A comunidade Quilombola Kalunga Engenho II, localizada na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás – cerca de 370 quilômetros de Brasília – passa a ser inspiração para outras comunidades que desejam atuar com o turismo de base comunitária. Isto porque o Sebrae lançou , em parceria com as associações Quilombo Kalunga (AQK) e Kalunga Comunitária do Engenho II, um estudo de caso pioneiro para reconhecer a atuação local que já permitiu trazer um retorno para a comunidade de quase R$ 12 milhões entre 2020 e 2023 a partir de ações voltadas para o turismo.
“Como ainda não há um parâmetro que possamos afirmar sobre turismo de base comunitária, esse pode ser o maior estudo de caso do segmento. É uma comunidade que faz a gestão do turismo e que com isso conseguiu levar dignidade e renda para sua população utilizando os recursos em ações sociais como saúde, formação em educação, entre outras”, explicou a coordenadora Estadual de Turismo do Sebrae Goiás, Priscila Vilarinho.
O estudo de caso foi apresentado na última semana, durante o Impulsiona Turismo, evento promovido pelo Sebrae com o objetivo de fomentar a troca de experiências entre as unidades estaduais em relação à atuação por meio do Programa Agentes de Roteiros Turísticos (ART), que já atendeu mais de 18,2 mil pequenos negócios.
O turismo é visto hoje como uma grande mola propulsora de diversos segmentos, em diferentes regiões do país, ao mesmo tempo que entendemos que a atividade tem suas particularidades locais e regionais que nos convergem para o fortalecimento do empreendedorismo.
Marcelo Lessa, diretor-técnico do Sebrae Goiás.
Somente entre os anos de 2022 e 2023, a região conquistou um aumento de 42% na entrada de visitantes, atingindo mais de 37 mil pessoas. Os turistas na região: moradores de São Paulo em primeiro lugar (25,5%), seguidos por moradores de Goiás (17,6%), Distrito Federal (16,6%) e Rio de Janeiro (13,7%). Em relação às atividades que os turistas desejam fazer na localidade, a caminhada por trilhas (79,2%) é a mais requisitada, acompanhada por ações de relaxamento na natureza (73,5%) e banhos em cachoeiras (68,6%) e a grande maioria (27%) passa por volta de três dias na comunidade.
“Isso nos mostra que existe um perfil de turista que está interessado em conhecer lugares belos, bem preservados e geridos por uma comunidade local. Isto é ter experiências proveitosas”, comenta a gestora estadual Priscila Vilarinho.
O quilombo
Com uma atuação no turismo de base comunitária há mais de 20 anos, o Quilombo Kalunga tem se transformado em referência para os povos tradicionais e originários quanto ao desenvolvimento do turismo. Ele é o maior quilombo do Brasil, com 262 mil hectares, 39 comunidades e aproximadamente 9 mil pessoas. Está localizado na região turística da Chapada dos Veadeiros e envolve os municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, e na comunidade do Engenho II. No local está localizada a Cachoeira Santa Bárbara, que para muitos é considerada a cachoeira mais bonita do Brasil.
Com uma enorme rede comunitária de empreendedorismo turístico, a comunidade possui aproximadamente 200 condutores de visitantes, cinco restaurantes, três meios de hospedagens e 17 transportadores turísticos, movimentando uma grande cadeia econômica. Os ganhos com o turismo geram emprego e renda para os moradores, mas também colaboram com o desenvolvimento comunitário. Parte dos recursos oriundos da venda de entradas dos visitantes nas cachoeiras vai para investimentos na infraestrutura comunitária, no apoio à educação, saúde, esporte, cultura e na estrutura turística.
Turismo de Base Comunitária
O Turismo de Base Comunitária se caracteriza pela forma de organização da atividade, desenvolvida em escala local, construída e administrada pela própria comunidade em ações como hospedagem, transportes e prestação de serviços aos visitantes como guia turísticos, por exemplo.