O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028 teve lugar de destaque no último dia de programação do Startup Summit 2024, realizado em Florianópolis. A iniciativa é apontada pela comunidade dos ecossistemas de inovação no país como um marco histórico para o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Com um investimento previsto de R$ 23 bilhões em quatro anos, o PBIA tem o objetivo de transformar o país em referência mundial em inovação e eficiência no uso da inteligência artificial, especialmente no setor público.
O plano busca desenvolver soluções em IA que melhorem significativamente a qualidade de vida da população, otimizando a entrega de serviços públicos e promovendo a inclusão social. Para alcançar esses objetivos, o plano prevê a criação de um supercomputador de alta performance, essencial para o processamento de grandes volumes de dados e o desenvolvimento de algoritmos avançados de IA.
Durante debate mediado por Eduardo Curado, gerente de Soluções do Sebrae Nacional, o plano foi apresentado por Henrique de Oliveira Miguel, secretário de Ciência e Tecnologia para a transformação Digital do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, e comentado por Ronan Damasco, diretor nacional de tecnologia da Microsoft e Everton Goursand, coordenador de programas e projetos de transformação digital do MCTI.
A estratégia de Inteligência Artificial do Sebrae é composta por projetos de curto, médio e longo prazo que visam definir e implementar eixos de atuação para fortalecer os pequenos negócios frente aos novos desafios tecnológicos e posicionar o Sistema Sebrae como ator competente na pesquisa, disseminação e aplicação de novas tecnologias em IA.
Eduardo Curado, gerente de Soluções do Sebrae Nacional
Ronan Damasco, da Microsoft, destacou em sua participação que o Brasil já é o segundo país no ranking governamental de oferta de soluções digitais, atrás apenas da Coreia do Sul. Ele alerta, entretanto, que ainda falta levar essa digitalização a todo o país. “Atualmente, a digitalização se dá mais no âmbito federal. Ainda há muito espaço para melhoria em nível de estados e municípios”, considera. “O governo federal tem o maior portal cidadão do mundo. Não há nenhum portal como o nosso. Agora, no Brasil, nós fazemos tudo digitalmente. A gente tem esse complexo ao falar sobre os países adiantados, mas a situação deles não é nada boa quando comparada com a nossa. Aqui nós tiramos passaporte, pagamos nossas contas. E nós temos o orgulho e a honra de poder ajudar o governo nessa jornada”, acrescenta Ronan.
Ele é otimista e acredita que o Plano de Inteligência Artificial Brasileiro vai conseguir democratizar o acesso a essas ferramentas. “A IA é inevitável. A gente tem de correr atrás. Não podemos perder essa oportunidade”, avalia.
O secretário de Ciência e Tecnologia para a transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Henrique de Oliveira Miguel, tratou sobre as possibilidades abertas com a Inteligência Artificial. “Há previsões de que 30% dos empregos serão destruídos com IA, não é isso. A verdade é que a IA traz uma nova oportunidade para todos nós. Esse é o ponto. Então, há necessidade de se despertar, formar, capacitar, requalificar, treinar pessoas como nunca se fez antes”, comentou.
Ele acredita, entretanto, que para o Brasil estar preparado para acompanhar essa transformação, será necessário ampliar os investimentos. “O recurso que nós estamos colocando, na minha avaliação é pouco. A gente precisaria triplicar, quadruplicar… porque nós precisaríamos dar conhecimento nessa área de IA para milhões de pessoas. Não estamos falando aqui formar 5 mil, 10 mil, 20 mil doutores. Nós estamos falando realmente de treinar e requalificar milhões de pessoas, exatamente para suprir a nossa distância de outros países que estão em estágio mais avançado”, acrescentou.
Em sua fala, Everton Goursand, coordenador de programas e projetos de transformação digital do MCTI, destacou que o plano vai tentar fomentar ao máximo, não só do ponto de vista acadêmico, mas também do ponto de vista de mercado, as infraestruturas do país. “Queremos que elas possam ser usadas também pelas empresas, pelas startups, fomentando, normalmente, grandes desafios”, concluiu.
IA brasileira tem mais de uma década
O Centro de Excelência de Inteligência Artificial (Ceia), da Universidade Federal de Goiás, começou os estudos e desenvolvimento de soluções com IA em 2012. O Centro é parceiro do Sebrae para apoiar a entidade em soluções de automatização, projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, além de atender microempresas e startups interessadas em utilizar ferramentas que contribuam para o crescimento dos seus negócios.
O professor Dr. Anderson Soares, fundador do Ceia, finalizou o painel de lançamento do Plano de IA. Ele falou sobre o impacto e as possibilidades da IA nos pequenos negócios brasileiros. Ele mostrou que EUA, China e Espanha foram os países que mais investiram em IA, em 2023. O primeiro com 67,22 bilhões de dólares. A China investiu no ano passado 7,76 bilhões de dólares e a Espanha, 0,36 bi. Na opinião dele, o que nos diferencia, de estar na liderança desse debate é o volume de investimentos.
Soares expõe que a inteligência artificial já está presente na vida de todos que utilizam dispositivos digitais, “mesmo que muitas vezes não percebamos”, diz. “Se você está ouvindo este conteúdo em uma rede social ou em um dispositivo eletrônico, é muito provável que ele tenha sido selecionado para você por uma inteligência artificial. Essas soluções vêm automatizando tarefas, inclusive a escolha do conteúdo que cada pessoa recebe, com base em seus interesses específicos”.
O especialista explica que, atualmente, se observa “um verdadeiro tsunami” de soluções de inteligência artificial que permeiam diversas atividades e produtos econômicos.
À medida que essas tecnologias se desenvolvem, vemos também um aumento na especialização e na customização dos produtos e serviços oferecidos. Entramos na era da hiperpersonalização das relações de consumo e a inteligência artificial permite que as ofertas sejam cada vez mais alinhadas aos interesses individuais dos consumidores.
Anderson Soares, fundador do Ceia
A partir da parceria com o Centro de Excelência de Inteligência artificial, o Sebrae está desenvolvendo oportunidades para desenvolver pesquisas e soluções melhorar os serviços disponibilizados para os pequenos negócios.
- Viabilidade de Acesso
Viabilizar o acesso dos pequenos negócios e aos MEI às novas tecnologias é um dos objetivos do Sebrae para os próximos anos. Isso será feito incorporando IA em parte dos serviços apoiando e fomentando a geração de negócios.
- Fluência em IA
Apoio aos pequenos negócios e ao MEI já estabelecidos e ao público de inclusão produtiva para desenvolver o conhecimento necessário nessa área. Os cursos terão o objetivo de introduzir o tema de forma prática e assertiva para a utilização da IA.
- Oportunidades de Negócios e Competitividade
Mapeamento e apoio à implementação de novas oportunidades de negócio, principalmente para os setores intensivos da cadeia produtiva.
- Fomento a Startups
O Sebrae tem apoiado diversas startups, entre elas várias que trabalham com IA para o desenvolvimento de seus negócios. Entendemos que isso traz um ganho enorme para o país no desenvolvimento de novos negócios.