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Tradição e identidade das IGs ultrapassam gerações e fronteiras

Evento internacional de Indicações Geográficas de Artesanato que acontece na capital carioca reúne especialistas do Brasil, Peru, Colômbia, México e França
Por Da Redação
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Um sentimento de reconhecimento! Artesãos tradicionais e especialistas do Brasil, Peru, México, Colômbia e até da França manifestaram a mesma constatação: a Indicação Geográfica (IG) reforçou a autenticidade dos seus produtos, sempre feitos com qualidade, dedicação e técnicas que, às vezes, remetem a tempos de antes da chegada dos europeus nas Américas. Esse foi o centro dos painéis da tarde desta quinta-feira (29), no encontro Origens Brasileiras Artesanato – I Evento Internacional de Indicações Geográficas de Artesanato, que acontece no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro, no Centro do Rio de Janeiro.

“Sempre que viajo, eu pergunto ao vendedor de redes de onde vem o produto dele. A resposta costuma ser que a rede é de Jaguaruana, que é um nome conhecido nacionalmente. Mas eu que conheço a rede de lá, sei que não é verdade”, contou José Pinheiro Júnior, um dos diretores da associação das redes de Jaguaruana, no Ceará, ressaltando que a IG comprova o trabalho para se fazer tal produto, gerando segurança ao consumidor. No caso das redes, elas passam por 15 pessoas, em 30 dias, para ficar pronta. Chega à máquina somente para fazer tecelagem. Quem compra uma rede de Jaguaruana sem o selo não compra a rede original.

Não é só em países em desenvolvimento que a IG protege os interesses dos artesãos e torna o produto mais valorizado no mercado. A associação que vende as pedras da região de Borgonha, na França, foi a primeira a usar a ferramenta para proteger os direitos de propriedade contra vendas de produtos diferentes na internet e contra gigantes do comércio. O processo jurídico resultou em um ganho de 25 mil euros.

“Com a IG, uma pequena empresa pode ganhar de uma grande”, contou Antoine Ginestet, chefe de IGs no INPI França.

A diferença entre um grande produtor e um pequeno é também de escala. “Enquanto fazemos cinco panelas, eles fazem 100”, ironizou Berenicia Nascimento, da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo, que trabalha no ofício há 53 dos 64 anos de idade. “Uma panela demora de cinco a seis dias para ficar pronta. Se acabar os artistas, acabou a panela”, defendeu Berenicia.

Camilo Prada, da Cerâmica Negra de La Chamba, na Colômbia, revelou que um produto similar à cerâmica da sua região também é vendido por outros produtores como se fosse a original. No entanto, nenhuma delas têm a tradição que remete a tempos pré-colombianos: era nessa área que se produzia as melhores cerâmicas para fins religiosos, como urnas funerárias para os grandes guerreiros. Agora, sua cor negra virou marca registrada que aparece até mesmo em desenhos da Disney. Apesar do reconhecimento, Camilo comentou um desafio que atinge outros artesãos: o desinteresse por seguir no trabalho ancestral.

A conexão com a academia pode ser uma alternativa para a continuidade e o fortalecimento das IGs do Artesanato. Um mestrando da Universidade Federal de São João Del Rei procurou os artesãos têxteis de Resende Costa, perto de Tiradentes (MG), para ajudar a fazer a IG. As feiras também surgem como solução, como aconteceu com o capim dourado, do Jalapão (TO). “A partir do momento em que foram para feiras, no fim do século XX, tudo mudou. As pessoas compram casa, carro, pagam faculdade com o artesanato. Exportam para vários países”, contou Celina Soares, analista técnica do Sebrae em Palmas. Mas nem eles parecem escapar das tentativas de falsificação, foram noticiados vários casos de tentativa de se usar o capim dourado por empresas europeias.

O que parece ser uma constante entre as associações de sucesso é a manutenção da tradição, mas sem se fechar para as inovações. José Jesús Rivas López, das cerâmicas de Chulucanas, no Peru, lembra que chegou a contratar uma designer para que os trabalhos tradicionais se tornassem além de decorativos. Ser utilitária era uma exigência do mercado”, contou. “Inovamos em desenho, sem medo de nos reinventarmos”, detalhou López, entusiasmado. O Origens Brasileiras Artesanato – I Evento Internacional de Indicações Geográficas de Artesanato, segue nesta sexta-feira (30) e a programação completa pode ser conferida aqui.

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