Retirar o barro, estocar, modelar, pintar e queimar são só alguns dos processos que a artesã Adriana Xavier realiza todos os dias. Ela trabalha com a matéria-prima desde os 12 anos de idade, e já completa 25 anos no ramo. Natural de Turmalina (MG), Adriana é oriunda de uma família na qual a renda era complementada com o artesanato. “Meus avós e minha mãe trabalhavam na lavoura, mas o artesanato nos ajudava a sobreviver”, conta a oleira que foi uma das vencedoras do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato em 2022.
Por morar em uma região que as ofertas de emprego são escassas e os jovens precisam sair da cidade para cursar o ensino superior, Adriana seguiu os passos da família por necessidade e por ser encantada pelos ensinamentos que lhe foram passados. “Esse foi o diploma que minha família me deu”, celebra. Ela faz parte da Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo, localizada em sua cidade, e fortalece os vínculos comunitários com outras mulheres que produzem utilitários e decorativos feitos de barro. Tudo é preparado de forma natural e sempre respeitando e preservando o meio ambiente.
Para Adriana, o ofício não é nada fácil, mas avalia suas habilidades como um trabalho de muita dedicação e que a faz admirar a si mesma. “Eu gosto muito de ser artesã porque é uma profissão que me tornou independente. Hoje toda a minha renda vem do artesanato. Estou continuando o legado da minha família trazendo minha filha junto comigo”. Atualmente, ela comercializa seus produtos em casa e divulga pelas redes sociais.
Adriana é uma entre os 8,5 milhões de artesãos existentes no Brasil. Um universo formado em sua grande maioria por mulheres e que movimenta em torno de R$ 100 bilhões por ano – cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Essa produção artesanal gera inúmeras ocupações, seja na produção, seja na comercialização de produtos e o artesanato brasileiro mostra-se cada vez mais fortalecido.
Para homenagear esses empreendedores e ajudar na elaboração de políticas públicas que valorizem o trabalho dessa categoria, o Centro de Referência Sebrae do Artesanato Brasileiro (CRAB) Sebrae realiza na próxima terça-feira (21), um evento de celebração do Dia do Artesão. A programação começa às 14h30 e conta com painéis sobre mercado do artesanato e políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor no país. O encontro busca promover e reconhecer a importância dessa classe que gera renda, ajuda a girar a economia e é tão significativa para a cultura.
Os interessados podem prestigiar o evento no auditório do CRAB, localizado na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro, ou assistir a transmissão on-line pelo YouTube. Para as duas opções, é necessária inscrição pelo Sympla. Vale lembrar que o Centro foi recentemente indicado em matéria do jornal The New York Times, um dos mais importantes do mundo, como um dos melhores locais para ver e comprar peças artesanais do Brasil.
Assim como Adriana, a artesã Monica Carvalho também usa a natureza para confeccionar suas peças. O Atelier, que leva o nome da artista, contribui desde 1998 na conscientização da preservação da flora através do artesanato. Sementes, fibras, pedras e toda sorte de sobras orgânicas são resgatadas de forma consciente e sustentável, transformadas em painéis, esculturas, objetos de decoração, bolsas e bijoux.
Ela conta que antigamente não existia artesanato feito de produtos orgânicos e que os produtos feitos por ela não eram nem classificados. “Quando eu pedia semente, eu recebia sementes para plantio. As pessoas não entediam. Hoje meu trabalho tem maturidade na produção sustentável”. A artesã já ganhou por cinco vezes o Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato. Monica também foi uma das selecionadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para expor seus produtos em Nova York em 2013. O Atelier Monica Carvalho tem um showroom em Copacabana e um site de divulgação das peças.
Mikka Wentz também é uma artesã que desenvolveu suas habilidades desde cedo. Ela diz que nasceu no artesanato porque o avô, a mãe e as tias trabalhavam com isso. Seu espaço, o Studio Mikka, funciona desde 2015 em Vitória, Espírito Santo. A artista plástica produz flores, painéis, luminárias, pendentes e objetos decorativos a partir de um conceito socioambiental.
“Eu só trabalho com matéria-prima natural, desde os fios de amarrar as colas impermeabilizantes. Não utilizo nenhum tipo de elemento que agrida a natureza, nem colas sintéticas, nem pigmento sintéticos”, afirma. O papel feito de fibras naturais que Mikka emprega em suas criações é resultado do trabalho de camponesas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), situada na região do Caparaó Capixaba. Mulheres que vivem do cultivo e manejo de culturas como café, banana, cebola e alho, na entressafra dedicam seu tempo para fazer um papel com o excesso dos resíduos da colheita. Essa parceria resulta em artefatos decorativos com design autoral, e tudo dentro do ciclo renovável das plantas.
Segundo ela, ser artesão não é uma escolha, é uma consequência de nascer dentro de um núcleo de artistas ou possui um talento e desenvolver as habilidades. Mikka conta que o artesanato é um ideal de vida, que o trabalho com a mão, o visual, os sentidos, é o que a faz feliz. “Tenho 68 anos e hoje eu não me vejo voltando a trabalhar com outras coisas que já fiz. Na minha época de juventude o importante era ser secretária, bilíngue, fazer concurso para uma grande empresa. Artesanato era uma palavra que não se usava, nunca se ouvia falar”.
Mikka já ganhou duas vezes o Prêmio Top 100 de Artesanato, e segundo ela, o Sebrae foi responsável por abrir portas para o artesanato brasileiro através de reconhecimento e apoio: “Se não tivesse essa consciência do Sebrae de assumir o papel e tomar as rédeas do artesanato nas mãos, os governos dos estados não teriam feito isso”.
Serviço
Data: 21 de março de 2023
Local: Centro de Referência Sebrae do Artesanato Brasileiro (CRAB) – Praça Tiradentes, 69 – Rio de Janeiro/RJ
Hora: 14h30
Transmissão ao vivo: https://www.youtube.com/@CRABSebrae
Programação e inscrições (gratuitas): https://bit.ly/3JIDusC
Confira aqui as peças das artesãs: