Natal – A arte minuciosa de dominar um finíssimo fio da fibra de sisal e trançá-lo delicadamente em uma mesa, como se fosse uma renda irlandesa, para criar peças e acessórios. Essa é a técnica usada pela artesã Laize Faustino Fernandes, do município de Ielmo Marinho, para não deixar essa tipologia artesanal tão tradicional remanescer no Rio Grande do Norte e ser transmitida a gerações futuras. Agora, a dedicação da artesã potiguar foi reconhecida e recompensada. As peças, um sousplat e um jogo americano em renda irlandesa de sisal, estão entre as ganhadoras do 5° Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, que reúne os 100 melhores trabalhos do país, eleitos neste ano. A premiação será entregue nesta quinta-feira (17), durante solenidade que será realizada no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), no Rio de Janeiro.
O objetivo do prêmio é identificar, reconhecer e valorizar as melhores práticas no artesanato para transformar em referência as 100 unidades mais competitivas, que passam por um processo de melhoria contínua. As peças ( sousplat e jogo americano) de Laize Fernandes concorreram outras 1.207 de artesãos de todas as regiões do Brasil. Para eleger as 100 melhores, foram considerados oito critérios de avaliação: qualidade técnica, qualidade estética, qualidade simbólica, qualidade da inovação, condições de trabalho, organização da produção, compromisso socioambiental, experiência comercial e estratégias de adaptação.
Além de receber o troféu durante a cerimônia, as peças vencedoras da artesã potiguar – um conjunto de dois sousplats e um jogo americano para apoio de pratos – vão integrar um catálogo comercial com informações das premiadas e um conjunto de vídeos sobre as melhores práticas divulgadas no site do Sebrae Nacional. Laize Fernandes participa ainda de encontro de negócios com lojistas convidados na próxima sexta-feira (18) e os trabalhos ficam em exposição até o dia 19, juntamente com as obras dos demais premiados.
“Fiquei muito feliz com esse prêmio. É a primeira vez que participo de uma premiação nacional, que, certamente, vai trazer visibilidade para o artesanato que produzimos. É algo importante para divulgação compor esse catálogo, além de poder expor e participar do encontro de negócios”, relata a artesã.
Difusão da tipologia
A conquista foi merecida e representa o reconhecimento de um esforço aplicado para a tipologia das tranças em sisal não desaparecer entre grupos produtivos do estado. Há pelo menos 16 anos, Laize Fernandes tem se empenhado na tarefa de difundir a técnica entre outras mulheres da comunidade do Chã do Moreno, situada nos arredores de Ielmo Marinho. A arte que aprendeu com a mãe, Margarida, foi prontamente repassada às irmãs e outras mulheres da localidade. “Ajudava minha mãe a fazer aquelas peças mais simples. Quando ela faleceu, eu me comprometi a continuar o trabalho para não acabar de vez”, conta.
Hoje, cerca de seis artesãs incrementam a produção e chegam a confeccionar em torno de 30 peças mensais, que levam de dois a quatro dias para ficarem completamente prontas. O ingresso na Cooperativa de Produção Artesanal do Crutac (Coopercrutac), no ano passado, deu um impulso no trabalho e ampliou o escoamento para outras regiões, principalmente para o estado do Ceará. Laize Fernandes chegou a participar de editais da Lei Aldir Blanc e, com os recursos aprovados, investiu na compra de materiais e equipamentos para melhorar os meios de produção das artesãs. “A gente conseguiu comprar bastante material de reserva e também banquinhos e mesas porque o nosso trabalho só pode ser feito em mesa. Ao usarmos as mesas de casa, com os objetos domésticos, fica ruim de manusear”, explica.
Para a presidente da Coopercrutac, Márcia Oliveira, a conquista do prêmio tem um significado especial para todo o grupo de artesãos cooperados. “Sabíamos que era um produto de valor e referência cultural. Por isso, o resultado é muito importante. Tivemos todo o apoio do Sebrae nesse processo de inscrição no Top 100, pois vimos que tínhamos chances de concorrer com todo o Brasil. E isso vai impactar na produção dos nossos cooperados, que ainda têm uma produção muito restrita, já que se trata de um trabalho manual demorado. Queremos usar o prêmio como pontapé para um projeto de resgate da cultura do artesanato com sisal”, anuncia Márcia Oliveira.
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