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Evento sobre Indicações Geográficas mostra como o registro pode aumentar o orgulho dos artesãos

Encontro contou com as participações de especialistas e artistas do Brasil, Peru, Colômbia, México e França, que trocaram experiências e aprendizados
Por Da Redação
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O sentimento de pertencimento. Esse foi o mote do último dia do encontro Origens Brasileiras Artesanato – I Evento Internacional de Indicações Geográficas de Artesanato, realizado nos dias 29 e 30 de junho, no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro, no Centro do Rio de Janeiro. O encontro reuniu especialistas e artesãos do Brasil, Peru, Colômbia, México e França.

O evento, que discutiu problemas comuns e delineou as potencialidades das Indicações Geográficas de Artesanato, mostrou que as chamadas IGs são baseadas em dois grandes pilares: proteção e promoção. Proteção para o artesão que sabe que suas obras não serão copiadas – e se forem, ele tem recursos para se defender; e a promoção dessa mesma criação para consumidores que podem reconhecer à primeira vista se aquele produto é autêntico, diferente de itens similares no mercado.

Hulda Giesbrecht, analista de Inovação do Sebrae. Crédito: Ulisses Catunda

“Uma transformação está acontecendo no Brasil com as IGs. Uma transformação da qualidade de baixo para cima, que nasce do sentimento de pertencimento, do orgulho com que os artesãos fazem suas criações” opinou Hulda Giesbrecht, analista de Inovação do Sebrae, participante de uma das mesas na manhã desta sexta-feira (30).

“As IGs mostram a identidade de uma região, expressam um capricho no fazer. Nós temos um potencial para elevar os produtos com as IGs. É um novo Brasil”, acrescenta Hulda.

Orgulho do próprio trabalho esteve presente nas falas de diferentes artistas, como José Jesús Rivas López, das Cerâmica de Chulucanas, do Peru. Ele sabe que o selo que as suas cerâmicas estampam apresenta os seus produtos como únicos e que manter o sistema de controle assegura a qualidade final. Mas há outro elemento que o mantém no trabalho por cerca de 30 anos: “Somos ceramistas e artistas, somos sensíveis”, contou, ao final de sua fala, para aplauso da plateia que reuniu muitos outros artesãos e artistas.

Como o joalheiro e artista Luiz Evandro Triers Filho, da IG de Pirenópolis, que falava com orgulho dos detalhes, da variedade e do brilho das joias feitas por seus artesãos. “Há, infelizmente, muitos artistas que não se veem como artista, mas apenas como prestadores de serviço. Eles não sabem quanto custa o próprio trabalho. E foi aí que o Sebrae ajudou bastante, para sabermos precificar”, contou Triers Filho, que lembrou inclusive da ajuda disponibilizada até por psicólogos no processo.

Futuro

As IGs são a resposta para o futuro, disse Benjamin Moutet, cuja família está há quase 200 anos produzindo o linho basco. Segundo ele, a IG salvou a companhia. “Além de pontos mais famosos na França, os turistas que nos visitam querem ver tradição, e o selo de IG é o que garante essa autenticidade. A IG sublinha qualidade e história.”, comentou.

Os selos brasileiros de Indicação Geográfica comunicam a qualidade dos produtos. Para Hulda Giesbrecht, há automaticamente uma melhora na comunicação, com engajamento e reconhecimento às IGs. “É como se dissessem: nós fazemos parte de artesanatos que têm qualidade baseada na origem, que são Diferenciados. E eu digo para os artesãos: levem isso para fora do país”, destacou a analista do Sebrae.

Rita Albuquerque, coordenadora de qualificação da gerência de Competitividade da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) acrescentou que “mesmo que as micro e pequenas empresas das IGs não impactem, atualmente, na balança comercial, elas têm impacto muito grande na região onde atuam”. Ela aponta a necessidade de qualificação e busca por auxílio em associações e órgãos públicos antes dos artesãos se lançarem na aventura além das fronteiras: “Não tem como ser aventureiro no mercado internacional”.

Há toda uma preocupação para se obter o registro da IG, mas também para se manter o selo. Todo o processo é muito burocrático e exige organização. As artesãs da Renda Irlandesa de Divina Pastora, no Sergipe, resolveram o problema criando uma diretoria de técnicas. “Quisemos fortalecer a comunidade e fortalecer as rendeiras no que elas sabem fazer melhor: rendar”, contou Maria José Souza, representante das rendeiras.

Por isso, inclusive, o Sebrae adaptou uma das suas ferramentas para atuar exatamente nesse segmento, como explicou a analista do Sebrae Maíra Fontenele Santana. “O Agente Local de Inovação (ALI) é um agente extensionista que apoia a inovação empresarial ou territorial e que visa ao desenvolvimento dos pequenos negócios”, comenta. Na sua versão voltada às IG, os ALI trabalham para aumentar o engajamento e melhorar os indicadores do desempenho da IG. Eles também mostram como manter o selo, auxiliam na identificação das oportunidades para melhoria da produtividade e qualidade do produto. Por fim, também ajudam no marketing digital.

Atualmente são 12 as Indicações Geográficas (IG) de artesanatos no Brasil: o capim dourado da Região do Jalapão (TO); as panelas de barro de Goiabeira (ES); as peças artesanais em estanho de São João del Rei (MG); as opalas e joias artesanais de Pedro II (PI); os têxteis em algodão naturalmente colorido (PB); a renda irlandesa da região de Divina Pastora (SE); a renda renascença do Cariri Paraibano; o bordado filé da região das Lagoas Mundaú-Manguaba (AL); o bordado de Caicó (RN); as joias artesanais em prata de Pirenópolis (GO); a produção têxtil de Resende Costa (MG) e as redes de Jaguaruana (CE).

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