Com uma cultura amazônica efervescente e uma economia criativa que pulsa o ano inteiro, Parintins (AM) se destaca nacionalmente por seu tradicional festival folclórico que movimenta a região e transforma a cidade em uma vitrine do talento de artistas e empreendedores locais. De olho no potencial desse ecossistema inovador e na necessidade de ampliar oportunidades de renda e acesso ao mercado, nasceu o projeto “Do Festival ao Futuro: Parintins Criativo”. A iniciativa é promovida pelo Sebrae em parceria com as agremiações dos bois-bumbá Caprichoso e Garantido.
Com foco na inovação, sustentabilidade e valorização cultural, o projeto visa promover Parintins como um centro de inovação cultural, incluindo também ações de inclusão e diversidade. Inicialmente foi feito um trabalho de sensibilização e mobilização dentro dos galpões de cada uma das agremiações, que além de oferecer espaço para o projeto vão disponibilizar materiais descartados ou remanescentes. Por meio do projeto “Recicla Galera”, em parceria com o Sebrae, Coca-Cola e governo do estado, os dois bois recolheram 1,3 tonelada de resíduos recicláveis.
A analista do Sebrae, Giselle de Oliveira, explica que o projeto atende à demanda de muitos profissionais que, após o festival, ficam sem trabalho ou precisam migrar para outros estados para procurar emprego.
Este projeto quer romper esse ciclo pensando no futuro deles ao mesmo tempo que fortalece a cultura do boi e se preocupa com a sustentabilidade e o reaproveitamento dos materiais descartados durante o festival.
Giselle de Oliveira, analista do Sebrae.
Ela acrescenta que o projeto já nasceu com o objetivo de ser replicado em outros estados onde acontecem festividades de grande porte como o Sírio de Nazaré, no Pará; o Carnaval no Rio de Janeiro e São Paulo; o São João em vários locais do Nordeste, bem como nas festividades regionais do Sul do país.
No final de julho aconteceu a primeira oficina criativa, conduzida pelo designer Sérgio Matos, reconhecido dentro e fora do Brasil pelo seu trabalho inspirado na identidade brasileira. “Parintins respira arte e com esse projeto queremos desenvolver o olhar deles que já é criativo e produtivo para pensar além do festival com perspectiva de acesso à mercado. Eles criam estampas que poderiam estar em qualquer grande marca”, avalia.
Sérgio também já participou de diversos projetos do Sebrae na Região Amazônica. Ele explica que sua atuação como consultor tem o cuidado de preservar os saberes tradicionais e a cultura local sem interferir diretamente no processo de construção.

Primeiramente, o encontro aconteceu na Escola de Arte Irmão Miguel de Pascale do Caprichoso com a participação de empreendedores locais, entre eles artesãos, costureiras, escultores, desenhistas, entre outros envolvidos no Festival de Parintins. Para a gestora da escola, Irian Butel, a aproximação com o Sebrae vai ao encontro da atuação da agremiação para a qualificação profissional em seus eixos de atuação.
“O Sebrae tem essa compreensão da cultura e da arte como elemento empreendedor. Esse projeto traz para gente oportunidades de nos reinventarmos, de potencializar o que já é feito e de dialogar com espaços do mercado e de nos enxergarmos nesse contexto com outras abordagens”, frisou.
Um dos artistas participantes da oficina foi Lucijones Cursino, conhecido pela produção de troféus, esculturas e obras de arte para eventos culturais e festivais no Brasil, especialmente na região Amazônica. Durante o encontro, ele desenvolveu o protótipo de uma cadeira de parede que traz uma nova maneira de sentar, inspirada no tipiti, instrumento da região que é utilizado na alimentação dos ribeirinhos para extrair, por exemplo, o tucupi. “O Sérgio trouxe outros olhares sobre a arte e isso vai contribuir para o trabalho que fazemos aqui de forma inovadora”, comentou.

Outro participante foi Netto Simões que começou no artesanato para se curar de uma depressão e hoje é conhecido pela produção de bonecos do estilo Pop Funko inspirados nos personagens do Festival de Parintins. “Eu cheguei na oficina sem saber o que eu iria fazer, mas eu me redescobri naquele momento ao desenhar poltronas, bolsas. Eu percebi o potencial que tenho nas mãos para empreender em outros ramos. Sinto que estou com meu olhar mais apurado”, refletiu.
A analista do Sebrae Amazonas, Lillian Simões, que está na linha de frente do projeto no estado, explica que além das oficinas, os grupos de ambas as agremiações vão participar de capacitações voltadas para gestão, inovação, design de serviços e acesso à mercados. “Esse é um projeto que olha para o futuro de Parintins. Queremos que o município seja reconhecido com o selo de cidade criativa da UNESCO”, revelou.
Neste mês está programada a oficina criativa com grupo formado pelo Garantido com apoio da Universidade do Folclore Paulinho Faria. A diretora da escola de artes do boi, Irlany Ramos acredita que a parceria com o Sebrae vai agregar muito ao trabalho dos artistas, principalmente com conhecimentos do design.
“Nós temos essa veia criativa e essa vontade de fazer, mas essa parte teórica e de valorização do produto a maioria não tem. Isso vai aprimorar e dar uma qualidade a mais para ganhar mais aceitação no mercado”, analisa.