A justiça climática é, antes de tudo, uma busca por equidade. Trata-se da construção de uma divisão justa dos investimentos e das responsabilidades no enfrentamento da emergência ambiental, guiada pela proteção dos direitos humanos, coletivos e difusos, e pelo reconhecimento das responsabilidades históricas que cada país carrega nas mudanças do clima.
Hoje, o debate climático é também um debate sobre desigualdade e sobre quem arca, de fato, com os custos da crise ambiental.
A COP29, realizada em 2024 em Baku, no Azerbaijão, terminou com avanços técnicos, mas também com a sensação de que a diplomacia climática tradicional chegou ao seu limite. O mundo continua distante da meta de conter a elevação da temperatura média global em 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, e o financiamento climático ainda não chega a quem mais precisa.
Agora, com a COP30, o planeta volta seus olhos à Amazônia, não apenas como cenário de discursos, mas como território onde nascem soluções concretas.
No Brasil, grande parte das emissões de gases de efeito estufa vem do desmatamento e da pecuária. Uma das saídas para esse desafio, que parece estrutural, nasce justamente na base da economia: nos pequenos produtores e empreendedores locais. As pequenas propriedades rurais emergem como protagonistas na transição para uma agricultura regenerativa. Sua profunda conexão com a terra e o conhecimento tradicional permitem a adoção de práticas adaptadas localmente, essenciais para a saúde do solo e a biodiversidade.
A flexibilidade inerente à menor escala facilita a diversificação de culturas e a implementação de sistemas agroflorestais, promovendo resiliência e reduzindo a dependência de insumos químicos. Ao focar em mercados locais, os pequenos produtores agregam valor e fortalecem a bioeconomia, garantindo alimentos saudáveis e fixando famílias no campo.
É essa virada que o Sebrae e o SME Climate Hub querem destacar em Belém: os pequenos negócios são parte essencial da solução climática, Décio Lima, presidente do Sebrae
No Brasil, as MPE representam mais de 95% das empresas brasileiras, mais de 80% dos empregos formais e estão mais próximas do território e da comunidade. São elas quem sentem primeiro os impactos das mudanças no clima, mas também podem agir rápido e implementar ações sustentáveis simples no dia a dia, como o uso racional de energia e de água.

A transição ecológica global só será possível se oferecermos a essas empresas instrumentos financeiros acessíveis, políticas públicas específicas, inovação tecnológica e formação em práticas de baixo carbono. Isso significa, também, reconhecer que a bioeconomia, a agricultura regenerativa e a economia circular não são tendências de mercado – são condições para a sobrevivência da floresta e das comunidades que vivem dela.
Os mutirões que o Sebrae realiza em todo o país, e que terão um marco especial durante a COP30, são exemplos práticos desse movimento. Nessas ações coletivas, pequenos empreendedores recebem orientação para tornar seus negócios mais sustentáveis, medir e reduzir emissões, acessar crédito verde e se conectar a mercados conscientes.
No restante do mundo, os desafios são outros – desde a descarbonização industrial até a transição energética -, mas o princípio é o mesmo: quando o pequeno negócio tem apoio, o impacto positivo se multiplica. A força do território e da comunidade é um ativo global, e a Amazônia será o palco para reafirmar isso.
Belém tem tudo para marcar a virada de uma agenda climática centralizada em grandes compromissos para uma ação distribuída, plural e enraizada. O roteiro de Baku a Belém pode ser a transição entre a promessa e a prática – da conferência técnica para a conferência do território.
Porque, no fim, onde tem pequeno, tem futuro. Tem floresta em pé, tem renda, tem dignidade. E tem o início de um novo pacto entre desenvolvimento e sustentabilidade.

