiões.
Um desses produtores é Juan Travain, que também é presidente da Associação dos Cafeicultores da Região Matas de Rondônia. Há dois anos, eles conquistaram o selo de Indicação Geográfica. Presentes em 15 municípios do estado e com mais de 10,4 mil produtores associados, eles representam 90% da cafeicultura da Amazônia. Travain, que também esteve no encontro, reforça a importância do novo sistema de IG como um diferencial para cafeicultura do Brasil em resposta à visão mundial. “Estamos trabalhando em prol da ferramenta e acreditamos que teremos um crescimento e respeito muito rápido da cadeia, pois são pessoas muito sérias envolvidas e isso traz confiabilidade”, revelou.
Cooperação nacional e internacional pela inovação
Durante todo o Congresso Internacional de Inovação da Indústria, a equipe técnica do Sebrae Nacional discutiu projetos e estratégias de apoio à inovação entre os pequenos negócios com parceiros nacionais e internacionais. Em encontro com a embaixadora da Espanha, Mar Fernández-Palácios, o diretor-técnico do Sebrae, Bruno Quick, explicou os esforços da instituição para desenvolver modelos de negócios sustentáveis e de alto valor agregado. “O Sebrae atua para induzir políticas públicas, superar falhas de mercado, conectar oportunidades e dores e ajudar a revelar uma economia potencial”, explicou, ao apresentar programas como o Inova Amazônia e o Catalisa ICT.
O desafio da sustentabilidade também influencia a prática das grandes empresas. A diretora de Administração e Finanças do Sebrae, Margarete Coelho, explicou à delegação espanhola que o Sebrae está empenhado em internalizar e capilarizar as práticas ESG. Participaram, ainda, o presidente da Câmara Espanhola, Marcos Madureira, o cônsul da Espanha em SP, Pablo Montesino, além das equipes técnicas do Sebrae e da representação espanhola no Brasil.
O debate sobre cooperação pela inovação também contou com representantes do poder público, da iniciativa privada e da academia, que se reuniram com a equipe do Sebrae, liderada pelo diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick. Representantes do BNDES, CNPq, MCTI, Anpei, Finep, Embrapii, Anprotec e ABGI apontaram caminhos para o desenvolvimento econômico por meio da inovação.
“Com a atuação cada vez mais alinhada e consistente de instituições de fomento à pesquisa, financiadores, universidades, governos e o Sebrae, nós podemos elevar o Brasil a um outro patamar, com negócios inovadores e ecossistemas de inovação bem estruturados e prósperos”, afirmou Quick.