Quase metade dos investidores-anjo no Brasil afirma não saber qual foi o retorno financeiro de seus próprios aportes. O dado, presente na Pesquisa sobre Investimento-Anjo no Brasil 2025, revela um obstáculo relevante para o avanço do capital de risco no país. Segundo o levantamento, 47% dos entrevistados não conseguem mensurar o ROI (Return on Investment) das startups em que investiram.
Esse cenário contribui para a postura mais cautelosa do investidor brasileiro, que hoje busca critérios objetivos e métricas claras antes de realizar novos aportes. Para startups em estágio inicial, a pesquisa aponta um caminho possível. Empresas com maior grau de organização e transparência saem na frente na hora de captar recursos.
A falta de dados consolidados sobre os resultados dos investimentos acaba gerando incerteza no mercado. Sem saber com precisão o desempenho de suas apostas anteriores, investidores tendem a postergar decisões ou adotar exigências mais rígidas. É nesse contexto que startups com boa governança, métricas atualizadas e comunicação recorrente com seus investidores conquistam vantagem competitiva.
A pesquisa também identificou o perfil predominante do investidor-anjo brasileiro. Trata-se, em sua maioria, de homens com cerca de 40 anos e aportes individuais de até R$250 mil. Embora seja um dado secundário, reforça o papel dos empreendedores na construção de relações sólidas com um público cada vez mais criterioso.
Para os negócios em early stage, é importante priorizar a estruturação desde os primeiros passos; medida que pode ser decisiva para atravessar o período mais desafiador da jornada empreendedora, conhecida como “vale da morte”, e garantir acesso ao capital necessário para crescer.
O investimento-anjo é uma peça essencial no ciclo de inovação. Ele representa aquele capital de risco que chega quando a startup ainda está validando o modelo de negócio — muitas vezes antes mesmo de gerar receita. Mas o valor não está só no aporte financeiro, que costuma variar entre R$ 250 mil e R$ 1 milhão; está também na experiência e na rede que esses investidores trazem para o negócio.
Cristina Mieko, Head de Startups do Sebrae
“Os resultados da pesquisa ajudam a entender tanto o perfil quanto os desafios desse investidor”, completa Cristina. “Ainda enfrentamos entraves estruturais, como a tributação sobre o ganho de capital e a insegurança jurídica nos contratos, que afastam parte dos potenciais investidores. Esses fatores, somados à falta de incentivos fiscais e à alta burocracia, tornam o ambiente menos competitivo em relação a outros países. Por isso, compreender e fortalecer o papel do investidor-anjo é essencial para criar condições mais favoráveis à inovação e ao crescimento das startups brasileiras.”