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COP30 na Amazônia destaca o papel das startups verdes brasileiras

Startups ganham protagonismo com soluções tecnológicas que aliam inovação e preservação ambiental, abrindo caminho para o Brasil como referência em sustentabilidade
Por Redação
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A COP30, prevista para acontecer em Belém (PA) em novembro deste ano, será a primeira conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada na Amazônia – e um marco geopolítico para o Brasil. Ao colocar a floresta no centro das negociações climáticas globais, o evento também representa uma oportunidade histórica para que soluções sustentáveis nascidas no país ganhem visibilidade internacional. Entre elas, despontam as chamadas green techs: startups que combinam tecnologia, ciência e propósito para endereçar desafios ambientais.

Três exemplos apoiados pelo Sebrae Startups ilustram o potencial transformador (e os obstáculos) enfrentados por empresas com impacto ambiental positivo. Quiron Digital, Biosolvit e WasteZero atuam em segmentos distintos, mas compartilham a mesma missão: mostrar que inovação verde não é futuro – é presente.

Equipe da startup Quiron Digital. Foto: Divulgação.

Quiron Digital usa dados para evitar incêndios

Fundada em 2018, em Lages (SC), a Quiron Digital surgiu da convergência entre ciência acadêmica e visão empreendedora. “Um dos nossos sócios, o professor Marcos Chimalski, já trabalhava há décadas com sensoriamento remoto via satélites. Quando nos conhecemos, vimos a chance de transformar isso em produto”, conta Gil Pletsch, fundador.

A startup passou seus dois primeiros anos testando e ajustando uma tecnologia capaz de prever incêndios florestais antes mesmo dos primeiros sinais de fumaça.

A gente atua na predição, não na detecção. Trabalhamos para que o incêndio nem comece. É prevenção pura, baseada em dados.

Gil Pletsch, fundador.

Com reconhecimento internacional – foi a única startup brasileira entre as 200 selecionadas no TechCrunch Disrupt em 2022 -, a Quiron enfrenta, no entanto, um desafio comum às deep techs: o tempo de maturação. “Startups de base tecnológica mais complexa precisam de anos até estarem prontas para o mercado. E o mercado também precisa amadurecer para recebê-las”, afirma Gil. Ele aponta a incerteza regulatória e a instabilidade de iniciativas como o mercado de carbono como barreiras reais. “Há muita oscilação. E sem políticas públicas claras, muitas startups não resistem.”

Guilhermo de Queiroz, fundador da startup de biotecnologia Biosolvit. Foto: Divulgação.

Ciência para transformar biomassa: a aposta da Biosolvit

Em Barra Mansa (RJ), o empresário Guilhermo Queiroz começou a empreender em um ramo que pode parecer distante da tecnologia: palmito. Ao descobrir que 97% da planta era descartada no processo industrial, teve um estalo: “Percebi que havia ali um problema ambiental e uma oportunidade”, conta. “O Brasil produz alimentos para bilhões e desperdiça uma biomassa imensa. Era preciso aplicar ciência nisso.”

Foi assim que nasceu a Biosolvit, uma startup de biotecnologia que transforma resíduos orgânicos em novos materiais – entre eles, absorventes naturais para derramamento de petróleo e produtos para jardinagem biodegradáveis. “É ciência aplicada à sustentabilidade”, resume Guilhermo.

A jornada da startup, no entanto, não foi fácil. “Empreender no B2B é um esforço repetitivo. Grandes empresas ainda têm dificuldade em lidar com startups. E muitas nos submetem a POCs gratuitas que não viram contrato. Isso é um desincentivo enorme”, comenta o empreendedor. Para Guilhermo, o Brasil não precisa competir em IA ou software, mas pode ser líder em sustentabilidade: “Temos biodiversidade, biomassa, ciência. Falta escala e conexão com o mercado.”

Aplicatico do WasteZero oferece produtos próximos do vencimento. Foto: Divulgação.

A missão da WasteZero é combater o desperdício com tecnologia

A trajetória da WasteZero, de Salvador (BA), começou com uma vivência pessoal. “Durante meu intercâmbio na Irlanda, trabalhei em uma fábrica de frutas e vi o quanto se descartava alimento bom. Foi ali que conheci o app Too Good to Go e pensei: por que não criar algo assim no Brasil?”, conta a fundadora Monique Santos. Assim nasceu a plataforma que conecta consumidores a lojas e mercados com produtos próximos do vencimento, em excesso ou de baixo giro. O objetivo é evitar o desperdício e transformar prejuízo em economia consciente.

O Brasil é um país de contrastes: de um lado, toneladas de alimentos vão para o lixo; de outro, milhões de pessoas vivem com insegurança alimentar. A gente atua nesse meio.

Monique Santos, fundadora.

A startup validou o modelo em campo, com escuta ativa de consumidores e comerciantes, participou de programas como o Hub Salvador e o Startup Nordeste, e está atualmente no Inventivos Tech. Para Monique, o papel das startups verdes é justamente testar modelos que rompem com lógicas ultrapassadas: “A inovação está em repensar a forma como consumimos”, ela diz. “E para isso precisamos de apoio: capital semente, redes colaborativas e políticas que enxerguem além do lucro.”

Na COP30, a WasteZero pretende marcar presença em eventos paralelos. “Queremos mostrar que dá para fazer tecnologia com impacto real. A COP é uma vitrine importante, mas também uma chance de gerar conexões e acesso a investidores de impacto”, projeta Monique.

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