No segundo dia dedicado à coleta de depoimentos de lideranças locais, a equipe do Sebrae Nacional esteve, nesta terça-feira (02), no Povoado do Moinho, em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros (região nordeste do estado). A programação visa ouvir experiências e levantar informações que irão compor um Manifesto de Políticas Públicas para os Pequenos Negócios, a ser lançado durante a COP30, em novembro, em Belém (PA). No dia 1º, a equipe esteve na comunidade do Engenho II, no Quilombo Kalunga, em Cavalcante.
As entrevistas tiveram como objetivo compreender o papel das comunidades tradicionais e dos pequenos negócios no enfrentamento das mudanças climáticas e no fortalecimento do turismo de base comunitária, da agricultura familiar e de práticas empreendedoras sustentáveis. Além disso, foi possível observar o sentido de pertencimento, com destaque para os saberes dos ancestrais.

No quilombo do Moinho atualmente residem cerca de 80 famílias de descendentes de quilombolas. Lucas Luiz Gomes, mais conhecido por Lucas Quilombola, é presidente da Associação Quilombola Povoado do Moinho (AQPM) e falou sobre a importância do turismo de base comunitária e destacou as principais dificuldades do povoado.
A questão da regularização fundiária do quilombo figura entre os principais problemas enfrentados pela comunidade, pois a falta do documento é impeditivo ao acesso a benefícios. Além disso, a preocupação com as mudanças climáticas também afeta a comunidade, já que a alteração do período das chuvas interfere na produção de muitos frutos usados em produtos artesanais.
Já em relação ao turismo, Lucas tem no quintal de casa a produção de rapaduras, que estão incluídas entre as 12 experiências formatadas no projeto Brasil Original. Ele também ressalta a importância do turismo receptivo do sistema de cama e café, para as famílias da comunidade.

Com vontade de ter melhores condições, Maria da Conceição Moura Gomes, que é mãe de Lucas, se destaca como empreendedora no povoado. Proprietária do Restaurante Dona Conceição, que atende por agendamento há três anos, compartilhou sobre a decisão de criar um espaço para receber turistas, atraídos pela comida caseira que produz.
O protagonismo de Conceição tem sido exemplo e agente de transformação na comunidade. Depois de aposentar-se da função de cozinheira da escola da comunidade, decidiu montar o próprio negócio. Hoje, o Restaurante Dona Conceição recebe turistas por agendamento para almoço e jantar.
Segundo ela, o turismo mudou a comunidade, porque gera trabalho que transformou não apenas a própria vida, mas a de muitas outras mulheres da comunidade que produzem artesanato. “Eu consegui montar a cozinha, trocar o telhado da minha casa e construir o espaço onde recebo os visitantes”, contou. Já em relação às mudanças climáticas, contou que tem observado que a cada ano, o período de chuvas tem sido alterado. “Mudou bastante. Hoje, não temos época de chuva definida”, salientou.

O músico de hip hop Lucas de Morais Marinho Oliveira tem cultivado as raízes fortes da ancestralidade. Como neto de Dona Flor, respeitada parteira da região, hoje assumiu o bastão da avó e reconhece a importância da sabedoria ancestral. Até a pandemia, o músico, conhecido como Marinho MC, que era professor de educação física em colégio militar em Brasília, se dividia entre a cidade e o quilombo, até que enxergou a necessidade de voltar para as raízes. Atuando como produtor cultural, tem auxiliado a comunidade com os conhecimentos em tecnologia e produção cultural.
Consciente da importância do pertencimento, faz das rimas musicais sua ferramenta para chamar a atenção para os cuidados em relação às mudanças climáticas.
Convivência harmoniosa
Para o gerente adjunto de Políticas Públicas do Sebrae Nacional, Fausto Keske, a vivência trouxe reflexões profundas sobre a preservação ambiental. “Tem sido uma experiência sensacional. Essas comunidades têm muito a ensinar nesse momento de mudança climática, com sua ancestralidade e convivência harmoniosa com a natureza. Aprendemos que, se fizermos uma escuta ativa dessas comunidades, podemos ter um planeta mais saudável e que sustente a vida humana por mais tempo. Um futuro para a humanidade passa pelo pequeno negócio, e o Sebrae precisa trabalhar fortemente para que isso aconteça”, ressaltou.

O gerente da Regional Entorno do DF/Nordeste do Sebrae, Cléber Chagas, avaliou a experiência dos dois dias de encontros como extremamente positiva. “A gente teve a oportunidade de conhecer experiências muito bacanas de turismo de base comunitária, em algumas situações com organização colaborativa, em outras destacando o empreendedorismo familiar”, salientou.
Para Cléber, a cultura representa um ativo muito importante dentro do negócio turístico. Os saberes dos antepassados e a história das comunidades são dois dos vários elos que se conectam e oportunizam a oferta de um turismo cada vez mais completo e significativo no aspecto sociocultural, para muito além do que todo turista pensa em relação à Chapada dos Veadeiros. “Chapada não é só cachoeira e trilha, é vivência, é turismo de base comunitária, é agricultura familiar e todos elementos que trazem uma diversidade e uma riqueza muito grande”, destacou.

Na avaliação do gerente, “com foco em ter um manifesto para a COP30, o cenário da Chapada é bastante estimulante, com muitas oportunidades para que políticas públicas sejam pensadas e desenvolvidas, somando com o que a gente já tem, com o que a gente já faz e oportunizando realmente um mundo melhor para todos”.
O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Alto Paraíso, Agnaldo Araújo acompanhou o trabalho da equipe na terça-feira e avaliou que “é de extrema importância, primeiro porque dá visibilidade e valoriza a comunidade, em um momento de resgate das tradições e da cultura”, destacou.

Para ele, o segundo ponto relevante é que “mesmo não sendo o foco principal, traz visibilidade turística e, com ela, desenvolvimento. Estamos ofertando 12 experiências turísticas de bem-estar, história e cultura quilombola, e essa visibilidade traz retorno a médio e longo prazo”.
Por fim, o secretário afirma que representa a valorização dos personagens entrevistados. “São lideranças que fazem acontecer na comunidade, reconhecendo seu trabalho voluntário de anos”, destacou.

Engenho II
Considerando as peculiaridades de cada comunidade, enquanto o Povoado do Moinho se destaca por um perfil com maior foco na cultura e empreendedorismo, a comunidade quilombola Engenho II, em Cavalcante, onde foram realizadas as entrevistas no dia 1º, tem como principais atividades a agricultura familiar e a recepção de turistas.

O líder comunitário Sirilo Rosa dos Santos compartilhou a história do quilombo. Consciente das mudanças climáticas, destaca o cuidado da agricultura familiar na relação com a natureza. Além de colocar em prática conhecimento ancestrais para tentar perceber o melhor momento para plantio. Contudo, as mudanças climáticas têm colocado o conhecimento à prova. Consciente da responsabilidade que cabe à comunidade, para Sirilo, os quilombolas são guardiões da natureza.
Jorge Moreira de Oliveira, que é agricultor familiar na comunidade e condutor de turistas, além de falar sobre a importância da coletividade para todos os integrantes do Engenho II, ainda abordou a preocupação com as questões relativas às condições climáticas e a responsabilidade de cada um com o meio ambiente e o trabalho junto aos turistas para zelar pelo meio ambiente e pelos atrativos turísticos que mantêm a comunidade.

Por sua vez, Dominga Natália Moreira dos Santos, secretária de Turismo e Cultura de Cavalcante, também condutora, destacou a importância do senso de coletividade e do turismo de base comunitária para o quilombo. Para todos, a participação do Sebrae foi fundamental nas orientações em relação à organização do turismo na comunidade.
Empresária e líder em Cavalcante, Soledad Ramirez também observou que as mudanças climáticas têm interferido no volume de águas e a importância da conscientização.

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