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Brasil alcança 150 IGs nacionais e celebra reconhecimento de duas novas regiões produtoras de cachaça

As IGs de Areia (PB) e de Orizona (GO) reforçam a identidade cultural da bebida e fortalecem competitividade dos pequenos produtores
Por Camila Vidal
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O Brasil chegou à marca de 150 Indicações Geográficas (IGs) nacionais reconhecidas, conforme atualização publicada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O avanço inclui as duas mais recentes Indicações de Procedência (IP), ambas referentes à produção de cachaça: Areia, na Paraíba, e Orizona, em Goiás — territórios tradicionais na fabricação artesanal da bebida.

Com os novos registros, o país passa a contar, ao todo, com 161 IGs — somando 120 Indicações de Procedência (119 nacionais e 1 estrangeira) e 41 Denominações de Origem (31 nacionais e 10 estrangeiras).

O marco consolida o rápido crescimento do modelo, que transforma produtos regionais em ativos econômicos de identidade e diferenciação. No caso da cachaça, o reconhecimento reforça um movimento nacional de valorização econômica e cultural impulsionado pela legislação de proteção ao produto, incluindo o Decreto nº 4.062/2021, que definiu as expressões “cachaça”, “Brasil” e “cachaça do Brasil” como indicações geográficas de uso exclusivo do país.

O avanço posiciona o país em uma rota de expansão que integra competitividade, turismo, sustentabilidade e valorização de saberes tradicionais, pilares apoiados pelo Sebrae. Para a coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae Nacional, Hulda Giesbrecht, o registro reforça um diferencial competitivo estratégico para o setor.

“A IG é um registro de origem e garantia de qualidade. Na forma de um selo, ele comunica ao mercado que existe história, clima, solo, cultura e conhecimento envolvidos no produto”

Hulda Giesbrecht, coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae Nacional

“É uma conquista que valoriza os produtores e posiciona a cachaça brasileira em novos patamares no mercado”, acrescenta.

Crescimento, projeção e identidade nacional

De acordo com o Anuário da Cachaça 2025, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil alcançou 1.266 cachaçarias registradas em 2024, crescimento de 4% em relação ao ano anterior — o terceiro avanço consecutivo.

O número de produtos registrados também aumentou: foram 7.223 cachaças homologadas, alta de 20,4% em comparação com 2023. Em maio deste ano, a Associação Nacional da Cachaça de Alambique (ANPAQ) lançou um manifesto nacional pelo reconhecimento do método de produção da cachaça de alambique como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Brasil.

Areia (PB): tradição, turismo e expansão do mercado

Com 28 engenhos registrados, Areia (PB) é a região com maior concentração de produtores no Nordeste e a segunda maior do país

A cidade de Areia se destaca pela força de seus engenhos desde a década de 1990, quando os produtores locais iniciaram ações de padronização, qualificação e marketing. Esse movimento foi impulsionado por iniciativas do Sebrae Paraíba, que atuou no fortalecimento da governança do setor, na capacitação produtiva e na estruturação do posicionamento mercadológico da cachaça local. A instituição também apoiou o processo técnico necessário para o registro da Indicação Geográfica, oferecendo consultorias especializadas, orientações sobre conformidade legal e estratégias de diferenciação territorial.

Atualmente, o município reúne 28 engenhos registrados, sendo a região com maior concentração de produtores no Nordeste e a segunda maior do país. Além de representar mais de 40% da produção paraibana, a cadeia movimenta turismo e renda. Um exemplo é o roteiro Caminho dos Engenhos, estruturado com participação do Sebrae como proposta de turismo integrado, que recebe cerca de 25 mil visitantes por ano.

Para o vice-presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Areia (APCA), Thiago Baracho, o registro da IG fortalece ainda mais a visibilidade conquistada. “A cachaça de Areia é reconhecida nacional e internacionalmente, mas ainda precisa ser mais vista pelo consumidor”, afirma.

“O selo reforça tradição, qualidade e território, e isso é desenvolvimento regional”

Thiago Baracho, vice-presidente da APCA

Apenas em 2018, Areia produziu 4,5 milhões de litros de cachaça, gerando cerca de 2.500 empregos diretos e indiretos. O Sebrae segue atuando no pós-certificação com ações voltadas à expansão comercial, turismo integrado e acesso a novos mercados.

Orizona (GO): modernização com raízes históricas

Com origem ligada às grandes fazendas do século XIX, Orizona mantém uma tradição centenária de produção artesanal de cachaça. Conhecida como “Terra da Boa Cachaça”, a região ganhou reputação pela transmissão do saber-fazer entre gerações.

Orizona, em Goiás, mantém uma tradição centenária de produção artesanal de cachaça

Nos últimos anos, o setor passou por um processo de reorganização produtiva e modernização com apoio do Sebrae Goiás, que atuou na formação de uma governança local, capacitou produtores em boas práticas de fabricação, rotulagem e gestão empresarial e conduziu consultorias para adequação técnica exigida pelo processo de Indicação Geográfica.

Na avaliação do presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Orizona (Apacor), Edgar de Castro Correia, a conquista da IG é um marco histórico para o município. Ele destacou o papel decisivo do Sebrae no processo. “O apoio do Sebrae foi fundamental para chegarmos até aqui, a instituição sempre acreditou na tradição, na qualidade e no potencial da nossa cachaça.” Para Correia, o selo representa um divisor de águas: “Hoje é um dia de festa e valorização para todos os produtores.”

Atualmente, os produtores apostam em formalização e acesso a mercados nacionais sem abrir mão das características tradicionais que diferenciam a cachaça produzida no território. Com o registro, o Sebrae reforça ações de fortalecimento do posicionamento comercial, estratégias de rastreabilidade e promoção do produto em feiras setoriais e circuitos gastronômicos.

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