O cenário do empreendedorismo no Brasil está em expansão, como revela a publicação Empreendedorismo no Brasil 2023, lançada nesta quarta-feira (11) em live, acompanhada por mais de 1,5 mil pessoas, promovida pelo Sebrae e Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe). O estudo, baseado nos resultados da pesquisa Monitoramento Global do Empreendedorismo (GEM) do ano passado, traz um panorama detalhado sobre as atividades empreendedoras no país e aponta que ter o próprio negócio é o sonho de 48 milhões de brasileiros.
Se o desejo de todo esse contingente de pessoas se tornasse realidade, o Brasil dobraria, em um período de três a cinco anos, o número de empreendedores, trazendo grande impacto econômico e social para o país. Os números do estudo foram comentados pelo economista de Gestão Estratégica do Sebrae Marco Aurélio Bedê, que avalia o empreendedorismo como uma “grande chave para o crescimento”.
“Se a gente conseguir transformar essas pessoas que desejam ser empreendedoras em empresárias, de fato, nós estaremos promovendo uma inclusão social fantástica, porque isso traria para a atividade econômica, para a área produtiva, pessoas de baixa renda, que teriam sua renda melhorada. São pessoas de baixa escolaridade, que aumentariam sua autoestima e poderiam progredir em outras áreas, pessoas pretas e pardas, mulheres e jovens, que são todos grupos que merecem, precisam, necessitam ter uma inclusão social maior”, ressaltou Marco Aurélio.
Seja no salão de beleza, numa startup ou numa barbearia, esses empreendedores têm a criatividade e produzem processos para induzir a nossa economia. Todos aqueles que empreendem são pessoas que querem buscar o protagonismo socioeconômico das suas vidas para garantir renda e construir sua dignidade. Empreender é uma importante ferramenta também de inclusão social. E o papel do Sebrae é de compromisso com essas pessoas na condução dos seus negócios”, afirma Décio Lima, presidente do Sebrae.
Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional.
A estatística Simara Greco, coordenadora da pesquisa GEM Brasil, há 23 anos, focou sua apresentação em como o empreendedorismo se reflete especialmente em famílias de baixa renda. “A população de baixa renda e escolaridade mais baixa, é menos empreendedora. São pessoas que empreendem por necessidade, em empreendimentos informais, praticamente não geram postos de trabalho e tampouco inovação. Então, essa população merece uma atenção maior, outros programas de inclusão, além dos voltados ao empreendedorismo”, concluiu.
Nesse contexto, o estudo demonstra, ainda, que o empreendedorismo tem grande potencial de inclusão social, particularmente entre grupos como pessoas de baixa renda (70%), baixa escolaridade (77%), mulheres (55%), jovens (50%) e a população preta e parda (63%). Essa comunidade, frequentemente à margem das atividades econômicas tradicionais, encontra no empreendedorismo uma oportunidade de ascensão econômica e integração produtiva.
Ainda assim, o caminho para transformar esse potencial em realidade requer investimentos em capacitação e segmentação.
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Existem muitas teorias e muitas informações sobre os empreendedores de favelas que, na verdade, ainda são muito subjetivas. Então a gente precisa ter uma relação muito próxima para entender a realidade dos territórios e poder de fato criar ações para que essas pessoas possam ter sucesso naquilo que elas estão empreendendo.
Bruno Kesseler, empreendedor social e presidente da Central Única das Favelas do Distrito Federal (CUFA-DF).
Para ele, dados e informações sobre as favelas são imprescindíveis para mapear e traçar as melhores estratégias de aprimoramento para os empreendimentos desses territórios. “A última pesquisa da Data Favela mostra que se as favelas do Brasil fossem unificadas nós teríamos o terceiro maior estado em população. E isso é muito significativo, porque o número de favelas dobrou na última década. Hoje nós temos 3.100 favelas mapeadas no Brasil”, afirmou. Ainda conforme Bruno, “esse é um mercado que movimenta R$ 200 bilhões por ano”.
O presidente da CUFA-DF destacou também que, entre os 17,9 milhões de moradores de favelas no Brasil, 5,2 milhões são empreendedores, mas apenas 37% estão formalizados. “Isso mostra pra gente que ainda existe uma dificuldade de acesso à informação no aspecto da formalização”, complementou, ressaltando que a união de forças entre instituições pode ser capaz de mudar essa cultura.
José Alberto Sampaio Aranha apresentou o Parque de Inovação Social Tecnológica e Ambiental (Pista), programa de empreendedorismo na Rocinha, favela do Rio de Janeiro, do qual é coordenador. “Uma grande vantagem que a gente tem nesse novo cenário da favela é que as pessoas agora não se formam e saem da favela; elas querem continuar na favela, montam seus coletivos e têm um ideal em modificar aquele ambiente onde estão vivendo”, relatou. É nesse contexto que nasceu a iniciativa, que tem como objetivo descobrir qual é o plano de vida das pessoas e a partir disso, capacitá-las e prepará-las para serem empreendedoras.
De acordo com ele, o governo do Rio de Janeiro vai multiplicar os princípios básicos do projeto que nasceu na Rocinha em outras favelas, como a da Maré e do Alemão, ambas na capital, e em outros municípios no interior do estado, para “começar a trabalhar essa cultura de promover uma modificação dos territórios através da tecnologia e capacitação”.
Expansão de oportunidades
Entre os principais resultados apresentados no livro, destaca-se a retomada do empreendedorismo por oportunidade após o impacto da pandemia de COVID-19. Em 2020, cerca de 49,6% das atividades empreendedoras no Brasil surgiram por necessidade, refletindo o cenário de crise. Contudo, a recuperação já é visível, com 61,4% dos novos empreendimentos em 2023 sendo fruto de oportunidades de mercado. A expectativa para os próximos anos é que esse número continue a crescer, podendo chegar a 70%, impulsionado pela retomada econômica, a queda do desemprego e o controle da inflação.