Como tornar uma cidade mais inteligente para visitantes sem excluir, por conta dessa intervenção, os próprios moradores? Foi pensando em soluções que juntem inovação, experiência e sustentabilidade que o Sebrae aproveitou a Abav, que acontece até esta sexta-feira (29), no Riocentro (Rio de Janeiro), para apresentar os 12 destinos que participam do Programa Turismo Futuro Brasil, parceria entre o Sebrae e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
“Não há no Brasil nenhum destino inteligente ainda. Mas essas cidades estão na direção para chegar lá”, diz Ana Clévia Guerreiro, coordenadora de Turismo, Economia Criativa e Artesanato do Sebrae. Ela se refere às cidades de Curitiba, São Luís, Recife, Novo Airão (AM), Bonito (MS) e Belo Horizonte (MG), que se apresentaram nessa quarta-feira (27), e Bombinhas (SC), Ilhabela (SP), Paraty (RJ), Penedo (AL), Pirenópolis (GO) e Belém (PA), que mostraram suas experiências nesta quinta-feira (28).
Para ser um destino inteligente é preciso seguir alguns critérios, como criar cidades mais humanas e inteligentes, que tenham uma gerência sobre o território de forma inovadora e que coloquem a qualidade de vida dos moradores em primeiro lugar, imaginando também como isso vai impactar os turistas.
Destino turístico inteligente é incluir as pessoas.
Ana Clévia, coordenadora de Turismo, Economia Criativa e Artesanato do Sebrae.
O edital foi lançado na Abav do ano passado e teve quase 300 inscritos. Setenta e nove concorrentes passaram para a segunda fase. Ao fim, deveriam ser escolhidas apenas dez cidades, mas as propostas dos participantes eram tão boas que o número final chegou a 12 destinos. Todas as práticas mostram sempre uma forma criativa de enfrentar problemas comuns nas cidades, como acessibilidade, valorização da cultura, aquecimento global e, claro, turismo.
São Luís, capital do Maranhão, tentou resolver um problema de comunicação com turistas e moradores usando uma tecnologia bem acessível e de forma bastante democrática. A cidade criou um Central de Atendimento aos Turistas (CAT) On-line, por meio de uma conta corporativa de Whatsapp, e o programa “Turismo em suas mãos”, que espalhou QR codes por toda a cidade – em museus, igrejas e até carrocinhas de ambulantes – por meio dos quais se chega diretamente ao CAT on-line.
Do outro lado da linha, em lugar de um robô impessoal, é um servidor que responde às demandas do visitante. “Tudo começou no meio da pandemia, com o turismo praticamente parado, mas com as pessoas ainda procurando informações. Decidimos criar esse canal para manter comunicação permanente com os visitantes”, contou Saulo Santos, secretário Municipal de Turismo de São Luís.
Também usando uma ferramenta simples, mas com resultados surpreendentes, a prefeitura de Novo Airão, no Amazonas, criou um aplicativo de turismo, o AirãoHub, que funciona como uma porta de acesso à cidade, que, por sua vez, quer ser tornar a cidade inteligente da Amazônia, como contou Otávio Farias, Procurador do município, que representava o destino. “Podemos viver em harmonia com o meio ambiente. Entre as 12 cidades desse projeto, temos a menor população, a menor arrecadação, mas um enorme potencial natural”, defende, lembrando que a própria sociedade desenvolveu o aplicativo, unindo o poder público com a iniciativa privada e a Academia.
Outra cidade pequena, mas com grandes aspirações, é Bombinhas, em Santa Catarina, a menos populosa do estado, com apenas 26 mil habitantes – mas que recebe 2,8 milhões de turistas por ano –, e apostou em buscar as bandeiras azuis para as suas praias como forma de se diferenciar das demais do estado.
A bandeira azul é uma certificação que trata da qualidade da água, educação ambiental, gestão ambiental, segurança e serviços. São apenas 43 praias que têm bandeira azul em todo Brasil. Bombinhas tinha duas praias e pulou para três recentemente. A comunidade quer chegar a cinco e se transformar na cidade com mais bandeiras azuis de todo o país. “Desde 2013, a partir de um plano estratégico de turismo com o Sebrae, tivemos como meta o turismo sustentável. A cidade toda se engajou e o resultado foi esse”, contou Mario Lamenha, secretário municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico, que quer fazer da cidade um lugar bom não apenas para quem visita, como também para quem vive nela.
Com a mesma pegada ecológica está Bonito, que conseguiu se tornar uma cidade carbono neutro. “Há 30 anos, pensamos em sustentabilidade”, contou Juliane Salvadori, secretária de turismo da cidade, “mas com as mudanças climáticas, essa pauta se tornou incontornável”. O projeto se iniciou em 2021, quando mapearam oito fontes de emissão, de consumo de combustível a tratamento de águas residuais, passando para decomposição de resíduos sólidos. Hoje, eles conseguem saber o cálculo de carbono por habitantes, por turistas, por dia e ainda aglutinar esses dados.
Para compensação, Bonito compra de crédito na Índia e ainda faz neutralização em áreas do próprio município. “Nossa meta agora é fazer a redução da emissão em 2%”, contou Juliana, que disse que houve impactos indiretos como a criação do primeiro hotel com lixo zero e o crescimento do índice de compostagem da cidade.
Apostando numa mistura de passado com futuro, Belo Horizonte resolveu investir em dois eixos: na tradição, reforçando a associação da cidade com a gastronomia, que é uma espécie de centro agregador das regiões mineiras e com o carnaval que, apesar de ser uma festa com história, precisou se reinventar na cidade. “Estamos nos reposicionando no mercado, antes nos confundíamos com outros destinos”, explicou Marina Simião, diretora de Marketing e Promoção turística de Belo Horizonte. “Não adiantava a gente querer competir com turismo de praia”, brincou.
No Carnaval, Marina contou sobre como a inteligência ajudou a transformar a folia belo-horizontina uma referência.
Há todo um trabalho de fundo, com informações que são compartilhadas para a polícia, controle de trânsito, saúde. São mais de 500 reuniões com os blocos ao longo do ano!Marina Simião, diretora de Marketing e Promoção turística de Belo Horizonte.
Também com uma forte identidade cultural, Penedo, em Alagoas, resolveu investiu no resgate histórico e cultural da cidade, que é uma das mais antigas não apenas do estado, mas de todo o país. Penedo foi fundamental na formação socioeconômica do Nordeste, é margeada pelo Rio de São Francisco e fica numa região portuária, abastecendo historicamente não apenas Alagoas, mas também Sergipe e até Bahia. Para Jair Galvão, secretário de Turismo da cidade, participar de um grupo de turismo inteligente é uma oportunidade de, também, trocar experiências com cidades como Belo Horizonte ou Curitiba.
Galvão contou que, por conta da participação no projeto, pode dar início a uma revalorização dos artistas santeiros, que são parte de uma escola de escultores em madeira com temas sacros, cuja história remonta ao século XVII. “Escolhemos fazer parte dessa metodologia por meio do resgate cultural para participar do projeto, porque a economia cultural criativa é, e sempre foi, a alma de Penedo”.