O que é sucesso para um empreendedor? Para quem está habituado a ouvir como resposta uma associação direta com resultado financeiro e crescimento rápido da empresa, não vai encontrar entre os donos de pequenos negócios do setor de serviços um partidário dessa visão. Como revela a Pesquisa Serviços 2025 – Qualitativa e Quantitativa, que o Sebrae acaba de realizar, ao contrário da narrativa dominante do “crescer rápido, escalar e lucrar”, os pequenos empreendedores brasileiros do setor de serviços revelam uma visão mais sensível, estável e humanizada de sucesso.
Nas entrevistas qualitativas realizadas pelo Sebrae com empreendedores de seis estados, a repetição de palavras como “equilíbrio”, “propósito”, “qualidade de vida” e “liberdade” superou expressões como “escala”, “crescimento acelerado” ou “maximização de lucro”. Os estudos, que têm como objetivo compreender o panorama atual do setor de serviços no Brasil, mostra que o conceito de sucesso entre empreendedores do setor de serviços está mais alinhado ao propósito, à autonomia e à estabilidade do que ao lucro acelerado.

Para muitos, o sucesso está em construir um negócio alinhado ao estilo de vida e à identidade pessoal, com capacidade de sustento e continuidade, mesmo que em pequena escala. Esse dado dialoga com os resultados da pesquisa quantitativa: a autonomia para tomar decisões e a liberdade de tempo e criação aparecem entre as principais motivações para empreender. Menos de um terço dos respondentes apontaram o “crescimento rápido” como um objetivo prioritário.
“Essa tendência reflete o que economistas e sociólogos já chamam de ‘microempreendedorismo existencial’: o ato de empreender como forma de dar sentido à própria trajetória, não apenas como um vetor de crescimento econômico”
Eúde do Amor, analista de Competitividade do Sebrae
As afirmações dos empreendedores participantes da pesquisa qualitativa corroboram esse pensamento. Em São Paulo e Minas Gerais, sucesso foi associado a reconhecimento e reputação, sobretudo pela fidelização de clientes e indicações. No Rio de Janeiro, participantes enfatizaram ser referência local e construir estabilidade em um mercado competitivo. “Para mim, é ser reconhecida como referência no meu bairro”, avaliou uma microempreendedora do Rio de Janeiro, participante da pesquisa.
O apoio do Sebrae, por meio de consultorias e cursos, apareceu como fator transformador, ajudando a profissionalizar a gestão e a conquistar credibilidade. Essa concepção mostra que, para os pequenos empreendedores, sucesso não está apenas no lucro, mas em equilibrar sustentabilidade financeira, qualidade de entrega e reconhecimento da comunidade.
No design de serviços, os resultados das pesquisas reforçam a importância de modelos de negócio sustentáveis, coerentes com o propósito de vida. O termo – design de serviços – é um campo de criação em que se busca entender as necessidades das pessoas para desenvolver serviços que sejam ao mesmo tempo encantadores para os usuários e eficientes para as empresas, envolvendo a análise de todos os pontos de contato e processos do serviço.
Insights estratégicos
O Sebrae entende que, para o seu trabalho de desenvolvimento do empreendedorismo no país, a compreensão em profundidade do pequeno negócio do setor de Serviços traz novos elementos na construção de suas ações. Entre as análises realizadas, as pesquisas aparecem como impactantes para a adaptação de metodologias de gestão ao ritmo e valores dos pequenos negócios, bem como para o estabelecimento de políticas de incentivos e práticas de design de serviços baseadas em propósito e jornada do empreendedor.
Os analistas da entidade entendem ser também importante a promoção de modelos de crescimento sustentável, respeitando as decisões de escala e estilo de vida, estimulando o conceito de lucro compartilhado e valor relacional como parte da performance do negócio.
Tudo isso deve ter como base alguns conceitos importantes identificados nas pesquisas:
- Pequenos empreendedores valorizam mais a autenticidade do que a expansão agressiva.
- “Sucesso” é percebido como autonomia, estabilidade e propósito de vida.
- O lucro é desejado, mas não como fim em si — e sim como meio de viabilizar uma jornada significativa.
- A maioria não deseja competir com grandes empresas, mas construir seu próprio espaço com identidade.