Natal – A biotecnologia, que já é largamente utilizada na pecuária, sobretudo a bovina, começa a ser também uma aliada dos apicultores. Com o apoio do Sebrae no Rio Grande do Norte, um grupo de apicultores atendidos pelo projeto Desenvolvimento Setorial nos Territórios – Apicultura da instituição passou a usar o melhoramento genético de abelhas como ferramenta de inovação, visando o aumento da produção. Abelhas rainhas, que foram geneticamente melhoradas para dar alto rendimento, estão sendo introduzidas nas colmeias com a expectativa de ampliar a produtividade de mel nos apiários. A experiência está sendo desenvolvida no município de Serra do Mel, que fica a 300 quilômetros de Natal, na região Oeste do estado.
Antes mesmo da implantação do projeto de colonização da Serra do Mel, que surgiu na década de 1970, a região, onde atualmente encontra-se o município de Serra do Mel, já era conhecida por esse nome devido à grande quantidade de mel silvestre produzido pelas abelhas existentes em abundância na região. Após sucessivos períodos de estiagem, que reduziram as floradas, muitos enxames foram dizimados, como ocorreu em todo o sertão potiguar, afetando diretamente a produção de mel. Nesse processo de recuperação da atividade, o Sebrae tem desenvolvido ações para auxiliar os apicultores da região a encontrar alternativas para viabilizar o negócio.
Uma delas foi a renovação da genética dos enxames. No fim do mês passado, os apicultores participantes do projeto receberam 120 abelhas rainhas virgens da espécie Apis mellifera L. (africanizadas), melhoradas geneticamente para alta produtividade de mel e alto comportamento higiênico. Com subsídios do projeto, os produtores estão recebendo consultorias de gestão do negócio e todo o acompanhamento técnico para o bom êxito da experiência.
Segundo a gestora do Projeto Desenvolvimento Setorial nos Territórios – Apicultura do Sebrae-RN, Honorina Eugênia Medeiros, a expectativa é que a partir dos resultados obtidos com essa tecnologia, o trabalho exitoso seja ampliado para outros grupos. “Queremos disseminar essa inovação entre os demais apicultores para aumentarmos assim a produtividade das nossas colmeias”, explica.
De acordo com o zootecnista, Charle Paiva, consultor que acompanha os apicultores da região, o trabalho envolve ações desde a numeração das caixas, localização dos apiários com colmeias, alimentação de enxames até a organização dos barracões. Os apicultores também receberam um acompanhamento de produção individual para cada enxame.
Com a introdução das abelhas, a equipe de consultores credenciados do Sebrae está monitorando o desenvolvimento desses enxames com a fecundação das rainhas. Técnicos e apicultores vão observar o comportamento em termos de produtividade. Caso bem sucedida, a ideia é ampliar a experiência para mais produtores.
“Os apicultores estão confiantes que, com essa inovação aplicada em suas atividades, terão bons resultados e aumento de produtividade”, afirma o consultor Charle Paiva. O Sebrae disponibilizou consultorias de forma subsidiada para os apicultores, da seleção das matrizes à introdução das rainhas nos enxames.
Alterando a genética
Segundo Charle Paiva, que é mestre em Ciência Animal, o processo para melhorar o padrão genético das colmeias iniciou com a escolha das matrizes mais produtivas. As abelhas foram enviadas a uma empresa especializada em genética, no estado de Minas Gerais, onde as matrizes foram submetidas a protocolos de seleção e melhoramento específicos. “Após todo o procedimento, o material genético resultante foi devolvido aos apicultores na forma de rainhas virgens”, relata.
Mais de 120 abelhas rainhas virgens melhoradas geneticamente foram transportadas de volta via Correios, seguindo todos os protocolos de segurança e a legislação sanitária animal. Cada abelha virgem foi inserida em gaiola individual, juntamente com cinco abelhas acompanhantes, responsáveis por cuidar da rainha durante o trajeto.
Os recipientes também foram abastecidos com alimentação – açúcar triturado e uma pasta à base de mel, chamada de candy – e água embebecida em um pedaço de algodão para os insetos se hidratarem durante a viagem. “Coisa mesmo de primeira classe”, acrescenta o consultor.
Recepção
O tratamento VIP continuou. Cinco dias depois, o material chegou em Mossoró, onde as abelhas receberam todos os cuidados necessários. “Quando não introduzidas nas colmeias no mesmo dia em que são recebidas, as abelhas precisam ficar alojadas em um local, de preferência escuro, sem incisão direta de raios solares, longe de outras fontes de calor excessivo e a salvo de formigas, que possam matá-las”, ensina Paiva.
Os cuidados também ocorreram nas propriedades. Três dias antes da introdução, os enxames tiveram de ser orfanados (ficaram sem rainha) para recepcionar as novas chefes das colmeias. “O processo de introdução de rainhas é bastante simples, mas necessita de cuidados e muita atenção. As nossas foram introduzidas com sucesso”, relata Charle. Todos os procedimentos de campo foram acompanhados pelas equipes do projeto, que repassaram as orientações necessárias aos produtores de Serra do Mel, visando obter o máximo de eficiência.