“Entrei no cultivo de café sem expectativas, apenas deixando as coisas acontecerem”, conta o produtor Renato Rodrigues, do município de Piatã, na Chapada Diamantina (BA). “Éramos ensinados que o sucesso estava na capital. Queria sair de Piatã e estudar engenharia civil”, complementa. Seus pais tinham uma chácara, a Vista Alegre, onde produziam café e que foi o sustento da família por muitos anos. Quando a venda do grão deixou de ser lucrativa, eles se tornaram comerciantes de calçados e confecções, até que o comércio passou a ser a principal fonte de renda. Eles mantiveram a chácara, mas a dedicação já não era mais a mesma.
“Quando meu pai adoeceu e não pôde mais cuidar do café, começou a planejar transformar a propriedade rural em pasto. Eu e minha companheira Tainã Bittencourt decidimos voltar e assumir a produção”, relembra o baiano. Quando Tainã e Renato assumiram a propriedade rural, já existiam cafeeiros de mais de 20 anos no local. No primeiro ano, em 2014, o casal se dedicou a buscar informações sobre como produzir um café de qualidade, o que já era uma realidade na Chapada Diamantina, mas não era o café comercializado pela Chácara Vista Alegre na época.
Conduzimos cada etapa sobre a qual aprendemos com todo o cuidado possível, mas o custo era muito mais alto do que o café comum e nossa ideia era passar, no máximo, um ano cuidando da chácara. Além disso, éramos desconhecidos no mercado e não possuíamos tanto conhecimento sobre café. Não tinha como competir com quem já estava estruturado.
Renato Rodrigues, produtor.
Apesar dos desafios, eles decidiram inscrever o café no Cup of Excellence – o principal concurso de qualidade para cafés especiais do mundo, realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA – sigla em inglês).
“Ficamos entre os cinco primeiros!”, comemora o produtor. “Foi um momento de virada de chave. Em menos de um ano, nossa dedicação e o nosso produto foram reconhecidos em uma xícara de café. O júri não queria saber quão grande éramos ou o tempo em que estávamos no mercado, eles queriam apreciar e premiar o que eles sentiram de melhor durante as degustações.”
Com energia extra, passaram a pesquisar o mercado e perceberam que, enquanto o café da região era pouco conhecido no Brasil, já era bastante valorizado internacionalmente. “Decidimos investir no mercado interno e fomos acolhidos por algumas pessoas e cafeterias, como a 4beans, de Curitiba”, relata. A cidade do Paraná já vivia um novo momento de consumo de café, em que o trabalho dos produtores era verdadeiramente valorizado.
“Fomos surpreendidos pelo reconhecimento dos clientes, que nos parabenizaram quando estivemos em Curitiba”, afirma Renato. Desde então, eles passaram a receber consumidores na propriedade. “Eles queriam conhecer a propriedade, tocar o café, sentir e ver a terra. No início, foi muito impactante”, relata. Tudo aconteceu tão rápido e de forma inesperada, que Renato e Tainã decidiram continuar se dedicando ao café.
O estímulo financeiro nesse início também foi fantástico. Quando o café foi premiado, em seguida participou de um leilão e o valor do arremate chegou a 10 vezes o preço de mercado.
Renato Rodrigues, produtor.
Com a mudança nos planos, o casal foi morar na Vista Alegre, construíram casa, reformaram espaços, mas quando chegou o período de colheita, faltava dinheiro. Foi então que Renato procurou o Sebrae. “Participei de capacitações que contribuíram significativamente para minha formação em gestão e até na produção. No primeiro ano, não soube lidar com o dinheiro que recebi. No Sebrae, aprendi a importância de uma gestão financeira eficaz, controlando as receitas e despesas ao longo do ano”, exemplifica.
Para ele, um dos cursos mais impactantes foi o de “Qualidade Total Rural”, focado em facilitar o dia a dia dos empresários rurais e levar conhecimento sobre o gerenciamento da propriedade. “Esse curso mexeu bastante comigo, lembro de cada detalhe.”
Café Especial
A qualidade do café da região é resultado da soma de diversos fatores. “Estamos na cidade mais alta do Norte e Nordeste, a 1.268 metros de altitude, onde um microclima peculiar se destaca como ideal para a produção de cafés especiais e favorece um amadurecimento mais lento dos frutos, permitindo que absorvam mais sais minerais e açúcares. Como consequência, nossos cafés oferecem sabores únicos e excepcionais, refletindo a riqueza do nosso terroir, esclarece.
A fase de colheita é igualmente importante, feita de forma manual e seletiva. Apenas os frutos maduros são colhidos. Na sequência, há um processo de seleção bastante criterioso para “aproveitar o melhor o que a terra entrega”. Com todo esse conhecimento adquirido e acumulando dezenas de prêmios, Renato passou a dar palestras sobre o cultivo e a realizar Dias de Campo em parceria com o Sebrae. “São sete anos construindo uma história juntos”, comemora.
Recentemente, o Sebrae apoiou também um evento importante na região organizado pela Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã (Copiatã), da qual Renato faz parte, em parceria com a Prefeitura. A primeira edição do Encontro Café e Cultura recebeu mais de três mil pessoas durante três dias e contou com a participação dos maiores especialistas do Brasil.
Agora, estamos estudando com o Sebrae o desenvolvimento de uma marca, com estratégia e produtos que possam ser vendidos para quem visitar a chácara, como camisetas, bonés e café em embalagens menores. Por enquanto, são só ideias. No futuro, quem sabe também um e-commerce.
Renato Rodrigues, produtor.
Atualmente, o café in natura produzido na Chácara Vista Alegre é exportado para Austrália, Estados Unidos e Japão e vendido para as principais torrefações do Brasil. É possível encontrar o café da Vista Alegre em 18 estados. “Me sinto realizado como produtor. Nunca imaginei que o que faço hoje poderia me trazer tanta satisfação”, garante.