O futuro do empreendedorismo científico ganhou palco nesta segunda-feira (29), em São Paulo (SP), com a abertura do Deep Tech Summit 2025, realizado na USP. O encontro, que segue até amanhã (30) e culmina com a entrega do Prêmio Deep tech do Ano, posiciona o Brasil como protagonista em um ecossistema ainda em maturação, mas que já mostra resultados expressivos na América Latina.
Segundo levantamento apresentado durante o evento, a região já reúne mais de 1.400 startups deep tech, sendo 72,3% delas no Brasil. Inovações baseadas em descobertas científicas, “as deep techs não resolvem problemas de uma única empresa, mas de setores inteiros da economia. É ciência virando negócio”, destacou Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae, durante a mesa de abertura.
Enxergando a ciência como motor de transformação, Quick reforçou que o Brasil precisa acelerar a transição da economia baseada em commodities para uma agenda de valor agregado. “A nova indústria brasileira está aqui. Temos diferenciais competitivos para sermos protagonistas globais e, se quisermos mudar o lugar do país no mundo, precisamos olhar para onde a ciência encontra o empreendedorismo”, afirmou.

Ele lembrou que, só no programa Catalisa ICT, o Sebrae já concedeu mais de 4 mil bolsas a pesquisadores-empreendedores. “Vocês nascem pequenos, e por isso são o público do Sebrae. O Brasil que mais vai render royalties e gerar valor para o mundo está aqui, nesses negócios que surgem da pesquisa. Mas para isso, precisamos enfrentar nossas fragilidades e trabalhar em rede, com visão sistêmica, reduzindo barreiras como acesso a patentes, incentivos fiscais e licenciamento. É assim que consolidaremos o ecossistema nacional e latino-americano”, disse.
Na mesma linha, Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae, ressaltou a importância de apoiar quem está na base da economia. “Os pequenos negócios são responsáveis por 59% dos empregos e mais de 30% do PIB brasileiro. É com eles que precisamos caminhar se quisermos construir uma economia mais inclusiva”, destacou.
Ela reforçou especialmente o papel das mulheres nesse processo. “O Brasil bateu recorde de startups fundadas por mulheres, com mais de 4 mil inscritas em programas recentes. Empreendedorismo feminino é uma agenda que precisa estar no centro da inovação. São ideias que nascem em laboratórios e pranchetas e têm potencial de se transformar em grandes negócios”, afirmou. Margarete também anunciou um programa de bolsas exclusivo para pesquisadoras, que será lançado em breve.

O evento também reuniu representantes de governo, academia e investimento. Para Raphael Braga da Silva, presidente da Finep, apoiar as deep techs é estratégico. “Essa agenda está na essência da Finep. É simbólico que o evento aconteça na USP, onde nascem tantas deep techs”. O executivo ainda ressaltou a importância de investimentos em ciência, destacando o salto de R$ 13 bilhões de aporte em operações de fomento para a expectativa de quase R$ 70 bilhões entre 2023 e 2026, na comparação com o quadriênio anterior. “Mas precisamos de ecossistemas conectados e prioridades bem definidas”, sentenciou.
Da perspectiva empresarial, Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Fiesp, comparou o sistema de inovação brasileiro a “um avião voando enquanto tentamos consertar as turbinas”. Segundo ele, a instabilidade macroeconômica e a rigidez regulatória ainda limitam o avanço, mas o país tem diferencial competitivo em áreas como agricultura, que já incorpora tecnologias como drones e sensores de ponta. Segundo ele, o país precisa de mais ambição, ajustes na Lei do Bem, para ampliar o alcance dos incentivos, além de atrair mais estudantes da América do Sul ao Brasil, criando vínculos duradouros entre nações.
A internacionalização também foi tema das falas de Claudia Aparicio, cofundadora da Mentex, que defendeu uma agenda mais integrada para além da América Latina. Em sua avaliação, a região tem grandes sonhos, muito capital humano nas universidades e instituições, e reforçou a importância do ecossistema para atingir os objetivos entre países.

Agenda e premiação
O Deep Tech Summit 2025 segue até esta terça-feira (30), quando será entregue o Prêmio Deeptech do Ano, que reconhecerá startups de maior destaque em cada setor. A programação inclui ainda o lançamento do Relatório Deeptechs Brasil e LATAM, com dados inéditos sobre a evolução desse mercado.
Com a presença de universidades, governo, investidores e empresários, o evento reforça o papel do Brasil como epicentro latino-americano para a inovação científica de base tecnológica. Como resumiu Bruno Quick, “a ciência está virando negócio no Brasil. E esse é só o começo de uma nova indústria que pode colocar o país entre os protagonistas globais da inovação.”