Há um ano, o jovem Joélho Caetano, de origem quilombola no interior do Ceará, experimenta o sabor do sucesso de sua criação: um sorvete feito à base de mandioca, com ingredientes que representam a cultura alimentar e as origens da sua comunidade. O produto foi desenvolvido a partir de uma pesquisa dentro da Escola de Gastronomia Social do estado, após oito meses de estudos e testes.
“Eu não tinha ideia da proporção que isso iria chegar. O sorvete fez muito sucesso por ser algo novo, de qualidade e sabor, que carrega toda uma história por trás”, reflete.
Junto com a mãe, Joélho comanda a sorveteria Caetanos, no município de Tururu, a 109 km de Fortaleza. A ideia do negócio surgiu quando, aos 15 anos, ele conheceu uma sorveteria em visita à capital cearense. “Queria levar aquela experiência para minha comunidade. Minha mãe, pequena agricultora, achou que aquilo era loucura”, relembra.
Com poucos recursos e muita vontade de dar certo, os dois começaram a produzir sorvetes dentro de casa com receitas que pegavam na internet. Com o tempo, Joélho sentiu que precisava resgatar a cultura alimentar do quilombo. O jovem também enxergava as possibilidades de fomentar o desenvolvimento local com o turismo e de gerar renda para os pequenos produtores.
Durante sua trajetória, ele se formou em gastronomia e fez curso na Escola do Sorvete, em São Paulo. A visibilidade do sorvete de mandioca o levou a se aproximar do Sebrae.
Eu pensava que o Sebrae era para grandes empresas. Hoje é um parceiro que posso contar. Essa parte de gestão e empreendedorismo, eu aprendi com apoio do Sebrae. Fiz diversos cursos.
Joélho Caetano, empreendedor
Atualmente, a sorveteria Caetanos se destaca pela produção de sorvetes que Joélho chama de “diferentões”, feitos com ingredientes naturais como óleo de coco e rapadura. Também oferece o sorvete de mandioca vegano elaborado com leite de castanha de caju. “Essa ideia surgiu depois que uma mãe me confidenciou que o filho não poderia consumir nada com leite de origem animal. Ela gostava muito de sorvete, mas era difícil encontrar algum que a criança pudesse tomar”, contou.
A analista de Competitividade do Sebrae Nacional, Jane Blandina, destaca que sorvetes e gelatos com opções mais saudáveis e funcionais vêm ganhando cada vez mais o paladar dos consumidores.
“Investir em opções fit, zero açúcar, com adição de whey protein e valorizar insumos regionais atendem a demanda desses consumidores que buscam saúde sem abrir mão do prazer. Também não podemos esquecer do público com restrições alimentares”, pontua.
Segundo Blandina, para o empreendedor transformar isso em diferencial competitivo, é preciso ter clareza na sua proposta de valor. “É muito importante comunicar que o produto dele não é apenas um sorvete, mas uma experiência gastronômica porque está alinhado ao bem-estar e tem sabor, além de buscar essa conexão com as necessidades do seu público e com a identidade local também”, recomenda.

Sustentabilidade aliada à inovação
No outro extremo do Brasil, em Foz do Iguaçu (PR), a Oficina do Sorvete está consolidada no mercado há mais de 30 anos. O pequeno negócio é conhecido pelos sabores de frutas nativas produzidas por pequenos produtores locais de agrofloresta.
Sempre trabalhamos para que o nosso sorvete fosse o mais saudável possível. Priorizamos frutas da estação que possuem qualidade nutricional muito maior e respeitamos o ciclo da natureza.
Cristina Muggiat, empreendedora
Em 2022, o negócio ganhou o Prêmio Nacional de Inovação, concedido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Sebrae, entre outros apoiadores. Com a linha “Sabores do Iguaçu” feita com frutas nativas da Mata Atlântica da região, destaca que “80% do sorvete é pura fruta”, comenta.
Cristina considera que, para se manter no mercado, é preciso pensar em inovação todos os dias, além de estar atenta às necessidades atuais dos consumidores. “Há aproximadamente 15 anos criamos um sorvete para bebês com zero açúcar, mas foi um fiasco. Acredito que naquela época o mercado não estava maduro, mas continuamos pensando sempre à frente quando se trata de saudabilidade do produto”, ressalta.
Prova disso é que a Oficina do Sorvete está prestes a lançar uma nova linha de sorvetes com whey protein. “Estamos finalizando o cardápio esse cardápio voltado à saúde e bem-estar com sorvetes, milk shakes, batidas. Percebemos que existe uma maior conscientização sobre o valor da proteína na alimentação. Até essa nova geração se preocupa mais em manter um corpo saudável”, analisa.
Como dona de um pequeno negócio, Cristina também considera que é mais fácil inovar. “Temos uma gestão mais horizontalizada, em pequena escala. Tudo acontece mais rápido”, acrescenta. “Todo dia estamos nos reinventando”, finaliza.
A empresária também conta que já participou de iniciativas com apoio do Sebrae, como o Empretec e o Brasil Mais, do governo federal. Neste último exemplo, a empresa recebe consultorias gratuitas de Agentes Locais de Inovação (ALI) do Sebrae, um dos parceiros na realização do programa. De acordo com a analista do Sebrae Nacional, a inovação é a grande alavanca do crescimento, assim como fazer parcerias.
Existem várias formas de inovar dentro da indústria do sorvete. Pode ser com uso de novas tecnologias e equipamentos que permitam texturas mais leves, como também combinações nutricionais, menor uso de aditivos artificiais.
Jane Blandina, analista de Competitividade do Sebrae Nacional
Blandina também recomenda que os empreendedores saibam se posicionar com o marketing do seu produto. “É muito importante participar de feiras, oferecer degustações em academias, estúdios de Yoga, eventos esportivos, ou seja, oportunizar experiencias para o seu consumidor”, orienta.