O mercado da Cannabis tem crescido nos últimos anos e atraído a atenção de pesquisadores, startups e investidores pelo mundo. Somente para o uso medicinal, a estimativa é que esse mercado alcance US$ 105 bilhões, em mais 3 anos, segundo relatório feito em 2021 pela plataforma Prohibition Partners. Por aqui, o uso do canabidiol (CDB), substância extraída da planta que, ao contrário do etra-hidrocanabinol (THC), não causa efeitos psicoativos ou dependência, já é uma realidade na área da saúde, inclusive no tratamento de pets.
Embora o cultivo da planta seja proibido no Brasil, há 3 anos empresas têm sido autorizadas pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) a vender produtos à base do canabidiol. Dados do Anuário da Cannabis no Brasil 2022, produzido pela Kaya Mind, especializada em inteligência de mercado do setor, apontam que existem pelo menos 80 empresas que atuam no país. A maioria delas são pequenas e médias empresas que funcionam como importadoras/representantes, clínicas e vendedoras de produtos à base de Cannabis.
Em países onde o cultivo da planta já foi regulamentado, o potencial da planta vai muito além do uso medicinal e terapêutico. A Cannabis é utilizada pela indústria de cosméticos, moda e construção – sendo, nesses últimos casos, a partir das fibras do cânhamo, uma subespécie da planta.
Hempense
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No Brasil, a startup Hempense se dedica ao desenvolvimento e à comercialização de cosméticos à base da Cannabis e de extratos de insumos amazônicos, como o babaçu. Criada por um time de pesquisadores e estudiosos, o pequeno negócio inovador do Maranhão nasceu com o apoio do Inova Amazônia, programa realizado pelo Sebrae, para acelerar iniciativas voltadas à bioeconomia.
No ano passado, a empresa recebeu mentorias e capacitações na área de gestão, além de incentivo financeiro, por meio da bolsa sócio empreendedor, para se dedicarem integralmente ao projeto. “Conseguimos aprimorar nosso projeto, desenvolver os produtos e também entramos com o pedido de patente em nível internacional, inclusive recebemos propostas para vendê-la, mas não aceitamos”, conta Geison Mesquita, um dos sócios da Hempense.
Ele conta que a principal barreira para o crescimento do negócio é ter acesso à planta já que seu cultivo é proibido no país. Segundo ele, inicialmente a startup não tem interesse em importar a matéria-prima.
“Acreditamos que o diferencial da nossa empresa é justamente oferecer um produto agregado, potencializado com um insumo amazônico para fins cosméticos e medicinais. Nosso interesse é realmente colocar no mercado um produto que também seja reconhecido por incentivar comunidades tradicionais produtoras de babaçu”, frisou.
Entre os benefícios dos produtos da Hempense estão as propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes, capazes de atuar na regeneração celular, no combate aos radicais livres e ao envelhecimento da pele, podendo também ser utilizados para o tratamento de acne, psoríase, entre outras dermatites.
O gestor nacional do Inova Amazônia, Thyago Gatto, explica que a seleção do projeto da Hempese considerou o potencial de mercado da solução desenvolvida, grau de inovação, impacto socioambiental e qualidade da equipe. Segundo ele, para entrar no mercado da Cannabis é preciso ficar atento às restrições existentes, além de analisar toda a legislação brasileira sobre estudos e pesquisas relacionadas ao uso da planta.
“Empreender demanda esforço, dedicação e conhecimento. Para esse mercado, um aspecto a ser reforçado é a pesquisa e o desenvolvimento. São competências imprescindíveis, uma vez que é necessário estudar as potencialidades das moléculas de Cannabis e, a partir disso, desenvolver produtos, sejam eles fitoterápicos, fármacos, cosméticos ou novos materiais”, recomendou o gestor nacional.
Ele acrescenta ainda que, a depender do segmento, a pesquisa e o desenvolvimento precisam comprovar sua eficácia perante os órgãos de controle, o que demanda ainda mais investimento em P&D.
Inova Amazônia
O Inova Amazônia é uma estratégia focada em fomentar, apoiar e desenvolver pequenos negócios, startups, empreendimentos e ideias inovadoras alinhadas à bioeconomia, que tenham como premissa a atuação direta ou indireta para preservação ou uso sustentável dos recursos da biodiversidade do bioma Amazônia. A iniciativa tem como objetivo gerar novos negócios, agregar valor às empresas existentes e fortalecer o ecossistema de bioeconomia amazônico, por meio da inovação, da sustentabilidade e da conexão entre empreendedores da região e empreendedores de outras localidades.
Criado em 2021, na sua primeira edição, o Inova Amazônia contou com mais de 800 inscrições de diversos estados brasileiros – desse montante, 400 ideias foram selecionadas para a primeira fase e 230 negócios continuaram na segunda fase. A primeira edição do programa foi encerrada ao fim de 2022.
A primeira edição contabilizou resultados positivos, tais como: 17% depositaram patente; 22% receberam investimento; 31% iniciaram processo de internacionalização; 56% ampliaram equipe; 62% aumentaram faturamento; e 90% desenvolveram novos produtos.