Para que um produto seja reconhecido por sua qualidade baseada na origem e conquiste uma Indicação Geográfica (IG), é necessária uma mudança de mentalidade coletiva dos produtores de uma região, que geralmente vem acompanhada de muita organização e trabalho. Mas outro ingrediente poderoso deverá ser acrescido a essa receita de sucesso: a inovação.
“Toda vez que associamos a IG com ações de inteligência e inovação, ficamos muito felizes. Não é apenas uma questão de organização territorial, mas uma forma do produtor participar ativamente da proteção da sua identidade”, comenta a diretora presidente da Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (APEC), Cecilia Nakao. A gestora da Indicação Geográfica de Caparaó confia na tecnologia para melhorar o processo de registro das safras de café, que hoje é “rústico” e ainda se baseia em planilhas Excel. “Com o advento do plataforma digital das IG, teremos a oportunidade de inserir esses produtores em um projeto muito valioso, de inserir seus dados, ter a garantia de origem de seus lotes”, acrescenta.
Na visão de Cecília, a adoção dessa ferramenta será mais um passo na consolidação do café do Caparaó – especialmente o Parque Nacional do Caparaó –, localizado na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A cafeicultura se confunde com a história dos agricultores locais, que mantiveram a atividade familiar ao longo do tempo. Por já ser uma tradição nas montanhas da região, as mudanças não vieram de uma vez, pois muitos cafeicultores demoraram a enxergar o enorme potencial para ir além e colocar o grão no mapa das IG nacionais.
A mentalidade vem mudando. Os produtores que vêm trabalhando com café de qualidade, junto com a nossa associação, têm um protagonismo tão grande e uma possibilidade maior de sucessão familiar. Os jovens estão gostando de trabalhar com os pais na lavoura, eles vão vendo essa experiência exitosa da família e estão ajudando os pais a entrarem nesse mundo digital.
Cecilia Nakao, presidente da Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (APEC).
Parte da atuação da APEC se voltou para tornar a IG do café do Caparaó uma realidade e, junto com o Sebrae, iniciamos um longo processo de diagnóstico, planejamento estratégico, branding, rodadas de negócios, missões empresariais e prospecção de mercado. E o trabalho não para. Pela segunda edição consecutiva, o grão extraído da cafeicultura do Caparaó será exposto, junto com as outras 12 IG de café do Brasil, no Congresso Internacional de Inovação da Indústria, nos próximos dias 27 e 28, em São Paulo. Apesar de não estar prevista nenhuma rodada comercial, Cecília Nakao entende o evento como uma vitrine e mantém aberta a perspectiva de novos compradores, networking e, claro, oportunidades de aprendizado.
Para a analista de Inovação do Sebrae Hulda Giesbrecht, o evento na capital paulista é uma oportunidade de divulgação e de negócios para os cafeicultores, principalmente os que trabalham com IG, que já estão incorporando em seu DNA o gene da inovação.
São empreendedores que já estão aplicando, na prática, práticas com o propósito de qualificar a produção, ao mesmo tempo em que protegem a região onde se planta o café. Esse reconhecimento da IG agrega valor ao que é comercializado e possibilita o acesso a novos mercados e espaços, como o Congresso de Inovação, por exemplo.
Hulda Giesbrecht, analista de Inovação do Sebrae.
Veja abaixo a lista completa dos cafés que serão expostos e servidos no evento:
- Alta Mogiana
- Campo das Vertentes
- Caparaó
- Espírito Santo
- Mantiqueira de Minas
- Matas de Minas
- Matas de Rondônia
- Montanhas do Espírito Santo
- Norte Pioneiro do Paraná
- Região de Garça
- Região do Cerrado Mineiro
- Região de Pinhal
- Sudoeste de Minas
Sobre as Indicações Geográficas (IG)
As Indicações Geográficas são um registro que identifica regiões associadas a produtos que possuem características específicas por conta de sua origem. Devido a essa relação com o território e sua herança histórico-cultural, só é possível produzir tais produtos naquela área em questão. A função da IG é proteger a região produtora e tornar o produto mais valorizado no mercado. No caso do café de Caparaó, a denominação de origem indica, portanto, a procedência do produto. Para compradores e consumidores, ela é a garantia que os grãos foram realmente cultivados e beneficiados na região do Caparaó, respeitando os saberes e fazeres dos produtores, para assim atingir alta qualidade. Mais do que isso, ela é uma certificação de que o café local apresenta características de um terroir único, que combina fatores humanos e naturais, para proporcionar ricas experiências sensoriais.
Congresso de Inovação
O Congresso Internacional de Inovação da Indústria é o mais importante evento do setor na América Latina. O encontro será realizado nos dias 27 e 28 de setembro, no São Paulo Expo, em São Paulo. O evento é promovido pelo Sebrae e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e é idealizado pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Saiba mais aqui.