Ninguém empreende por acaso, mas, no caso de pequenos negócios com empreendedores negros à frente, a motivação leva em conta todas as demandas de uma coletividade. Segundo a pesquisa GEM realizada pelo Sebrae e a ANEGEPE, no seu relatório “Empreendedorismo no Brasil: cor/raça”, 77% deles iniciam um negócio para fazer a diferença no mundo, frente a 68% dos empreendedores brancos.
“Pessoas negras, ao empreender, não pensam apenas em si e no seu lucro, elas empreendem pensando na comunidade. Por isso, é comum ver mulheres negras criando negócios coletivos, lojas colaborativas ou liderando associações de empreendedores”, afirma a gestora nacional de Afroempreendedorismo no Sebrae, Fau Ferreira. “A vivência dessas mulheres possibilita a criação de negócios que não são pensados por quem vive outras realidades”, completa.

Criatividade a serviço da necessidade
De uma transição capilar a um negócio bem-sucedido, a empreendedora Jeniffer Rodrigues prosperou com a Afro Brand, empresa especializada em moda afro-brasileira contemporânea. O empreendimento nasceu em 2020, na cidade de Nova Iguaçu (RJ).
Tudo partiu de uma mudança nos próprios cabelos. Ao adotar cabelos crespos, ela buscou também algo que fortalecesse a própria identidade. A Afro Brand trabalha com moda inclusiva e diversa, atendendo a todas as mulheres, independente de raça, idade, estatura, peso ou classe social.
Empreender no Brasil é um ato de coragem. Os desafios são muito grandes, desde o custo de produção à burocracia. Para mim, a virada de chave foi conhecer o Sebrae, porque ele me ajudou muito no início, meu recomeço com a Afro Brand.
Jeniffer Rodrigues, empreendedora
Em 2022, a empreendedora ingressou no Projeto SIGA Varejo de Moda, do Sebrae/RJ. Ela participou de capacitações, consultorias e mentorias, além de obter dicas sobre a disciplina necessária para uma boa gestão. “Eu vejo que o empreendedorismo negro está crescendo no Brasil. É notório e, além de ser potente, é inspirador. Cada vez mais as pessoas estão transformando suas vivências em negócios com propósito”, analisa a empreendedora.

Desafios estruturais
“O maior desafio é ter um faturamento maior e recorrente para que os negócios se tornem sustentáveis. Além disso, mulheres negras têm maior dificuldade de acesso a crédito por geralmente não possuirem as garantias solicitadas pelas instituições bancárias”, lembra Fau Ferreira.
Mesmo assim, negócios como da Jeniffer alcançam sucesso e atraem até atenção internacional. A AfroBand já realizou vendas para os Estados Unidos e rompeu seus limites geográficos de atuação, além de incentivar uma moda voltada para o pertencimento e a identidade negra.
“Estamos ocupando novos lugares, estamos rompendo fronteiras, criando nossos próprios espaços, conquistando os nossos clientes. O nosso brand é cada dia mais firme dentro da nossa identidade, mostrando que o empreendedorismo negro, acima de tudo, é sobre autonomia, pertencimento e transformação coletiva”, avalia.

