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Mães e empreendedoras: a força feminina que fomenta a bioeconomia na Amazônia

A maternidade pode ser a motivação para criar empreendimentos sustentáveis
Por Redação
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No próximo domingo (14) é Dia das Mães, data que celebra a vida de mulheres que sabem o que é conciliar maternidade e trabalho. Pensando nisso, a Agência Sebrae de Notícias traz três histórias de mães que possuem negócios na região da Amazônia com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis. Ambas tiveram seus empreendimentos acelerados pelo Inova Amazônia, programa do Sebrae que apoia ideias inovadoras que fortaleçam a identidade do bioma e sua preservação.

Amazô Kombucha

Gabriela Zolinger é bióloga e conta que se interessou por produção de kombuchas, bebidas à base de chá verde fermentado, quando o filho João Caetano, de 3 anos, iniciou a fase de introdução alimentar aos seis meses de idade. Esse período impulsionou seus estudos sobre alimentação saudável, e os benefícios da bebida chamaram atenção. Ela alinhou a formação em microbiologia e fermentação e começou a se especializar e produzir kombuchas em casa. Os clientes passaram de amigos próximos para revendedores.

A empreendedora explica que a kombucha é uma bebida que precisa de registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para comercialização, e por isso decidiu registrar e abrir a fábrica da Amazô Kombucha, se tornando a primeira e única kombucharia e Rondônia certificada pelo Mapa. “Eu me orgulho muito disso, porque foi uma história que começou como um hobbie familiar de alimentação saudável e se transformou em uma empresa pioneira no estado”.

O próximo foco da Amazô é o lançamento de sabores amazônicos, que valorizem o potencial de produtos da região amazônica. “Nós acreditamos muito no circuito natural de preservação de florestas, por isso nós temos um projeto em bioeconomia e a sustentabilidade é um dos nossos principais valores”, afirma Zolinger. Atualmente as kombuchas são comercializadas na venda direta para o consumidor em Vilhena (RO) e revendidas em padarias, supermercados, restaurantes e lojas de produtos naturais.

Para a bióloga, onde nasce uma mãe nasce uma empreendedora: “O Caetano veio ao mundo e virou essa chave na minha cabeça. Muitas vezes conciliar essas duas vidas acaba sendo muito cansativo, mas eu sei que o meu filho terá orgulho de mim. Então eu não posso parar”. Gabriela acredita que o empreendedorismo e a maternidade têm um potencial gigantesco para fomentar uma história de empreendimentos sustentáveis que valorizem uma gestão acolhedora ao feminino.

A Amazô participou do programa Inova Amazônia em 2022 e a experiência em mentorias, workshops e oficinas foi um divisor de águas no desenvolvimento da empresa. Com essa oportunidade, a empreendedora participou de editais para apresentar a empresa em eventos nacionais e foi a representante de Rondônia na Missão Brasil-Alemanha de internacionalização.

Saboaria Rondônia

A Saboaria Rondônia é a primeira indústria de cosméticos de Rondônia idealizada e gerenciada por mulheres rurais. A criadora, Mareilde Freire, estava passando por um problema de pele desencadeado pela menopausa em 2015 quando começou a estudar cosmetologia e descobriu que sabonetes de glicerina aliados a insumos amazônicos ajudavam a restaurar a pele. Ela teve a ideia de trazer as mulheres da família para ajudá-la, e assim a filha, Jaqueline, e as irmãs entraram na produção.

A pequena indústria de beleza natural foi formalizada em 2019 com os objetivos de empoderar as mulheres rurais, valorizar a cadeia produtiva de insumos amazônicos e reflorestar a Amazônia a partir do aproveitamento da semente de buriti. Por utilizarem o óleo da planta em diversos produtos, elas aproveitam a semente residual da produção e plantam novas palmeiras na região. Mareilde afirma que o buriti é a árvore da vida, e que suas raízes atraem o curso da água. Fazendo isso, a família pretende retribuir tudo o que o estado deu para elas. “Nós viemos de Minas Gerais e Rondônia nos acolheu. Essa é uma região que sofreu e sofre muito com o desmatamento e nosso maior propósito é minimizar esses danos”, diz.

A administradora de formação afirma que trabalhar em conjunto com a filha fortalece o propósito de valorização das mulheres: “Sozinha você vai, mas devagar e não muito longe”. A empresa familiar também conta com a ajuda de seus netos. Os dois filhos de Jaqueline, os adolescentes João e Pedro, ajudam no marketing e na alimentação do e-commerce da Saboaria Rondônia. São 14 produtos comercializados pela internet, em dois pontos de São Paulo e também por meio de consultoras. “Depois que nos tornamos mães, temos sonhos e responsabilidades com a criação dos nossos filhos. Eu sou mãe solo, e para mim não tem motivação maior do que lutar para ver o desenvolvimento dos meninos”, relata Jaqueline.

Carne de Jaca

O surgimento do empreendedorismo na vida da Edivângela Silva tem tudo a ver com as características do seu filho José Miguel, de seis anos. Vegetariana há oito anos, a também professora municipal no distrito de Taquaruçu, em Palmas (TO), naturalmente não ingeriu carne durante a gestação. Desde que o filho iniciou a introdução alimentar, nunca demonstrou gostar do alimento. “Tentamos dar todos os tipos de carnes, mas ele acabou desenvolvendo algum tipo de bloqueio no organismo porque na gravidez não teve contato com carne. Se tornou algo natural para ele”, conta a mãe.

Foi em 2020, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, que Edivângela e o marido conheceram a versatilidade da carne de jaca. Os dois começaram a fazer testes culinário utilizando jaca verde a partir da árvore da fruta que possuíam no quintal de casa. A primeira pessoa que gostou foi José Miguel. Despretensiosamente, Edivângela começou a anunciar a venda do produto pelo WhatsApp para amigos e conhecidos veganos e vegetarianos. Através de divulgações espontâneas, a empreendedora começou a receber muitas ligações perguntando se tinha carne de jaca disponível, e ela percebeu que esse era um produto a ser explorado.

Formalizado em 2021, o empreendimento também foi acelerado em 2022 pelo Inova Amazônia. A empresa “Carne de Jaca” leva o nome do seu único produto, que é comercializado em estabelecimentos locais de Palmas e Porto Nacional e através de entregas esporádicas. Com o avanço na produção, Edivângela deixou de colher as jacas para comprar em maior quantidade. Ela prioriza a compra da fruta com produtores locais: “Essas jacas viram resíduo nos quintais dos pequenos produtores, eles geralmente não têm perspectiva de usar. Nós conseguimos mudar essa lógica e destinar os produtos para a mesa das pessoas, fomentando o ecossistema e diminuindo o lixo”.

Edivângela destaca que nunca imaginou que seria empreendedora, mas que o fortalecimento que adquiriu quando se tornou mãe a mostrou que tudo é possível. Fornecer um alimento que é uma opção nutritiva tanto para o seu filho quanto para as demais pessoas que escolhem não consumir produtos de origem animal é sua maior motivação. Hoje, ela se considera em transição de carreira, já que se aposentará em sete anos e pretende seguir exclusivamente com a Carne de Jaca depois.