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Da Catação à Cidadania: A Luta de Milhões

Artigo do presidente do Sebrae destaca a importância dos catadores e catadoras do Brasil
Por Décio Lima, presidente do Sebrae
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A voz firme podia ser ouvida de longe. Um discurso espontâneo, de quem conta a própria história. Coisa de quem viveu, na pele, a luta pela sobrevivência.

“Eu quero ser vista como uma mulher empresária e incluída. Eu quero dar passos muito mais longos, mas, para isso, a minha profissão de catadora precisa ser respeitada.”

Claudete Costa fala com firmeza — é dona de uma causa e de um propósito que, ao mesmo tempo, lhe traz indignação e a enche de orgulho.

Ao falar sobre si, explica sua origem e o retrato de uma vida de lutas. Aos 10 anos de idade, começou a catar material reciclável à noite e, durante o dia, vendia doces para contribuir com a renda da mãe, que trabalhava como camelô no centro da cidade.

Mulher, negra, moradora de uma comunidade no Rio de Janeiro, a infância foi em situação de rua com a mãe e dois irmãos. Claudete enfatiza que sua vida é sinônimo de “superação”. O sustento da família e o pão de cada dia na criação de seus três filhos só foram possíveis com o trabalho de catação.

Claudete representa milhões de brasileiros e brasileiras que tornam o mundo mais sustentável. São profissionais da reciclagem que somam mais de 20 milhões de pessoas no mundo — cerca de 4 milhões na América Latina e mais de 800 mil no Brasil. Cerca de 31,9% dos municípios brasileiros ainda utilizavam lixões como unidade de disposição final de resíduos sólidos (IBGE).

Os dados mostram que cada brasileiro produz, em média, cerca de um quilo de lixo por dia: alimentos, plásticos, papelão, vidro, metais, roupas, calçados e equipamentos eletrônicos. Essa produção, somente em 2023, seria suficiente para encher dois mil estádios do Maracanã, segundo cálculos da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).

A luta dos catadores não é apenas econômica, mas também de valores. Catadores são seres humanos que viabilizam o sonho da sustentabilidade. São os que acordam cedo e, com seu trabalho, concretizam a economia circular.

Estão nas ruas, às margens dos rios, nas avenidas e nos mais diversos espaços urbanos. São essas pessoas que cuidam do que sobra, que não deixam os restos no chão — que cuidam do pós-consumo, como afirmou a própria Claudete.

Somente nesta gestão, o presidente Lula assinou dois decretos em favor dos catadores de recicláveis e reutilizáveis: o Programa Diogo Sant’ana Pró-Catadoras e Catadores para a Reciclagem Popular — recriação do antigo Programa Pró-Catador, extinto pelo governo anterior — e a instituição de três novos instrumentos: o Certificado de Crédito de Reciclagem, o Certificado de Estruturação e Reciclagem de Embalagens em Geral, e o Crédito de Massa Futura.

O Sebrae se soma a esse esforço e, por meio do Projeto Pró-Catadores, irá atender 6.770 catadores e 335 cooperativas, inseridas no conceito de economia circular. Em nível nacional, o projeto já está presente em 17 estados brasileiros, abrangendo todas as cinco regiões do país.

Seja no Cerrado, nos pampas gaúchos, na floresta Amazônica, no Pantanal ou nos grandes centros urbanos, não podemos renunciar ao compromisso de construir um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil.

Os catadores prestam um serviço essencial para que a reciclagem aconteça e para reduzir a quantidade de lixo encaminhada a aterros — mas, ainda assim, não são remunerados por isso. Com esse projeto, o Sebrae atua para levar dignidade a esses profissionais e garantir um mundo mais sustentável.

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