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Cultura local vira trunfo entre pequenos negócios de serviços

Pesquisa do Sebrae revela que micro e empresas de pequeno porte do Norte, Nordeste e Centro-Oeste investem mais na identidade local como vantagem competitiva
Por Redação
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A valorização da cultura tornou-se um diferencial estratégico importante para os pequenos negócios do setor de Serviços. As características locais e regionais têm sido trajetórias fortemente marcadas entre empreendedores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.

Nessas regiões, entre 35% e 40% das micro e pequenas empresas são inspiradas na cultura local, totalmente ou pelo menos em parte, como revela a Pesquisa Serviços 2025, que o Sebrae acaba de realizar, com análise pelos métodos qualitativo e quantitativo, com o objetivo de compreender o panorama atual desse setor no Brasil.

Essa valorização cultural como oportunidade de negócio não tem entre os empreendedores do Sudeste e Sul brasileiros o mesmo apelo estratégico. Nessas regiões, somente 14% e 16% dos negócios são, respectivamente, inspirados em características locais e regionais. Entre aquelas que utilizam parcialmente esses apelos, os percentuais são ainda menos expressivos (11% no Sudeste e 10% no Sul).

A maior diversificação das atividades econômicas e urbanização dos setores no Sul e Sudeste, na avaliação de analistas do Sebrae, explica em parte essa diferenciação. Outro elemento importante está no caráter único do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com culturas fortemente marcadas pela identidade dos povos originários e afrodescendentes, muito valorizados não somente pelos clientes locais, mas também pelos inúmeros turistas em busca desses diferenciais. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, é comum, por exemplo, ver negócios que nasceram de tradições.

Foto: AD Produtora.

Essas condições aparecem de forma clara nas pesquisas que mostram trajetórias de origem dos empreendimentos, refletindo tanto condições locais quanto escolhas individuais. No grupo do Nordeste, por exemplo, predomina a continuidade de práticas ligadas à gastronomia e ao turismo comunitário, com forte enraizamento cultural e familiar. A motivação é tanto preservar tradições como explorar demandas locais, como alimentação típica e turismo rural.

Já nos grupos do Sudeste, um fio condutor revelado está no peso da transição profissional: a migração de bancários, arquitetos e outros profissionais para negócios em estética, seguros, entre outros, trazendo conhecimentos de suas carreiras anteriores.

O Sebrae destaca que os pequenos negócios, ao explorarem as culturas locais e regionais como oportunidades de negócio, assumem também o importante papel na preservação e promoção das culturas daquelas sociedades, transformando elementos locais em produtos e serviços, impulsionando a economia e preservando a identidade cultural.

“Essa valorização se manifesta na criação de novos negócios e na oferta de experiências baseadas na cultura local, como feiras e produtos temáticos, artesanatos, gastronomia, danças, músicas e entretenimentos que atraem tanto consumidores quanto investidores. O Sebrae atua para fortalecer o desenvolvimento dos pequenos negócios, que são o grande motor da economia brasileira, para que possam atender cada vez mais, e melhor, a essas demandas”, ressalta o presidente do Sebrae, Décio Lima.

Foto: Divulgação

Como fazia minha mãe

No Café da Nalva, na ilha de Itaparica (BA), esse gosto de cultura e tradição é sentido em cada item que compõe o seu café servido pelas manhãs a pessoas locais e veranistas. Na baixa estação, são os locais que garantem 50% de seus ganhos mensais, mas na alta estação – de novembro a fevereiro – são os turistas que vão elevar seu faturamento, se tornando fonte de 80% de sua renda.

“Sirvo aquilo que a minha mãe me servia quando era ainda criança”, conta a microempreendedora individual Nalva dos Santos, que, na altura de seus 58 anos, oferece a seus clientes mingaus de milho, tapioca e carimã (esses dois últimos derivados da mandioca), todos feitos com leite de coco, além do cuscuz de milho, do lelê, da carne de sol, entre outros.

Depois de ter se formalizado em 2017 para poder se aposentar, como pensava ela naquele momento em que procurou o Sebrae em Salvador (BA) para se tornar MEI, Nalva aguarda com ansiedade a reinauguração, esperada para o fim deste mês, do Mercado Municipal de Itaparica. Quando ele foi desativado para reforma, ela tinha nesse local o seu box onde servia o café da manhã.

Agora, com o espaço todo renovado, ela espera também utilizar de sua condição de microempreendedora individual legalizada e, novamente com o apoio do Sebrae, partir em busca de financiamento para iniciar em seu ponto com tudo novo.

Foto: Divulgação

Trabalhando as vantagens

A conexão direta com o “espírito do lugar” fortalece o vínculo com clientes, mas exige estratégias de comunicação e gestão para consolidar-se como vantagem. Para o Sebrae, a comunicação eficaz via WhatsApp e redes sociais, somada à valorização da cultura local em áreas como gastronomia, turismo e economia criativa, funcionam não somente como promotores de vendas, mas como mecanismo de fortalecimento da fidelização ao criar vínculos emotivos entre o serviço único e a busca de afetividade pelo cliente através de experiências autênticas com a comunidade local.

O Sebrae oferece uma variedade de produtos para o setor de Serviços, incluindo cursos, oficinas e palestras voltados para capacitação de gestores e funcionários, além de consultorias personalizadas com foco em gestão, finanças, inovação e acesso a mercados.

Os empreendedores do setor podem também contar com projetos de fomento, entre outras, em áreas como economia criativa e turismo, além de ferramentas digitais como aplicativos e conteúdos para a gestão do negócio. Com os dados dessas pesquisas, o Sebrae seguirá apoiando:

  • Criação de produtos e serviços culturais: pequenos empreendedores podem integrar elementos da cultura local, como o artesanato, em seus negócios. Isso inclui a produção e venda de produtos feitos com materiais e técnicas tradicionais, que não só geram renda, mas também preservam o patrimônio cultural da região.
  • Turismo cultural: ao oferecerem experiências autênticas, como visitas a oficinas de artesanato ou roteiros temáticos, esses negócios atraem visitantes interessados na cultura local. O turismo cultural se torna uma oportunidade para a venda de produtos e serviços relacionados à região.
  • Fortalecimento da identidade e da autenticidade: ao focar na cultura local, os negócios fortalecem a identidade regional, atraindo consumidores que buscam produtos e experiências autênticas. Essa autenticidade, um aspecto influenciado pela cultura, é vista como um diferencial competitivo.
  • Difusão de boas práticas: mapear e difundir boas práticas de serviços ancorados na cultura regional, com incentivo de políticas públicas que promovam a economia da cultura como vetor de inovação.
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