Em São Bento Abade, no sul de Minas Gerais, a Padaria Delícias do Trigo funciona há quase 11 anos. Ao longo do tempo, o pequeno empreendimento se tornou mais do que um ponto de venda de pães, bolos e biscoitos no município de cinco mil habitantes. Sob comando de Marisa e Jéssica Souza, mãe e filha respectivamente, o estabelecimento mantém viva a tradição mineira das quitandas ao mesmo tempo que se conecta com os novos tempos.
“Minha vó era quitandeira e minha mãe também tem esse dom para produção de quitutes que resgatam a memória. A rosca caseira, o pão de queijo e o biscoito de polvilho seco são os carros-chefe da nossa padaria. São receitas de família com fabricação própria”, conta Jéssica. O pequeno negócio saiu do papel após os produtos ganharem fama na cidade quando Marisa ainda produzia em casa.
Começamos num ponto pequeno sem muita estrutura e fomos ampliando de acordo com a necessidade. Conseguimos um financiamento pelo Fampe para fazermos benfeitorias e com apoio do Sebrae, desde então, mudamos nossa visão sobre gestão.
Jéssica Souza, empreendedora
Hoje o estabelecimento funciona como padaria e mercearia onde é possível encontrar de tudo. “As pessoas compram um pão, mas também o pó do café. Encomendam um bolo e já levam a vela, os pratinhos, talheres e balões. Oferecemos essa praticidade diante da correria do dia a dia”, explica.
Dessa forma, a Delícia do Trigo consegue se diferenciar da concorrência e atrair clientes de fora da cidade. Nos finais de semana, vira um ponto de encontro para motociclistas, praticantes de rally e ciclistas que circulam pela região. “Muitos fazem uma pausa por aqui para descansar e confraternizar. Estou até pensando em oferecer um buffet de café da manhã em breve”, revela Jéssica.

A empreendedora também aposta em recursos digitais para se aproximar dos clientes. “Praticamente revolucionamos o mercado como o primeiro estabelecimento que recebe encomenda pelo Whatsapp. Isso não existia por aqui. Os pedidos de cestas de café da manhã são feitos digitalmente”, frisa.
O analista de Competitividade do Sebrae Nacional, Bruno Lopes, explica que a transformação do modelo de negócios das padarias pode ser analisada na perspectiva da mudança no comportamento do consumidor.
A busca não é apenas pela aquisição de um bem/serviço, mas principalmente por toda a experiência atrelada à compra, tais como momentos agradáveis, ambiente acolhedor e a história por trás da marca e dos produtos ali comercializados.
Bruno Lopes, analista de Competitividade do Sebrae Nacional
Segundo ele, soma-se a isso a otimização do tempo e valorização da conveniência. “Um local onde é possível realizar várias atividades, como fazer refeições rápidas, trabalhar ou encontrar amigos sem precisar se deslocar para vários lugares”, complementa.
O setor de padarias e confeitarias soma mais de 179 mil unidades no Brasil e representa quase 15% do food service nacional, se consolidando como um dos negócios mais dinâmicos e estratégicos do país. É o que aponta relatório inédito desenvolvido pela Wise Sales, plataforma de inteligência de mercado especializada no setor de Food Service, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).
De acordo com o estudo, o setor apresenta um retrato diverso pelo país, o que reforça a necessidade de estratégias regionalizadas. “Respeitar essas diferenças e, ao mesmo tempo, oferecer inovação e conveniência, é a chave para fidelizar clientes em escala nacional”, recomenda a ABIA.

O especialista do Sebrae Nacional acrescenta que o futuro do setor de panificação no Brasil deve ser marcado por inovação, sustentabilidade e personalização da experiência do cliente. “Na sustentabilidade, destacam-se as embalagens biodegradáveis ou retornáveis, redução do desperdício e parcerias com produtores locais e cadeias curtas de abastecimento”, destaca Lopes.
No que se refere à inovação, ele lembra que os empreendedores devem focar no uso de tecnologias inteligentes para gestão de estoque, controle de produção, pagamentos e atendimento, além dos sistemas de pedido online.
Quanto à experiência do cliente, Lopes pontua que há tendências que apontam para o resgate da panificação artesanal, oferta de produtos funcionais, veganos, sem glúten ou sem lactose e, especialmente, a diversificação dos serviços. “São modelos de negócios oferecidos como padarias-cafés, padarias-restaurantes, padarias-bistrôs e até dark bakeries que são sem salão com apenas delivery”, exemplifica.

