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Com a identidade nacional, cervejarias artesanais ganham espaço no mercado

Terceiro maior consumidor da bebida, brasileiros comemoram, em 2 de agosto, o Dia internacional da Cerveja
Por Redação
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As cervejarias artesanais têm ganhado espaço no mercado e conquistado o gosto dos brasileiros mais seletivos. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Gilberto Tarantino, o Brasil é o terceiro maior produtor da bebida do mundo. As cervejarias locais e regionais independentes, representadas pela Abracerva, já respondem por cerca de 1,5% do mercado.

Uma das bebidas mais populares do mundo, não é à toa que em 2 de agosto é celebrado o Dia Internacional da Cerveja. No Brasil, ela já faz parte da identidade nacional e está presente em festas populares, celebrações e encontros. De acordo com o Relatório Global de Consumo de Cerveja de 2022, da Kirin Holdings, o Brasil ocupa a 3ª posição, atrás apenas dos EUA e China.

Se comparada às grandes cervejarias, a quantidade da produção artesanal ainda é pouco representativa, mas esse segmento segue em expansão. O número de estabelecimentos produtores de cerveja registrados no Brasil em 2023 chegou a 1.847, um crescimento de 6,8% em relação ao ano anterior. Houve ainda um aumento de 18,6% no volume de cerveja exportada, alcançando um recorde de 232 milhões de litros. Os dados são do Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Para Gilberto Tarantino, o que diferencia as cervejas artesanais é a proximidade com o cliente, além da diversidade de sabores, cores e texturas.

As cervejarias pequenas têm mais facilidade para produzir pequenos lotes por questões operacionais e pela liberdade e criatividade do cervejeiro. O uso de produtos locais e selecionados também diferencia a bebida, que é capaz de responder diretamente aos hábitos e costumes da comunidade. Além disso, as cervejarias locais ajudam a fomentar turismo e o setor de eventos.

Gilberto Tarantino, presidente da Abracerva

A Cerveja Colombina é uma marca que entendeu a importância da proximidade com o público e com a cultura regional. Nascida em fevereiro de 2014 como a primeira linha de cervejas artesanais produzida no Goiás, a Colombina ganhou o slogan de “Cerveja do Cerrado” por utilizar frutos nativos do bioma.

Nossa cerveja virou um símbolo de Goiás. O nosso propósito era conseguir agregar valor à produção goiana, que é um estado reconhecido pelo agronegócio. Usamos insumos locais na produção, como a cevada, frutas nativas e o lúpulo.

CEO da Colombina, Patrícia Mercês

A cerveja já era tradição na família Mercês, que produzia a bebida desde 2001. Mas é depois que Patrícia foi estudar na Bélgica e aprender mais sobre “a arte de fazer cerveja” que ela expandiu o olhar e investiu em uma marca com um conceito regional. “Fiquei um ano fora, em um país cervejeiro e isso me abriu muito os horizontes para essa questão de trabalhar os ingredientes que estão em volta de você. E aquilo me faz olhar para a cerveja de outra forma, não é só o líquido, o álcool, é a comunidade”, explica a empresária.

Colombina é a primeira linha de cervejas artesanais produzida no Goiás. Foto: divulgação

Na Copa Cerveja Brasil 2023, a Colombina Cold Brew Lager foi eleita a melhor cerveja do país. Para Patrícia, o prêmio se deve à busca de produtos com personalidade. “Temos muita sensibilidade com as tendências, com o que está acontecendo no mundo e no mercado de cervejas e também para atender nosso consumidor. Esse prêmio veio coroar um trabalho buscado há 10 anos de ter excelência de produção”.

Desafios e novas possibilidades

O gestor do setor de alimentos e bebidas do Sebrae, Bruno Lopes, alerta que fatores como burocracia, regulamentação rigorosa, alto investimento inicial e tributação podem ser obstáculos à abertura de cervejarias. Contudo, ele aposta na inovação e na criatividade para se tornar competitivo no mercado.

A Cervejaria Implicantes, de Porto Alegre, é um exemplo de pioneirismo, pois enxergou uma oportunidade na falta de representatividade negra no ramo da cervejaria. Fundada em 2018, pelos irmãos Diego e Daniel Dias, no Dia da Consciência Negra, a empresa se intitula uma Cervejaria Afro-Brasileira.

Cervejaria Implicantes traz nos rótulos de seus produtos a representatividade negra para o ramo. Foto: divulgação

“A gente frequentava eventos cervejeiros e percebia que não havia representatividade, éramos os únicos negros. E muitas vezes não éramos considerados consumidores de cerveja artesanal até porque era difícil encontrar pessoas negras nesses lugares. Por isso criamos a marca, para trazer a cultura negra para o mercado cervejeiro brasileiro”, explica Diego, um dos sócios da empresa.

De acordo com ele, até então as cervejarias faziam uma tentativa “frustrada” de inclusão ao criar bebidas de coloração escura com ilustrações de figuras caricatas da representação black power. Na Implicantes, o cervejeiro e também designer gráfico incorporou aos rótulos personalidades que lutaram contra o racismo. “Nossas cervejas têm ilustrações de Luís Gama, Maria Firmina dos Reis, Ruth de Souza, entre outras personalidades negras brasileiras. Exploramos bastante esse resgate histórico, apagado dos nossos livros de história”.

Desde então, o movimento que abraça pessoas negras cresceu no setor cervejeiro.

Eu acredito que o fato de a cerveja apresentar qualidade não é um fator decisório na hora da compra, porque o mínimo que se espera de um produto é ele ter qualidade. O principal é ter história e se conectar com o público.

Diego Dias, fundador da Cervejaria Implicantes

Confira dicas do analista do Sebrae para se diferenciar no setor de cervejarias:

  1. Primeiro, para abertura de qualquer empreendimento, é necessário ter um plano de negócios detalhado e robusto, bem como, realizar uma análise do mercado onde se pretende abrir a empresa.
  2. É importante focar, além de um rigoroso controle de qualidade, na escolha de ingredientes frescos e de origem, que busquem diferenciar o negócio e que também tenham relação com a cultura e culinária local, valorizando a regionalidade e levando inovação em sabores e sensações ao público consumidor.
  3. Deve-se investir numa marca com identidade visual forte, que se destaque nas prateleiras, além de buscar construir uma narrativa em torno desta marca que conecte emocionalmente os consumidores.
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