A liderança do Brasil com o maior produtor e exportador de café abre janelas de oportunidades para os pequenos produtores no mercado internacional, principalmente para aqueles que se diferenciam pela qualidade, práticas sustentáveis e origem rastreável. Na Inglaterra, a marca Ozone Coffee oferece o café brasileiro diretamente da Fazenda Nova Aliança, localizada em Monte Santo de Minas (MG).

A produtora mineira Juliana Paulino exporta grãos há quase 13 anos para os mesmos compradores britânicos. “Enviamos uma amostra sem expectativas e, aos poucos, os pedidos foram aumentando. Todos os anos, eles vêm pessoalmente nos visitar e ver de perto o que estamos fazendo. Eles gostam de saber da história, saber de onde vem o café. Essa proximidade gera confiança que faz toda a diferença nas negociações”, comenta.
Além da Inglaterra, os grãos de café especial seguem também para Irlanda e Nova Zelândia. Atualmente são exportados de seis a oito containers por ano. “A qualidade é uma exigência, mas o mercado internacional também valoriza muito a responsabilidade, sustentabilidade em todos os níveis”, acrescenta.
Para exportar, tem que ter estratégia
No Dia Mundial do Café, comemorado nesta segunda-feira (14), o analista de Acesso a Mercados do Sebrae Nacional Gustavo Reis enfatiza que para ter sucesso nos negócios fora do Brasil é preciso que os pequenos produtores tenham uma estratégia de mercado bem definida.
O café brasileiro como commodity já alcança vários países do mundo, então o desafio para os pequenos é agregar valor, seja por meio da sua história, origem ou até mesmo com a venda de produtos de forma exclusiva, com pequenos lotes.
Gustavo Reis, analista de Acesso a Mercados do Sebrae Nacional.
Ele acrescenta que a união de pequenos produtores de café, por meio de cooperativas e associações, tem um papel importante no processo de contar a história e atrair os compradores estrangeiros para um turismo de negócios.
É o caso do café produzido pela propriedade da Juliana, que tem o registro de Indicação Geográfica (IG) do Sudoeste de Minas, que reúne 21 municípios da região. A chancela do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), na modalidade Indicação de Procedência (IP), foi conquistada com apoio do Sebrae Minas.
O analista do Sebrae Nacional aponta que o selo de IG é um exemplo de garantia que o café tem história, qualidade e reputação – características que são muito valorizadas no mercado internacional e que, aos poucos, ganham notoriedade no mercado interno também.
Alta qualidade e sabor diferenciado

O café produzido na Fazenda Nakamura, localizada no município de José Gonçalves, na região do Vale do Jequitinhonha (MG), também é saboreado fora do Brasil. A produção de café especial de alta qualidade inicialmente iria apenas para a Austrália, mas agora já atende o mercado dos Estados Unidos, Canadá e Europa com a venda de microlotes, por meio da empresa Noca Coffee, representante comercial do Sul de Minas.
Segundo o produtor Cláudio Nakamura, o principal diferencial são seus grãos fermentados, que atingem acima de 85 pontos.
Esse tipo de café é muito apreciado pelo pessoal lá fora e já começa a ser mais consumido no Brasil também.
Cláudio Nakamura, produtor de café.
Nakamura conta que sua propriedade não recebe visitas de compradores internacionais, mas acredita que é uma tendência que não vai demorar muito a chegar. Ele também ressalta que o mercado internacional valoriza muito as boas práticas de sustentabilidade.
Até o ano passado, toda colheita era feita de modo manual, mas por questões de falta de mão de obra, foi preciso adquirir maquinário. “Eu gosto de trabalhar com pessoas. A colheita manual é um trabalho feito com cuidado e carinho com as plantas”, frisa.