A livraria Africanidades, localizada na zona norte de São Paulo (SP) é um exemplo de resistência. Criada em 2013, a empresa é especializada em narrativas pretas, principalmente produzidas por mulheres pretas. A ideia surgiu a partir das inquietações pessoais e profissionais da sua idealizadora Ketty Venâncio, uma mulher preta, periférica, bibliotecária e pesquisadora.
“A Africanidades é meu lugar de cura, é onde eu encontrei meu processo de emancipação. Assim eu fomento, através desse espaço, essas vozes”, conta a empreendedora. “Lá, dialogamos com diversas linguagens artísticas, como bate-papos, oficinas, entre outros, além da literatura, pois o importante é ressaltar a cultura preta em todas as esferas”, completa.
Ketty Venâncio relata que só conseguiu chegar até aqui por conta de suas ancestralidades, familiares e amigos, que formaram uma rede de apoio para dar continuidade ao negócio.
As pessoas pretas sempre empreenderam e é importante ressaltar que foram elas que inauguraram o empreendedorismo no Brasil, com as quitandeiras, galinheiras, mulheres pretas e escravizadas. O empreender para as pessoas pretas não é apenas um cenário propício, mas uma questão de sobrevivência.
Ketty Venâncio, proprietária da livraria Africanidades.
Educação como forma de avançar
“Apesar das dificuldades historicamente enfrentadas por esse público, percebemos um avanço no afroempreendedorismo no Brasil”, avalia a diretora de Administração e Finanças do Sebrae, Margarete Coelho. Levantamento da instituição com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), mostra que, ao longo dos anos, os negros donos de negócios estão mais escolarizados, aumentando a renda e melhorando sua situação, saindo da informalidade e contribuindo em maior número com a Previdência.
A educação também para o empreendedorismo é um ponto importante levantado por Ketty Venâncio. A empreendedora reforça o peso da capacitação em sua trajetória à frente do negócio e cita cursos on-line e presenciais do Sebrae. “É um canal importante para ter conhecimento e orientações preciosas”, assegura. “Uma dica que posso dar é: ‘se capacitem e estudem para o mercado em que desejam atuar, além de frequentarem lugares onde possam fazer networking’”, orienta.
Além de mais escolarizados, também houve uma expansão no volume de empreendedores negros. O mesmo estudo realizado pelo Sebrae aponta que, nos últimos 10 anos (2013-2023), o número de empresários desse grupo subiu 22%, superando o volume de donos de pequenos negócios brancos, que registraram uma alta de 18%. Em 2013, existiam 12,8 milhões de pessoas negras donas de negócios e 11,7 milhões de pessoas brancas; já em 2023, esses valores saltaram para 15,6 milhões e 13,8 milhões, respectivamente.