ASN Nacional
Compartilhe

Afroempreendedorismo cresce atuação no Brasil

No mês de comemoração ao Dia da Nacional da Consciência Negra, o empreendedorismo negro também representa a luta por igualdade, respeito e representatividade
Por Redação
ASN Nacional
Compartilhe

Símbolo de luta, resistência, cultura e história, forjado sob o signo da valentia de um homem reconhecidamente representativo ao povo preto. Assim, Zumbi dos Palmares referenciou pesquisadores a instituírem o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Em comemoração à data, trouxemos a história de um empresário que trabalha com o empreendedorismo negro que, por meio dos seus produtos, exaltam a representatividade da Cultura Afro e o combate ao racismo. O exemplo é a Lassana Moda Africana, do Recife, que tem origem senegalesa.

Vindo do Senegal para o Brasil, o estilista e costureiro Lassana Mangassouba, proprietário do negócio que leva o seu nome, costura desde os 15 anos de idade. Diferente de países mais conservadores, no Senegal, tradicionalmente são os homens que costuram, isso fez surgir o interesse em Lassana. Produzindo e criando modelos de roupas africanas, surgiu o primeiro ateliê do empreendedor, na cidade de origem, Dakar, até a sua vinda para o Brasil, em 2015.

Chegando a morar em São Paulo e Rio de Janeiro, foi no Recife que o empreendedor decidiu ficar de fato, e se apaixonou logo pela cidade. “Conheci um amigo em Recife e em dezembro vim conhecer a cidade. Amei o povo recifense, me senti em casa e permaneço aqui até hoje”, declarou. A Lassana trabalha com turbantes, camisas, vestidos, saias e demais roupas que trabalham a essência da cultura afro: coloridas, símbolos geométricos e confortáveis, representando a leveza do seu povo.

Durante o momento mais rígido do isolamento na pandemia, Lassana buscou se reiventar com produtos úteis no combate ao coronavírus, como máscaras protetoras, jalecos, toucas e turbantes, além de oferecer os serviços em domicílio. Para isso, ele contou também com a ajuda do Instagram e Facebook. “As redes sociais têm me ajudado muito a divulgar o meu trabalho. É através dela que consigo chegar mais rápido nos clientes e apresentar o que tem de mais lindo da cultura africana presente nas roupas. Procuro sempre apresentar a história dos tecidos e a modelagem original da África, assim, consigo dá valor ao meu produto. E ainda tem os momentos de interação e de troca com os clientes“, contou o empreendedor.

Com inspiração nas duas culturas, brasileira e africana, Lassana cria um mix, trazendo um pouco da história dos dois países com tecidos que, por si só, têm essas modelagens e as tendências. Referindo-se ao Dia Nacional da Consciência Negra, o empreendedor exalta o momento: “É uma data muito importante onde todos os olhos estão voltados para o povo preto valorizando sua cultura e suas lutas”.

Para Lassana, as suas criações emanam representatividade, lembrança das origens africanas e o empoderamento no combate ao racismo estrutural do mundo e, principalmente, do Brasil. “Muitos clientes falam sobre o que as roupas africanas representam. Quando realizo desfiles, consigo perceber os sentimentos dos modelos ao usar a roupa e sentirem-se reis e rainhas, isso é muito importante para que eles se lembrem que são descendentes de reis e de rainhas africanos”.

Empreendedorismo Negro no Brasil

Embora longe do ideal e sem apagar a realidade da maioria das pessoas negras, a taxa total de empreendedores (TTE) no Brasil entre pretos ou pardos é maior do que a de brancos, de acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro da qualidade e produtividade (IBQP), Sebrae e GEM 2019. São 39% de empreendedores totais, 23,1% de empreendedores iniciais, 15,7% de novos empreendedores, 8,1% de nascentes e 16,5% de empreendedores estabelecidos pardos ou pretos. Enquanto a de empreendedores brancos chegam a 37,8%, 23,6%, 16,1%, 7,9% e 15,2%, respectivamente.

Por outro lado, outros indicadores da mesma pesquisa mostram que 27,1% dos empreendedores negros empreendem/começam um negócio por necessidade, ou seja, falta de emprego; enquanto, outros (1,3%), dizem empreender para “fazer a diferença no mundo”. Na parte da renda, o estudo da GEM e Sebrae 2019, 20% dos pretos ou pardos ganham mais de 2 até 3 salários mínimos, 22% recebem mais de 3 até 6 salários mínimos e 8% ganham mais de 6 salários mínimos.

Em relação ao total de empreendedores pretos ou pardos da TTE, os que buscam a ajuda de órgãos de apoio somam 12,8%. Desse total, 70,4% deles procuram, prioritariamente, o Sebrae, seguido do Senac com 10,6%, e o restante procura demais unidades apoiadoras e consultoria privada. 

Data comemorativa

A data foi criada em 2003, mas foi apenas incluída no calendário escolar, sendo oficialmente instituída em 10 de novembro de 2011, pela lei nº12.519. O Dia Nacional da Consciência Negra é feriado em aproximadamente mil cidades do Brasil e em cinco estados, por meio de decretos estaduais, são eles: Alagoas, Rio de Janeiro, Amapá, Mato Grosso e Amazonas. Nesse dia, as questões de racismo, igualdade social, descriminação, a inclusão do negro na sociedade brasileira, bem como a da cultura afro-brasileira são amplamente difundidas e debatidas.