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Entrevistas com comunidades quilombolas destacam coletividade e conscientização socioambiental

Sebrae Nacional finalizou coleta de depoimentos para a COP30 no Povoado do Moinho, em Alto Paraíso de Goiás
Por Izabela Carvalho
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No segundo dia dedicado à coleta de depoimentos de lideranças locais, a equipe do Sebrae Nacional esteve, nesta terça-feira (02), no Povoado do Moinho, em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros (região nordeste do estado). A programação visa ouvir experiências e levantar informações que irão compor um Manifesto de Políticas Públicas para os Pequenos Negócios, a ser lançado durante a COP30, em novembro, em Belém (PA). No dia 1º, a equipe esteve na comunidade do Engenho II, no Quilombo Kalunga, em Cavalcante.

As entrevistas tiveram como objetivo compreender o papel das comunidades tradicionais e dos pequenos negócios no enfrentamento das mudanças climáticas e no fortalecimento do turismo de base comunitária, da agricultura familiar e de práticas empreendedoras sustentáveis. Além disso, foi possível observar o sentido de pertencimento, com destaque para os saberes dos ancestrais.

Lucas Luis Gomes, o Lucas Quilombola, líder comunitário, durante entrevista para o Sebrae Nacional | Foto: Edmar Wellington

No quilombo do Moinho atualmente residem cerca de 80 famílias de descendentes de quilombolas. Lucas Luiz Gomes, mais conhecido por Lucas Quilombola, é presidente da Associação Quilombola Povoado do Moinho (AQPM) e falou sobre a importância do turismo de base comunitária e destacou as principais dificuldades do povoado.

A questão da regularização fundiária do quilombo figura entre os principais problemas enfrentados pela comunidade, pois a falta do documento é impeditivo ao acesso a benefícios. Além disso, a preocupação com as mudanças climáticas também afeta a comunidade, já que a alteração do período das chuvas interfere na produção de muitos frutos usados em produtos artesanais.

Já em relação ao turismo, Lucas tem no quintal de casa a produção de rapaduras, que estão incluídas entre as 12 experiências formatadas no projeto Brasil Original. Ele também ressalta a importância do turismo receptivo do sistema de cama e café, para as famílias da comunidade.

Maria da Conceição Moura Gomes se destaca como empreendedora no povoado e tem o Restaurante Dona Conceição | Foto: Edmar Wellington

Com vontade de ter melhores condições, Maria da Conceição Moura Gomes, que é mãe de Lucas, se destaca como empreendedora no povoado. Proprietária do Restaurante Dona Conceição, que atende por agendamento há três anos, compartilhou sobre a decisão de criar um espaço para receber turistas, atraídos pela comida caseira que produz.

O protagonismo de Conceição tem sido exemplo e agente de transformação na comunidade. Depois de aposentar-se da função de cozinheira da escola da comunidade, decidiu montar o próprio negócio. Hoje, o Restaurante Dona Conceição recebe turistas por agendamento para almoço e jantar.

Segundo ela, o turismo mudou a comunidade, porque gera trabalho que transformou não apenas a própria vida, mas a de muitas outras mulheres da comunidade que produzem artesanato. “Eu consegui montar a cozinha, trocar o telhado da minha casa e construir o espaço onde recebo os visitantes”, contou. Já em relação às mudanças climáticas, contou que tem observado que a cada ano, o período de chuvas tem sido alterado. “Mudou bastante. Hoje, não temos época de chuva definida”, salientou.

O músico de hip hop Lucas de Morais Marinho Oliveira, o Marinho MC, tem cultivado as raízes fortes da ancestralidade | Foto: Edmar Wellington

O músico de hip hop Lucas de Morais Marinho Oliveira tem cultivado as raízes fortes da ancestralidade. Como neto de Dona Flor, respeitada parteira da região, hoje assumiu o bastão da avó e reconhece a importância da sabedoria ancestral. Até a pandemia, o músico, conhecido como Marinho MC, que era professor de educação física em colégio militar em Brasília, se dividia entre a cidade e o quilombo, até que enxergou a necessidade de voltar para as raízes. Atuando como produtor cultural, tem auxiliado a comunidade com os conhecimentos em tecnologia e produção cultural.

Consciente da importância do pertencimento, faz das rimas musicais sua ferramenta para chamar a atenção para os cuidados em relação às mudanças climáticas.

Convivência harmoniosa

Para o gerente adjunto de Políticas Públicas do Sebrae Nacional, Fausto Keske, a vivência trouxe reflexões profundas sobre a preservação ambiental. “Tem sido uma experiência sensacional. Essas comunidades têm muito a ensinar nesse momento de mudança climática, com sua ancestralidade e convivência harmoniosa com a natureza. Aprendemos que, se fizermos uma escuta ativa dessas comunidades, podemos ter um planeta mais saudável e que sustente a vida humana por mais tempo. Um futuro para a humanidade passa pelo pequeno negócio, e o Sebrae precisa trabalhar fortemente para que isso aconteça”, ressaltou.

Fausto Keske, do Sebrae Nacional: vivência trouxe reflexões sobre preservação ambiental e empreendedorismo | Foto: Edmar Wellington

O gerente da Regional Entorno do DF/Nordeste do Sebrae, Cléber Chagas, avaliou a experiência dos dois dias de encontros como extremamente positiva. “A gente teve a oportunidade de conhecer experiências muito bacanas de turismo de base comunitária, em algumas situações com organização colaborativa, em outras destacando o empreendedorismo familiar”, salientou.

Para Cléber, a cultura representa um ativo muito importante dentro do negócio turístico. Os saberes dos antepassados e a história das comunidades são dois dos vários elos que se conectam e oportunizam a oferta de um turismo cada vez mais completo e significativo no aspecto sociocultural, para muito além do que todo turista pensa em relação à Chapada dos Veadeiros. “Chapada não é só cachoeira e trilha, é vivência, é turismo de base comunitária, é agricultura familiar e todos elementos que trazem uma diversidade e uma riqueza muito grande”, destacou.

O gerente regional Cléber Chagas: experiência extremamente positiva para aprofundamento na realidade territorial | Foto: Edmar Wellington

Na avaliação do gerente, “com foco em ter um manifesto para a COP30, o cenário da Chapada é bastante estimulante, com muitas oportunidades para que políticas públicas sejam pensadas e desenvolvidas, somando com o que a gente já tem, com o que a gente já faz e oportunizando realmente um mundo melhor para todos”.

O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Alto Paraíso, Agnaldo Araújo acompanhou o trabalho da equipe na terça-feira e avaliou que “é de extrema importância, primeiro porque dá visibilidade e valoriza a comunidade, em um momento de resgate das tradições e da cultura”, destacou.

O secretário Agnaldo Araújo: visibilidade e valorização da comunidade em um momento de resgate das tradições | Foto: Edmar Wellington

Para ele, o segundo ponto relevante é que “mesmo não sendo o foco principal, traz visibilidade turística e, com ela, desenvolvimento. Estamos ofertando 12 experiências turísticas de bem-estar, história e cultura quilombola, e essa visibilidade traz retorno a médio e longo prazo”.

Por fim, o secretário afirma que representa a valorização dos personagens entrevistados. “São lideranças que fazem acontecer na comunidade, reconhecendo seu trabalho voluntário de anos”, destacou.

A comunidade do Moinho busca a sustentabilidade com organização e empreendedorismo | Foto: Edmar Wellington

Engenho II

Considerando as peculiaridades de cada comunidade, enquanto o Povoado do Moinho se destaca por um perfil com maior foco na cultura e empreendedorismo, a comunidade quilombola Engenho II, em Cavalcante, onde foram realizadas as entrevistas no dia 1º, tem como principais atividades a agricultura familiar e a recepção de turistas.

Líder comunitário Sirilo Rosa dos Santos, do Engenho II: quilombolas são guardiões da natureza | Foto: Edmar Wellington

O líder comunitário Sirilo Rosa dos Santos compartilhou a história do quilombo. Consciente das mudanças climáticas, destaca o cuidado da agricultura familiar na relação com a natureza. Além de colocar em prática conhecimento ancestrais para tentar perceber o melhor momento para plantio. Contudo, as mudanças climáticas têm colocado o conhecimento à prova. Consciente da responsabilidade que cabe à comunidade, para Sirilo, os quilombolas são guardiões da natureza.

Jorge Moreira de Oliveira, que é agricultor familiar na comunidade e condutor de turistas, além de falar sobre a importância da coletividade para todos os integrantes do Engenho II, ainda abordou a preocupação com as questões relativas às condições climáticas e a responsabilidade de cada um com o meio ambiente e o trabalho junto aos turistas para zelar pelo meio ambiente e pelos atrativos turísticos que mantêm a comunidade.

O agricultor e condutor turístico Jorge Moreira de Oliveira considera o espírito de coletividade essencial | Foto: Edmar Wellington

Por sua vez, Dominga Natália Moreira dos Santos, secretária de Turismo e Cultura de Cavalcante, também condutora, destacou a importância do senso de coletividade e do turismo de base comunitária para o quilombo. Para todos, a participação do Sebrae foi fundamental nas orientações em relação à organização do turismo na comunidade.

Empresária e líder em Cavalcante, Soledad Ramirez também observou que as mudanças climáticas têm interferido no volume de águas e a importância da conscientização.

A secretária municipal Dominga Natália Moreira dos Santos: parceria com o Sebrae para a organização do turismo local | Foto: Edmar Wellington

INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA

Na sede do Sebrae: Taissa Gracik – (62) 99887-5463 | Kalyne Menezes – (62) 99887-4106

Na Regional Central | Goiânia: Agência Entremeios Comunicação / Adrianne Vitoreli – (62) 98144-2178

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