A cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio; 63% delas são negras. Três, em cada dez brasileiras, já foram vítimas de violência doméstica. A cada seis minutos, uma menina ou mulher sofre violência sexual. E, a cada 24 horas, 113 casos de importunação sexual são denunciados. Neste contexto, a história da escritora e empreendedora Cleidimar Sousa pode inspirar outras mulheres ao revelar os desafios que enfrentou para adquirir sua independência financeira e romper com o ciclo de violência.
Eu não tive a inteligência financeira de guardar qualquer quantia para mim, então eu me vi em situação de emergência, de violência e não tinha recursos para sair.
Cleidimar Sousa, escritora e empreendedora
Cleidimar compartilha sua experiência em vídeo que faz parte da campanha “Feminicídio Zero“, lançada pelo Ministério da Mulher, em agosto deste ano, e que tem a adesão de outros atores institucionais, inclusive o Sebrae. Ela afirma que se sente realizada por conseguir ajudar outras mulheres em situações semelhantes às que ela enfrentou, por meio do seu livro – “Vulnerável – Como sair de situações de vulnerabilidade e retomar o controle de sua vida”.
“Usar a dor como combustível para eu crescer. Foi a decisão que eu tomei. Independentemente daquilo que te aconteceu, ou que vier a te acontecer, não é isso que importa. O que importa é o que você vai fazer com esse acontecimento. Seguir adiante é sempre a melhor opção”, diz Cleidimar.
A escritora ainda salienta que nenhuma vítima de abuso pode ser julgada e que é importante prestar ajuda. “Nunca diga para uma vítima de abuso que ela deve ficar nessa relação, e também não julgue, porque ninguém gosta de sofrer, ninguém gosta de sentir dor, muito menos se sentir humilhada. Quando ela chegar para você pedindo ajuda, ajude. Se ela falar ‘eu preciso sair, eu preciso de um lugar pra ficar’, permita que ela fique, ouça, abrace e diga que ela não está sozinha”, complementa.
De acordo com o Sebrae, um dos apoiadores da iniciativa, o público feminino responde por 33,9% do total de empreendedores no país e cerca de 30% da base de clientes atendidos pela instituição são mulheres.
O empreendedorismo pode ser uma alternativa para interromper ciclos de violência doméstica, especialmente quando há dependência financeira.
Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional
Dentre elas, a própria Cleidimar, que apesar de ser servidora federal, também se define como uma empreendedora, já que também atua como escritora, mentora e palestrante.
O empreendedorismo é uma porta de libertação para as mulheres e as pessoas em geral, pois quem empreende tem mais capacidade de ser livre. Inclusive, a minha capacidade de empreender me fez saber que eu seria capaz de enfrentar a vida se eu saísse daquele relacionamento. Hoje mantenho a mesma mentalidade: empreender é libertar-se de tudo e todos.
Cleidimar Sousa, escritora e empreendedora
Ela também conta que tem uma história com o Sebrae desde meados dos anos 2000 quando, ainda casada, fez o curso Saber Empreendedor, aprendendo a produzir e vender produtos de limpeza e refeições.
A campanha
A campanha “Feminicídio Zero” foi lançada pelo Ministério das Mulheres em agosto, mês de conscientização pelo fim da violência contra as mulheres, o “Agosto Lilás”. A proposta do governo federal é articular e mobilizar diversos setores da sociedade brasileira em prol do direito das mulheres a uma vida livre de violência.
Ajuda
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra as mulheres. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. O Ligue 180 presta os seguintes atendimentos:
- orientação sobre leis, direitos das mulheres e serviços da rede de atendimento (Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher -Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.;
- informações sobre a localidade dos serviços especializados da rede de atendimento;
- registro e encaminhamento de denúncias aos órgãos competentes;
- registro de reclamações e elogios sobre os atendimentos prestados pelos serviços da rede de atendimento.
É possível fazer a ligação de qualquer lugar do Brasil ou acionar o canal via chat no WhatsApp (61) 9610-0180. Em casos de emergência, deve ser acionada a Polícia Militar, por meio do 190.