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Empreendedorismo indígena, ribeirinho e quilombola impulsiona a preservação da Amazônia

No Dia da Amazônia, conheça histórias de comunidades tradicionais que unem cultura, sustentabilidade e inovação para gerar renda e fortalecer a floresta
Por Aline Brelaz e Camila Fernandes
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Protagonistas da floresta, os povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas que habitam o bioma amazônico provam, na prática, que desenvolvimento e preservação podem caminhar lado a lado. Neste 5 de setembro, em que se comemora o Dia da Amazônia, conheça histórias de empreendedores que vêm transformando saberes ancestrais em negócios sustentáveis.

São pessoas que, com suas atividades produtivas, reduzem impactos ambientais e promovem a recuperação florestal, enquanto garantem renda e qualidade de vida.

Os povos da floresta são guardiões da Amazônia. Fortalecer o empreendedorismo dessas comunidades é fortalecer o futuro do planeta.

Décio Lima, presidente do Sebrae

O empreendedorismo brasileiro é referência mundial quando o assunto é sustentabilidade. De acordo com o Monitor Global de Empreendedorismo (GEM 2024), os empreendedores do Brasil estão à frente de 120 países na adoção de medidas para reduzir impactos ambientais. Entre os negócios iniciantes — com até 3,5 anos de atividade —, 90,2% tomaram providências nesse sentido, principalmente em economia de energia e gestão adequada de resíduos sólidos. Conheça histórias de quem garante que a floresta em pé é mais rentável do que devastada.

Frutos da andiroba garantem o sustento da Associação de Mulheres Extrativistas da Ilha do Combu (AME) | Foto: Divulgação

Ribeirinhas extrativistas mantêm a floresta viva e produtiva

No quintal da família de Iracema Teles (foto), na Ilha do Combu, região sul de Belém (PA), as mulheres ribeirinhas garantem frutos de andiroba de abril a setembro. Na Associação de Mulheres Extrativistas da Ilha do Combu (AME), a produção do óleo do fruto – utilizado pelos indígenas para cura de doenças inflamatórias e de pele – é artesanal e segue princípios de manejo consciente. Parte das sementes é deixada no solo para regenerar a floresta. O óleo de andiroba, valorizado pela indústria de biocosméticos, rende de 30 a 40 litros por mês.

Para ampliar  o alcance da atividade, o grupo recebeu capacitação do Sebrae e da Universidade Federal do Pará, aprendendo a transformar a matéria-prima em sabonetes, repelentes e hidratantes. O trabalho gera renda, preserva a floresta e fortalece o protagonismo feminino. O produto é comercializado para pequenas empresas de biocosméticos regionais, como a Bioilha, parceira das mulheres extrativistas para a fabricação dos produtos.

Artesanato produzido na Associação NACIB | Foto: Divulgação

Indígenas fazem do artesanato vetor de desenvolvimento

No coração da Amazônia, em Barcelos (AM), o artesanato indígena, impulsionado pelo Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB), transcende a produção de objetos para se tornar vetor de empreendedorismo que integra a preservação cultural e ambiental.

Ao reunir artesãos de diversas etnias do Alto Rio Negro, a associação não apenas gera renda e autonomia para as comunidades, mas garante a perpetuação de saberes ancestrais e de técnicas de manejo sustentável de matérias-primas. Mais do que um modelo de negócio, é um ato de resistência e testemunho de que a floresta viva é a fonte de inspiração e subsistência.

A extração de matéria-prima diretamente da natureza é realizada com respeito aos ciclos naturais, assegurando que a extração não comprometa a biodiversidade. Em parceria com o Sebrae, a associação também expõe seus produtos em feiras e iniciativas no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), abrindo mercados nacionais e internacionais e se consolidando como modelo de economia solidária.

Assim, o empreendedorismo tece um futuro mais justo, próspero e equilibrado para a Amazônia e seus guardiões, mostrando que as mãos que trançam também carregam a história, o território e a identidade de um povo.

Comunidade quilombola de Moju-Miri transformam o açaí de várzea em sustento | Foto: Divulgação

Quilombolas de Moju-Miri geram renda com açaí beneficiado e conquistam mercados

Na comunidade quilombola de Moju-Miri, Pará, Suely Cardoso (foto), de 47 anos, lidera 75 famílias que transformam o açaí de várzea em um pilar de resistência, renda e preservação cultural. Este fruto nativo não só sustenta a comunidade, mas gera renda significativa e simboliza a luta pela agroecologia e a manutenção das tradições.

A comunidade também cultiva cacau e outras frutas regionais, demonstrando um manejo diversificado e sustentável dos recursos naturais. Durante a safra, entre julho e novembro, a produção pode chegar a 100 latas de açaí por dia, garantindo em média R$ 3 mil por família a cada mês.

Com o apoio de instituições como Senar e Sebrae, a Associação de Moradores Quilombolas de Moju-Miri (AQMOMI), presidida por Suely, tem fortalecido cadeias produtivas e formalizado negócios, superando desafios logísticos e valorizando a produção local.

Desde 2019, o grupo conquistou avanços como a criação de uma mini agroindústria para beneficiar e comercializar o açaí. A educação também é prioridade: mais de 20 jovens da comunidade cursam graduação na UFPA, entre eles a própria Suely, que estuda Agroecologia e sonha com um futuro em que o conhecimento acadêmico se converta em desenvolvimento e valorização para o quilombo.

Conheça mais sobre a GEM

O Brasil já ocupa a primeira posição na adoção de medidas para reduzir impactos ambientais há pelo menos três anos, passando na frente de países como China, Canadá e Estados Unidos em um ranking que envolve 120 países. Os dados são da recente edição da Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024, considerada a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo. No país, ela é realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe).

O Brasil também se destaca nos demais recortes do Monitor, ficando em terceiro lugar na avaliação dos empreendedores iniciais que consideraram os aspectos ambientais ao tomarem decisões sobre o futuro do negócio, com 91,1% dos ouvidos. Os brasileiros garantiram ainda a terceira colocação global por priorizarem o impacto ambiental e social do negócio acima da lucratividade ou crescimento: o resultado de 86,2% foi o melhor desde 2021, ficando atrás apenas da Índia e da Guatemala.

O presidente do Sebrae, Décio Lima, reconhece o papel das micro e pequenas empresas na inclusão social, produtiva e ambiental rumo à economia verde: “Eles, que já atuam de forma sustentável pelo próprio modo de fazer, necessitam de apoio técnico e soluções de inovação para serem ainda mais aprimorados”.

Na prática, entre as ações adotadas pelos brasileiros, 86,5% dos empreendedores iniciais buscaram, principalmente, economizar energia, enquanto 81,1% dos donos de negócios estabelecidos (com mais de 3,5 anos de operação) afirmaram cuidar dos resíduos sólidos gerados.

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