Com uma tradição de 80 anos no cultivo de cafés, a família de Jonas Aparecido da Silva foi uma das pioneiras na produção dos grãos no norte pioneiro do Paraná. Parte da quarta geração de cafeicultores, ele conta que muita coisa mudou desde a conquista da Indicação Geográfica (IG), quando um grupo de produtores da região decidiu adequar as propriedades e investir na melhoria da qualidade para o cultivo de cafés especiais.
Antes, a gente produzia café sem pensar em qualidade. Hoje, os cafés especiais agregam valor à produção.
Jonas Aparecido da Silva, produtor rural
O sítio, localizado em Pinhalão, tem cerca de 50 mil pés de cafés em uma área de 16 hectares. A principal renda da família vem do café commodity, do tipo natural, já que a produção média de cafés especiais é de cem sacas de 60 quilos por ano. Mas, além do cultivo dos grãos, Silva gerencia uma torrefação na propriedade e uma cafeteria no Mercado Municipal do Capão Raso, em Curitiba, e a IG contribuiu para a valorização dos cafés.
“O café torrado e especial agregou muito valor econômico. Isso foi ótimo para a nossa torrefação”, aponta.
Hoje, a saca de 60 quilos de café commodity é comercializada a R$ 1,1 mil, em média. Já a mesma saca de café especial pode ser vendida por R$ 1,8 mil, uma variação de mais de 60%. Os apreciadores da bebida também são beneficiados, pois a certificação garante a rastreabilidade e atesta a segurança e a qualidade em todas as etapas de produção, do manejo adequado da lavoura, passando pela colheita e processamento – nas formas cereja natural ou cereja descascado -, a seleção dos grãos, até o armazenamento.
“A Indicação Geográfica certifica que temos um terroir único e diferente de todo o Brasil. As pessoas pagam pela qualidade, rastreabilidade e pelo processo cuidadoso na produção”, explica o produtor de Pinhalão.
Características sensoriais únicas
O clima subtropical e os solos vulcânicos do norte pioneiro do Paraná contribuem para a formação de características sensoriais especiais nos grãos, como notas frutadas, florais e cítricas. Premiados em concursos nacionais e internacionais, os cafés da região se destacam pela alta doçura e equilíbrio entre acidez cítrica e corpo cremoso. Os sabores e aromas remetem a chocolate, caramelo, melaço, mel, doce de leite, floral cítrico e frutado.
O cafeicultor e presidente da Associação dos Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (ACENPP), Paulo Frasquetti, lembra que a conquista da IG veio em 2012 e a associação atua como a gestora do selo. Doze anos depois, os cafés da região podem ser encontrados em diversos estados do Brasil e em países como Estados Unidos e Espanha.
O projeto é um divisor de águas, porque o Paraná era conhecido como produtor de café de má qualidade. Mostramos que o norte pioneiro é uma região favorável para os cafés especiais. A mudança trouxe um ganho a mais para os produtores.
Paulo Frasquetti, presidente da ACENPP
O Projeto de Cafés Especiais, lançado em 2006, mostrou o potencial de mercado dos grãos e revelou aos agricultores um novo modelo de produção. O Sebrae/PR está entre as instituições parceiras, envolvida no processo desde o início. O consultor Odemir Capello, afirma que o trabalho tem o objetivo de desenvolver a região a partir da produção de alimentos de qualidade. A IG trouxe visibilidade e abriu as portas dos mercados interno e externo para os cafés do norte pioneiro e agregaram valor ao produto.
“O projeto atua na valorização do território, do produto e dos produtores, e tem ajudado a divulgar o café especial do norte pioneiro, com expressivos resultados”, afirma Capello.
Próxima ao distrito de Lavrinha, a propriedade São Francisco mantém o cultivo de aproximadamente 20 mil pés de cafés em 4 hectares de área. Oconta que começou a produzir cafés especiais em 2018. Hoje, cerca de 30% da produção é de grãos selecionados. Parte é comercializada para cafeterias e o restante torrado em Londrina para venda ao consumidor final.
O Sebrae nos ajudou muito na produção de café de qualidade, que é mais viável ao pequeno produtor. Hoje, o Paraná é reconhecido pela boa qualidade de café. Antes, para fazer um café de 80 pontos era um sacrifício, hoje, temos cafés de 86 pontos [segundo a metodologia de avaliação sensorial da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA)].
Armando César Rodrigues Casimiro, administrador
A IG de cafés especiais foi concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para uma região que abrange 45 municípios do norte pioneiro do Paraná, onde 90% dos produtores são de pequeno porte. Mais informações sobre a certificação podem ser consultadas no site: https://sebraepr.com.br/origens-parana/cafes-especiais-do-norte-pioneiro-do-parana/.