A economia prateada movimenta no Brasil algo em torno de R$ 1,6 trilhão ao ano, segundo estimativas de consultorias em consumo e tendências de mercado. Esse segmento leva esse nome porque é formado pelo público acima dos 60 anos de idade, a chamada Geração 60+, e faz alusão aos cabelos grisalhos. Para ajudar pequenas e médias empresas a atenderem as demandas desse nicho de cliente, mais maduro e exigente, a Vida Criativa – Clube da Longevidade está lançando um guia com orientações para os empreendedores que querem trilhar por esse caminho.
O e-book “Economia Prateada – como converter a longevidade em oportunidades de negócio” está à venda no link da Bio do Instagram da Vida Criativa – Clube da Longevidade -(@clube.vidacriativa) nas plataformas de vendas de publicações digitais mais populares do mercado. A psicóloga Vanessa Fagá, uma das sócias da Vida Criativa, explica que a ideia de produzir o guia surgiu após ela e a sócia Evelyne Enoque Cruz identificarem a necessidade de alertar as demais empresas sobre o poder da economia prateada.
“A economia prateada, na verdade, não é uma tendência. Ela já é hoje um dos maiores mercados no país em termos de produtos e serviços, e, no entanto, são poucas as empresas que já despertaram para o poder de consumo, de compra que tem essa geração. Muitas marcas ainda se voltam para as gerações mais novas, que ainda não detém renda. E esse pessoal com mais de 60 anos de idade hoje, 63% deles ainda sustentam as suas famílias”, afirma.
“A ideia [de fazer a publicação digital] surgiu exatamente para mostrar a tantas outras pequenas empresas o poder que tem a economia prateada, quais as vantagens de fazer parte desse mercado, mas que ao mesmo tempo é um mercado muito específico. Porque você tem tanto o envelhecimento ativo da população, como também tem outras pessoas que envelhecem e precisam de cuidados um pouco maiores. Mas os dois lados dessa moeda têm muita oportunidade de negócio”, alerta Fagá.
Expertise
A empreendedora fala com base na própria experiência. Em 2019, ela e a sócia criaram a Vida Criativa – Clube da Longevidade, que nasceu com o propósito de gerar ocupação criativa para o público da terceira idade. Nesse caminhar, Fagá e a sócia mergulharam no mundo da Geração 60+, nas suas necessidades, naquilo que as pessoas dessa faixa etária não encontram tão facilmente no mercado.
“Recebemos muitos depoimentos falando sobre como eles [os clientes acima de 60 anos] estão habituados a serem atendidos em alguns locais e se tornam muito fiéis, já que não encontram alguns produtos no mercado. E como desde o começo a gente decidiu buscar pequenas empresas parceiras, pra gente poder fazer uma grande rede de pequenas empresas aqui em Alagoas que pudesse prestar serviços diferenciados, um olhar diferente na cidade sob essa geração, então decidimos fazer essa publicação”, conta.
Segundo ela, o e-book é um guia prático que apresenta o perfil desse novo envelhecer da população. Traz números, mostra o poder de compra e quais são as intenções de compra desses consumidores.
“Listamos mais de 40 oportunidades de negócios para quem quer empreender nesse mercado prateado, e então a gente passa a listar como fazer isso. Como se adaptar, como treinar a equipe, como modificar o ponto de atendimento, como adequar o seu serviço”, explica Fagá. “Ele é um guia prático, no formato de e-book. A ideia nossa é realmente fazer com que mais e mais pequenas empresas possam despertar para o poder e as oportunidades que residem na economia prateada”, completa.
Vanessa Fagá destaca que os empreendedores não devem deixar a oportunidade passar para abrir um negócio que acolha e atenda ao público 60+. Ela lembra que a população vai continuar envelhecendo, a pirâmide etária praticamente já se inverteu.
“Hoje ela já é um pião e isso se dá porque não só a gente está vivendo mais, como o brasileiro também está tendo menos filhos. A taxa de natalidade está diminuindo. E isso não vai cessar, muito pelo contrário. Os números mostram que isso vai se ampliar nas próximas décadas”, observa.
Percepção aguçada
O empresário Thiago Falcão, proprietário do restaurante Mestre Cuca, em Maceió, é um exemplo de que é preciso também estar atento ao público que frequenta o seu negócio. No caso dele, a percepção veio de forma não intencional.
“Tudo aconteceu de forma muito natural. Na maneira em atender, no cuidado junto a essas pessoas que exigem tanto uma atenção maior em relação a uma conversa, simpatia e proximidade, quanto em algumas pequenas ações. Se dispor em levar uma xícara de café [até o cliente], por exemplo. Como trabalho com sistema self service, um auto serviço, presume-se que o garçom não vai fazer esse papel. Mas lá [no Mestre Cuca], a gente dá um pouquinho desse papel. Em alguns casos monta até mesmo o prato do cliente, com ele informando o que precisa, o que ele quer”, conta.
Ele credita a essas pequenas ações – mas enormes aos olhos dos clientes – o fato de o restaurante passar a registrar um fluxo maior do público acima de 60 anos.
“No final tornou-se uma grande família. Hoje as pessoas vão lá, usam o lugar como um ambiente de convívio com outros senhores, outras senhoras, pessoas de idade menor, enfim, como se o restaurante fosse um quintal da casa delas”. E é no período da noite que esse público se reúne em maior número. “Geralmente são pessoas que moram só, ou o marido e a mulher, e que encontram no local um ambiente de convivência e descontração”, completa.
A gerente da Unidade de Soluções e Inovações do Sebrae Alagoas, Liza Bádue, pontua algumas demandas desse público e que o empreendedor precisa estar atento. Ela destaca que é o tipo de cliente que consome bem, com autonomia nas decisões e que procura sempre por qualidade.
“É um grande nicho. São consumidores maduros. São consumidores provedores das famílias e que por isso definem o tipo de consumo. Gostam de qualidade, prezam por presteza e atendimento personalizado. Gostam muito da empatia, não gostam de ser tratados como crianças, pois não são. A perspectiva de vida aumenta e esse público é um grande consumidor. Consumidor de alto valor agregado”, observa.
O campo de serviços, por exemplo, é uma oportunidade a ser explorada. É preciso pensar na mobilidade urbana, profissionais que possam trabalhar acompanhando esses grupos, programas de lazer baseado em cultura, viagem e serviços para qualidade de vida desse público acima dos 60 anos.
“Para além de atividades físicas, são serviços de acolhimento, trabalhar memória, tecnologia. Pessoas que possam ensinar novos conhecimentos como tecnologias e inteligência artificial e internet das coisas, tudo que possa garantir uma melhor qualidade de vida para essa turma da economia prateada”, explica Liza Bádue.
“O mais importante é saber que eles são grandes consumidores. Maduros. Precisam de serviços que usem o tempo deles com foco na ocupação de suas vidas com qualidade e felicidade. Buscam algo que os mantenham com a mente em movimento”, completa.
Mercado em AL e mundo afora
No Brasil, em geral, a longevidade ainda tem um campo vasto de oportunidades. Há estudos que falam que o Brasil é o país que envelhece mais rápido no mundo, ou seja, é preciso ter pressa em atender as necessidades desse público.
“Precisamos estudar mais e aprender com países mais arrojados como Japão e outros. Essa preocupação tem que ser genuína, com foco em impacto social. O Brasil ainda tem uma cultura baseada no culto à juventude e isso pode confundir ou se misturar com preconceito. Temos muitas oportunidades”, analisa Bádue.
“Em Alagoas, percebemos um movimento através de empresas de serviços, mas, como disse antes, ainda temos um vasto campo de oportunidades e só atingiremos o caminho da assertividade se construirmos esse caminho ouvindo o público desse segmento”, enfatiza a gerente do Sebrae Alagoas.