A startup Zero Esgoto revolucionou o mercado com a criação de um sistema inovador que transforma esgoto em água própria para irrigação e aquicultura, alcançando a marca de 6 mil estações de tratamento instaladas no Brasil. A solução modular é de fácil instalação, não demanda energia elétrica e chega a sair quatro vezes mais barata que o sistema convencional, atendendo desde casas residenciais a cidades inteiras. Bastaram oito anos para que esse negócio de alto impacto social saísse do papel e se posicionasse entre as Top 250 da Entrepreneurship World Cup.
Saneamento básico ainda é um dos grandes desafios globais e, sendo um negócio de impacto social, queremos ser parte da solução.
Célio Sathler, CMO da Zero Esgoto.
No mundo, mais de 2,3 bilhões de pessoas vivem sem saneamento adequado. De acordo com o Instituto Trata Brasil, 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e mais de 90 milhões não têm coleta de esgoto. Além disso, somente 50% do volume de esgoto do país recebe tratamento.
Fundada em 2016, em Irupi (ES), pelo capixaba Orbino Werner, a Zero Esgoto desenvolveu um sistema que transforma o esgoto em água limpa, classe II, equivalente ao mesmo nível de limpeza das águas da chuva ou de um rio. A solução, que foi criada após longo período de estudos, chega a lugares de difícil acesso e sem planejamento viário. O processo de tratamento é 100% natural, com o uso de biomassa que contém uma mistura de bactérias, sem produtos químicos. O esgoto é tratado em um processo de hidrólise e, em torno de seis horas, resulta em água classe II, que permite sua reutilização.
“Outro diferencial do nosso sistema é que ele não gera lodo ou resíduos sólidos, que é o que encarece o uso de sistemas convencionais”, explica Sathler. De janeiro a setembro de 2024, a startup fechou contratos com grandes empresas e com o poder público para atuar em projetos estratégicos de diversos estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. A Zero Esgoto ainda participou de evento oficial do G20, realizado no Dia Mundial dos Oceanos, em junho.
Projetos de recuperação
A Zero Esgoto atua em projetos importantes no país: a recuperação da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e da Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. O executivo conta que o projeto da Baía de Guanabara tem parceria com a concessionária Águas do Rio e é realizado a partir da Favela Tavares Bastos, no Morro da Nova Cintra, no bairro do Catete, onde ele está levando seu sistema para tratamento do esgoto das casas da região.
Esse projeto é um exemplo de como o saneamento universal pode ser um vetor de mudança socioeconômica, proporcionando ganhos significativos em saúde e educação. Ao tratar o esgoto nas comunidades, estamos reduzindo diretamente a incidência de doenças e melhorando as condições de vida.
Célio Sathler, CMO da Zero Esgoto.
Já na Bacia do Rio Doce, o projeto prevê o uso do sistema da Zero Esgoto nas casas em torno dos rios que desembocam na bacia hidrográfica. A iniciativa faz parte do plano da Fundação Renova para recuperação da região e comunidades, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).
A startup foi escolhida também para realizar o tratamento de esgoto no maior complexo de porto-indústria privado de águas profundas da América Latina, o Porto do Açu, no Rio de Janeiro; e no programa de inovação aberta da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para implementação de sistemas unifamiliares da Zero Esgoto na cidade de Pinhalzinho.
Sathler cita ainda a instalação, no início de setembro, de sistemas para tratamento do esgoto do Quilombo Povoado Kalunga do Engenho II, na Cachoeira Santa Bárbara, na Chapada dos Veadeiros (GO); e a aprovação pelo governo do Rio Grande do Sul para que as cidades afetadas pelas chuvas no primeiro trimestre possam contratar a solução de tratamento de esgoto durante a reconstrução dos municípios.
Internacionalização
Em 2025, a Zero Esgoto pretende buscar captação com investidores para acelerar o crescimento no Brasil e internacionalizar sua operação. A empresa já negocia um piloto em Braga, Portugal, e tem parceria com a Universidade Nacional de Singapura.
“Singapura é a ‘meca’ do tratamento de esgoto, referência mundial no assunto”, elucida Sathler. “O interesse deles em nossa tecnologia mostra que estamos no caminho certo”, comemora. Ambos os países entraram no radar da startup por intermédio de eventos do Sebrae no exterior, como a Semana de Inovação e Tecnologia de Singapura, em 2022, e o Web Summit 2023, em Lisboa. “O Sebrae foi primordial para a visibilidade do nosso projeto”, ressalta.
Além disso, a Zero Esgoto venceu o Desafio Like a Boss em 2023 na categoria mercado internacional (em nível de maturidade compatível com internacionalização) e foi finalista do Capital Empreendedor 2024, também promovido pela instituição. Agora está entre as Top 250 da Entrepreneurship World Cup, que acontece em novembro na Arábia Saudita, e é uma das finalistas do Get in the Ring, também em novembro, na Holanda, considerada a maior competição de pitching (discurso de venda) do mundo.